Para o professor Laurindo Leal Filho, o telespectador "não tem nada a ver" com a disputa empresarial travada entre Globo e Record
Quinta-feira, 13, 20h00. Abertura dos telejornais nas duas maiores emissoras do país. Começa mais um capítulo da batalha televisiva iniciada um dia antes entre as redes Globo e Record.
Para além da disputa pela audiência, o incidente desnuda o uso indevido de espaços públicos para disputas particulares. A avaliação é de Laurindo Leal Filho, doutor em ciências da comunicação pela USP (Universidade de São Paulo) e professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade.
- São duas empresas comerciais que se utilizam do espaço público - que não é delas, é da sociedade - para resolver pendências comerciais e empresariais. Isso é absolutamente incompatível com o Estado democrático.
Autor de diversos livros sobre o assunto ("A TV sob controle, a resposta da sociedade ao poder da televisão" e "A melhor TV do mundo, o modelo britânico de televisão", dentre outros), Laurindo avalia, nesta entrevista a Terra Magazine, que a disputa comercial entre os dois canais tem como ponto positivo a exposição da história de "relações promíscuas" da Rede Globo. Além de evidenciar a defasagem e a falta de legislação para o setor de telecomunicações.
O estopim da luta de foice entre os dois canais foi a publicação de reportagem com mais de 10 minutos de duração pelo Jornal Nacional na terça-feira, 11, repercutindo denúncia do Ministério Público de São Paulo que incriminou o bispo Edir Macedo e outros nove membros da Igreja Universal por formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.
No dia seguinte, o revide. Em reportagem de cerca de 15 minutos veiculada pelo Jornal da Record, a emissora - controlada pela Universal - recorreu a imagens de arquivo para vincular a Globo à ditadura militar e aos escândalos Time-Life e Proconsult. E destacou que a emissora carioca ignorou o movimento Diretas-Já, em 1984
Nesta quinta-feira, novo round, com os mesmíssimos ingredientes.
Em nota enviada a Terra Magazine, a Central Globo de Comunicação afirma que está dando ao caso Universal "tratamento equivalente" ao que deu a outros fatos jornalísticos, como a deflagração da Operação Satiagraha, em julho de 2008. A central de comunicação da Rede Record afirmou, por sua vez, que a emissora "não está atacando ninguém, apenas respondendo às acusações feitas e aos ataques que partiram da Rede Globo".
"O que o cidadão em casa tem a ver com a briga entre a empresa Record e a empresa Globo? Ele não tem nada a ver com isso", critica Laurindo. " Ele tem que receber um serviço público correto de rádio e TV, que atenda aos seus interesses e as suas necessidades Laurindo".
Confira a entrevista:
Terra Magazine - Como o senhor avalia o embate entre Globo e Record observado nos últimos dias?
Laurindo Leal Filho -Sem dúvida é uma luta pela audiência. o fato de a Record a cada momento subir mais aceleradamente no Ibope, com resultados que nunca foram obtidos desde o surgimento da Globo. Desde que ela assumiu a liderança, nunca sofreu um abalo de audiência tão grande. Essa, sem dúvida alguma, é a razão central da investida da Globo contra a Record, ampliando e amplificando a manifestação do Ministério Público contra os proprietários da Record. Essa é a realidade. Agora, o problema que me parece mais grave para o Brasil e para o setor de comunicações é o fato de que duas empresas se utilizam do espaço público, já que ambas são concessões públicas, para fazerem trocarem acusações e fazerem ataques em defesas de seus interesses empesariais.
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Terra Magazine
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