terça-feira, 4 de agosto de 2009

Esquerda dividida: PSOL alivia Serra e a direita




O programa televisivo nacional do PSOL, apesar de divulgar iniciativas importantes como a CPI da dívida pública, e efetuar denúncias essenciais como a da recente legislação agrária pró-latifúndio, incorre em grave erro político ao não denunciar a oposição de direita, composta principalmente pelo PSDB e DEM.

O programa televisivo nacional do PSOL, em 30 de julho, apresentou como principal característica a ausência de críticas à oposição de direita, composta principalmente pelo PSDB e DEM.

Apesar de divulgar iniciativas populares e democráticas importantes como a CPI da dívida pública, e efetuar denúncias essenciais como a da recente legislação agrária pró-latifúndio, destruidora da floresta, na Amazônia, o PSOL, a meu ver, incorre em grave erro político.

Considera o governo Lula, um governo de centro, o inimigo central dos trabalhadores.

Nada mais falso. Se o governo Lula não ameaça o grande capital, está longe de ser o governo dos sonhos do grande capital.

Um governo ao estilo do de FHC, totalmente vende-pátria e privatizante, sumetido sem contratempos à hegemonia dos EUA, esse o goveno ideal do grande capital e das forças mais à direita (PSDB, DEM, PPS).

Eis a razão da campanha constante da grande mídia, Organizações Globo à frente, contra o governo Lula.

O núcleo duro da direita

O núcleo duro da direita está no PSDB, DEM, na mídia vendida (a quase totalidade da mídia); expressão política das forças sociais mais reacionárias, inimigas centrais dos trabalhadores e do povo: o grande capital imperialista e brasileiro, com destaque para o parasitismo financeiro e especulativo; o latifúndio, com destaque para sua versão moderna e predatória, o agronegócio.

O governo Lula é um governo de centro, com origem popular e democrática, obrigado por sua própria natureza a relevantes concessões populares e democráticas (por exemplo, o bolsa-família; o clima, no geral, de preservação e ampliação das liberdades democráticas; uma política timidamente desenvolvimentista - o PAC, e muito menos privatista que a de FHC, etc).

Mas o PSOL concentra o fogo no governo Lula e alivia o principal inimigo dos trabalhadores, a oposição de direita.

O poder vai muito além do governo Lula
Parte assim de uma lógica primária, considerar o governo como o responsável central pelos problemas populares, quando o real poder no Brasil vai muito além do governo Lula: está concentrado na política antipopular, antidemocrática e antinacional das gestões monetaristas do Banco Central; no domínio da economia brasileira pelo imperialismo e o conjunto do grande capital; na grande mídia.

Ao não entender, ou talvez seja melhor dizer, não poder entender isso, o PSOL, ao tomar como inimigo central o presidente Lula (cuja grande popularidade não se deve ao acaso), ao aliviar completamente a oposição de direita, corta quaisquer possibilidades de diálogo, convencimento e aliança com as imprescindíveis e amplamente majoritárias bases populares do lulismo.

No mais, o programa televisivo do PSOL mostrou os habituais personalismo e incontinência verbal de Heloísa Helena. E, momento triste, apareceu a deputada Luciana Genro - a mesma financiada nas eleições pela Gerdau, grande empresa do ramo siderúrgico beneficiária das privatizações; a mesma deputada que chegou a convocar passeata no Rio Grande do Sul em comum acordo com o movimento "Cansei", versão atualizada das marchas golpistas de 1964 -, tendo ao fundo "denúncias" da Veja, o panfleto mais virulento da extrema-direita.

E a independência da esquerda?
Pelo visto, a próxima eleição presidencial de 2010 aponta para uma aliança objetiva, consciente ou inconscientemente, da ultra-esquerda (PSOL, PSTU, PCB) com a candidatura mais reacionária, a candidatura privatizante e neoliberal do tucano José Serra, todos empenhados em bater no governo Lula.

Dado que o PC do B adere de maneira praticamente acrítica ao governo Lula, num desvio de direita, inverso ao da ultra-esquerda, a eleição de 2010 surge como ainda mais preocupante: os comunistas, e as demais forças populares, democráticas, e de esquerda, tendem a não exercer sua própria independência política, ficando a reboque de forças políticas e sociais alheias.

por Antônio Augusto, na Carta Maior

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