terça-feira, 28 de abril de 2009

Coreto do Jardim de Baixo; Jahu, S.P.



Foto de Rui R.

É incorreto empossar 2º colocado na vaga de cassado

Julgo muito pertinente e chega em boa hora a anunciada disposição do Supremo Tribunal Federal (STF), de julgar ainda nesse semestre - portanto, dentro de um mês ou dois meses no máximo - a norma que vem sendo posta em prática pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de substituir chefes de Executivo cassados (governadores e prefeitos) pelo segundo colocado no pleito em que se elegeu o que perdeu o mandato.

A regra já foi aplicada esse ano na Paraíba, recentemente no Maranhão, e há processos sobre mais seis governadores. Independente do nome dos governadores cassados, dos seus substitutos empossados, e dos que ainda respondem a processo - portanto, nada pessoal, nem político-partidário, é posição jurídica - sou contra a aplicação dessa norma nos moldes como vem sendo feito.

Sou contra a substituição dos cassados pelos que perderam a eleição para eles. A aplicação da norma dessa forma não leva em conta a soberania popular. Entendo que temos é que exigir do Congresso Nacional ou do STF que, havendo a cassação ou a renúncia do titular do cargo, ocorram novas eleições no prazo máximo de 90 dias.

Fora daí, é usurpação da soberania popular. E é bom que o STF decida e possa dirimir o mais rápido possível essa questão porque continuar dando o governo (governos estaduais e prefeituras) ao 2º colocado com a tese de que, anulados os votos recebidos pelos cassados, ele obteve maioria absoluta dos votos, é um atentado à democracia e à soberania popular.

Um brasileiro para ser lembrado


Neste ano o Brasil comemora o centenário do nascimento de Dom Helder Câmara. Comemora? Nem tanto, pois a melhor comemoração seria o conhecimento das novas gerações sobre a obra humana e política deste homem franzino, bem humorado, doce, gentil e firme, que fez enorme diferença na história do país, durante os anos da ditadura. E muitos jovens sequer ouviram falar dele. Esta é minha colaboração para que se interessem e busquem saber mais sobre a vida e o pensamento de um brasileiro que, mesmo não estando mais entre nós, ainda pode nos inspirar.
Dom Hélder lutou pela justiça, pelo retorno das liberdades democráticas e, principalmente, pela solidariedade ativa com os pobres e oprimidos. Foi perseguido e, depois do AI-5, até mesmo seu nome não podia ser citado nos meios de comunicação. Acusavam-no de comunista e lhe deram o apelido de "Arcebispo Vermelho", ao que ele tranquilamente respondeu: "Se eu dou comida a um pobre, me chamam de santo, mas se eu pergunto por que ele é pobre, me chamam de comunista." Ele pregava que a pobreza não resulta da indolência, mas de estruturas injustas. Costumava dizer que não se pode acusar quem tem sede de justiça: "no Nordeste, Jesus Cristo se chama José".
O que ele fez, na verdade, foi assumir radicalmente o que considerava sua missão como cristão. Foi um dos mais importante líderes religiosos brasileiros. Seu lema era a opção preferencial pelos pobres, uma das resoluções do Concílio Vaticano II (1962/1965), que renovou as práticas da Igreja Católica e abriu as portas para a intervenção social de padres e fiéis.
Nomeado arcebispo de Olinda e Recife, em abril de 1964, Dom Helder passou a ser malvisto pelo regime militar, por suas denúncias de violação de direitos humanos e pelo seu trabalho com movimentos populares. Criou as famosas Comunidades Eclesiais de Base, das quais tenho muito orgulho de ter feito parte e de ter iniciado minha participação política dentro delas, ao lado de pessoas como o Bispo Dom Moacyr Grecchi, que é referência para toda a Amazônia, como sinônimo de luta pela democracia, pela liberdade e pelos direitos humanos.
Por sua postura e prestígio internacional, Dom Hélder foi indicado para o prêmio Nobel da Paz, no início dos anos 70, e o então presidente Médici chegou ao cúmulo de mover campanha de bastidores contra a sua candidatura, mobilizando a diplomacia brasileira para promover um boicote junto ao governo da Noruega.
Mas por que era tão odiado e perseguido? Porque nunca permitiu que o calassem e sempre tomou atitudes desafiadoras e criativas. Em maio de 1969, um de seus principais assessores, Padre Henrique, foi sequestrado, torturado e assassinado. No dia seguinte, Dom Hélder reuniu dez padres e outras dez mil pessoas para acompanhar o cortejo até o cemitério, a quase 15 quilômetros de distância, no outro extremo da cidade de Recife.
Cristóvam Buarque certa vez o chamou de "santo rebelde". Santo porque levava conforto e carinho aos mais miseráveis; e rebelde porque, ao mesmo tempo, gritava contra as injustiças e queria fazer uma revolução que erradicasse os males da pobreza. Diferentemente de outros santos, ele não se conformava apenas em ajudar aos pobres, e diferentemente de outros rebeldes, cuidava dos necessitados enquanto a revolução não vinha.
Dom Hélder foi uma pessoa que sempre me emocionou. Apesar de ter formado meu pensamento social com influências marxista e socialista, o que mais me encantou, e que constitui a base da minha ideologia, é o Cristianismo. Na Bíblia, encontrei respostas para a necessidade de lutar pela justiça, para repreender a ganância dos poderosos. E Dom Hélder, acima de diferenças de credo religioso, foi um exemplo, um estímulo e uma demonstração do caráter revolucionário do cristianismo, quando o entendemos como um guia para agir no mundo. Segundo ele, "o verdadeiro cristianismo rejeita a ideia de que uns nascem pobres e outros ricos, e que os pobres devem atribuir a sua pobreza à vontade de Deus."
Ele viveu a misericórdia e o amor exatamente como Cristo disse: "Quando estava preso, tu me visitaste". E ele visitou muitos presos nas prisões da ditadura. "Quando estava faminto, tu me alimentaste". E ele alimentou muitas crianças famintas do Nordeste e por onde passou. E disse mais ainda: "Quando sentia frio, tu me acolheste; quando faltou a verdade, tu me disseste a verdade." E aí alguém perguntou: "Mas quando, Senhor, nós te fizemos isso?" E Jesus respondeu: "Sempre que fizestes a estes pequeninos, ao mais insignificante deles, a mim o fizestes."
Todas as pessoas que estão além do seu tempo passam a ser maiores do que foram no seu tempo, porque cada um de nós, de certa forma, as traz impressas nos seus sonhos e ideais. Dom Hélder tinha esperança de encontrar enormes surpresas na outra vida: "vamos descobrir, um dia, que Deus é muito mais humano que os homens."
Quando morreu, em 1999, o povo pernambucano acompanhou a pé o seu caixão, por duas horas, até o local do enterro, em Olinda. Foi homenageado no mundo inteiro, por personalidades e líderes políticos, que o chamaram de sábio e de grande humanista. Mas a frase a seu respeito de que mais gostava era uma que lhe disse um menino de Olinda, após assistir o filme ET: "ele é feio e bonzinho, assim como o senhor".

Marina Silva é professora secundária de História, senadora pelo PT do Acre e ex-ministra do Meio Ambiente.

Banco Mundial aponta Bolsa Família como exemplo


Enquanto a oposição renega o Bolsa Família - o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) chegou a classificá-lo como "esmola" - e finge desconhecer os benefícios trazidos aos 11 milhões de famílias contempladas pelo programa, ele é reconhecido mundialmente como uma das alternativas acertadas e exemplo de programa de transferência de renda para suporte e segurança social.

O reconhecimento, agora, veio de Robert Zoellick, presidente do Banco Mundial. Zoellick apontou o Bolsa Família, em funcionamento há seis anos - foi instituído pelo governo do presidente Lula desde janeiro de 2004 - como uma prova de que é possível "fazer verdadeira diferença com programas modestos", para os quais os países (caso do Brasil com esse programa) destinam entre 1% a 1,5% do seu PIB
Zopellick considerou o Bolsa Família "um exemplo com o qual se pode trabalhar com o governo brasileiro

Blog do Zé Dirceu 25/04/2009

Princípios no coração da matéria


A institucionalização da democracia política no país com a Carta de 1988 não só importou a criação de novos direitos e de novos procedimentos destinados a lhes conceder eficácia, como também tem ensejado um ambiente propício para que antigas instituições renovem sua forma de atuar e se atualizem na complexa cena contemporânea. Este é bem o caso da Justiça do Trabalho, do que é testemunha a legitimação das ações civis públicas como recurso dos sindicatos, inovando o sistema de defesa dos direitos dos trabalhadores.

Mais recentemente, exemplar dessa mutação, estão aí as decisões dos Tribunais Regionais do Trabalho da 15ª e 3ª Regiões que suspenderam, por medida liminar, respectivamente, as demissões de 4.723 empregados da Embraer e de 1.500 da Usiminas.

Decerto que essas liminares foram cassadas pelo plenário desses dois tribunais, mas o precedente está aberto e se acumulam as evidências de que a jurisprudência pode vir a se mover no sentido sinalizado por aquelas decisões. Em particular, porque nos dois casos foi imposta a realização de audiências de conciliação, com a presença de líderes sindicais e do Ministério Público do Trabalho, exigida das empresas a apresentação de balanços patrimoniais e dos demonstrativos contábeis dos últimos anos, e a relação dos empregados dispensados, indicando-se o seu tempo de serviço.

De fato, a questão envolvida se acha instalada no coração da matéria das relações trabalhistas, na medida em que afeta o direito discricionário do empregador de demitir os seus trabalhadores. Substantivamente, as decisões dos dois Tribunais não reconheceram esse direito, obrigando a Embraer e a Usiminas a justificarem os motivos da demissão dos seus empregados perante os sindicatos e o poder público.

No entanto, a demissão imotivada de que trata a convenção 158 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que a proíbe, salvo em casos especiais, embora tenha sido ratificada pelo governo brasileiro em 5 de janeiro de 1995, foi denunciada por ele, após forte reação do empresariado à sua implementação, no ano seguinte. Sem ela, o que vige são as práticas das demissões imotivadas, sujeitas apenas às multas previstas na lei do FGTS, responsável, como muitas vezes demonstrado, pela alta rotatividade no emprego do trabalhador brasileiro, com óbvias repercussões salariais, uma vez que os novos contratos de trabalho estipulam, em geral, uma remuneração inferior a que o empregado recebia no emprego anterior.

Contudo, no capítulo dos direitos sociais, a Constituição dispõe que a relação de trabalho deve ser protegida da demissão arbitrária — art. 7º, inciso I —, matéria a ser regulamentada por lei complementar. À falta desta lei, passados mais de vinte anos de vigência da Carta de 88, que é o caso, circunstância qualificada pela denúncia do governo da convenção 158, que preencheria este vazio legislativo, cria-se a possibilidade para uma intervenção criativa do juiz, especialmente diante de uma crise econômica de largo alcance que põe sob ameaça o emprego e o mercado de trabalho.

A estratégia dos Tribunais diante de uma “situação difícil” — a demissão de milhares de trabalhadores — foi a de obrigar, em nome do princípio constitucional da “dignidade da pessoa humana” (art. 1º, inciso III), as empresas a motivarem as demissões. Este princípio, entretanto, não foi mobilizado em terreno juridicamente vazio, apenas uma intervenção da especulação hermenêutica, pois é a própria Constituição que declara a sua intenção de proteger o trabalhador da demissão arbitrária.

Não são apenas nos “casos difíceis”, litígios tópicos diante dos quais o direito ainda hesita sobre a interpretação a adotar, que os princípios devem ser chamados a fim de participar das decisões. “Situações difíceis”, com origem em litígios sistêmicos, como a da segregação racial na sociedade americana nos anos 1950, podem, de igual modo, reclamar deles a sinalização para a melhor solução — no limite, a única — para que o justo prevaleça. A insegurança jurídica, tema da reação dos empresários às decisões dos dois Tribunais que interpelaram princípios — mas não só —, não é sentida apenas por uma das partes contratantes nas relações de trabalho. A segurança por que demandam os trabalhadores é a de terem, em especial nas demissões coletivas, a justificação comprovada da sua necessidade e uma justa indenização por seus anos de serviço.

www.gramsci.org
Luiz Werneck Vianna é professor do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) e coordenador do Centro de Estudos Direito e Sociedade (Cedes/Iuperj).

domingo, 26 de abril de 2009

Poema(s) da Cabra



Parte primeira

Nas margens do Mediterrâneo
não se vê um palmo de terra
que a terra tivesse esquecido
de fazer converter em pedra.

Nas margens do Mediterrâneo
Não se vê um palmo de pedra
que a pedra tivesse esquecido
de ocupar com sua fera.

Ali, onde nenhuma linha
pode lembrar, porque mais doce,
o que até chega a parecer
suave serra de uma foice,

não se vê um palmo de terra
por mais pedra ou fera que seja,
que a cabra não tenha ocupado
com sua planta fibrosa e negra.

1
A cabra é negra. Mas seu negro
não é o negro do ébano douto
(que é quase azul) ou o negro rico
do jacarandá (mais bem roxo).

O negro da cabra é o negro
do preto, do pobre, do pouco.
Negro da poeira, que é cinzento.
Negro da ferrugem, que é fosco.

Negro do feio, às vezes branco.
Ou o negro do pardo, que é pardo.
disso que não chega a ter cor
ou perdeu toda cor no gasto.

É o negro da segunda classe.
Do inferior (que é sempre opaco).
Disso que não pode ter cor
porque em negro sai mais barato.

2
Se o negro quer dizer noturno
o negro da cabra é solar.
Não é o da cabra o negro noite.
É o negro de sol. Luminar.

Será o negro do queimado
mais que o negro da escuridão.
Negra é do sol que acumulou.
É o negro mais bem do carvão.

Não é o negro do macabro.
Negro funeral. Nem do luto.
Tampouco é o negro do mistério,
de braços cruzados, eunuco.

É mesmo o negro do carvão.
O negro da hulha. Do coque.
Negro que pode haver na pólvora:
negro de vida, não de morte.

3
O negro da cabra é o negro
da natureza dela cabra.
Mesmo dessa que não é negra,
como a do Moxotó, que é clara.

O negro é o duro que há no fundo
da cabra. De seu natural.
Tal no fundo da terra há pedra,
no fundo da pedra, metal.

O negro é o duro que há no fundo
da natureza sem orvalho
que é a da cabra, esse animal
sem folhas, só raiz e talo,

que é a da cabra, esse animal
de alma-caroço, de alma córnea,
sem moelas, úmidos, lábios,
pão sem miolo, apenas côdea.

João Cabral de Melo Neto

sábado, 25 de abril de 2009

Lula diz que disputa entre Dilma e Serra à Presidência será "privilégio



O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou neste domingo, em entrevista publicada pelo jornal argentino "La Nación", que será um "privilégio" para o Brasil uma disputa pela Presidência da República entre a ministra petista Dilma Rousseff (Casa Civil) e o governador de São Paulo, José Serra (PSDB).
"Se os candidatos forem Dilma, Serra e Ciro [Gomes, do PSB], também será um luxo. O mesmo também se estiver [Aécio] Neves [PSDB]. [...] E isso porque não vejo nada de direita aí [nesses candidatos]. Vejo companheiros de esquerda, de centro-esquerda, progressistas. Isso é um avanço extraordinário para o Brasil."
Lula sinalizou que não pensa em continuar na política ao final de seu mandato em 2010 e que vai "estranhar" ao levantar em 2 de janeiro de 2011 e não ter nenhum assessor para dar bronca.
"Eu gostaria de trabalhar, e muito, com algum tema da América Latina, de integração. Também na África, a parte do mundo mais esquecida, economicamente e tecnologicamente falando. Quero ver se posso ajudar de alguma maneira. Não tenho a menor preocupação com o que vou fazer, recebi muito do povo."

Aos que estão por vir



"Na crista da crise mundial, sopram ventos de mudanças. No norte, banqueiros e executivos tornam-se vilões. Aqui, políticos sofrem um bombardeio.

Pelos seus traços fortes, caricaturais, os Parlamentos são alvo predileto. É perigoso concentrar só neles.

Às vezes, acho que o governo escapa, sobretudo porque é um grande anunciante. Mas, pensando melhor, não é esse o ponto.

O caso dos cartões corporativos ganhou grande espaço. Tanto ele como o escândalo das passagens são de fácil entendimento.

Licitações, editais, relações com ONGs são temas ásperos, que não se reduzem a falas de 30 segundos nem se traduzem na linguagem visual.

O que dizer da transparência no Judiciário, no Ministério Público? Não há demanda para saber como se comportam juízes e procuradores nem como é gasto o dinheiro com eles.

Não são eleitos pelo voto popular. Independem dessa confiança básica, renovável. Com suas limitações, o processo que o avanço social e técnico deflagrou é a semente dos novos tempos.

Na internet e entre os leitores, a sensação é a de que todos os políticos são iguais e deveriam desaparecer. É um equívoco.

Depois de uma explosão nuclear, nem todos desaparecem: as baratas sobrevivem. Um Congresso fantasma ou um Congresso fechado não interessam à democracia.

Vale um esforço para ajustar sua conduta agora e renová-lo em 2010. Quem dá um passo à frente?

A sociedade avançou, a política envelheceu. É uma crise de crescimento da democracia. Jamais alcançaremos a perfeição. Mas vai melhorar.

E os que estão por vir, como no poema de Brecht, serão compreensivos com os tempos sombrios que vivemos.

Resta trabalhar para que a energia dos escândalos não esgote a busca de soluções. Devem andar juntas, como luz e sombra".

de Fernando Gabeira
Escrito por Josias de Souza às 04h22
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A nudez de Gilmar Mendes


A denúncia do ministro Joaquim Barbosa guarda um paralelo com o papel desempenhado pelo menino que revelou a nudez real no famoso conto de Hans Christian Andersen. À sociedade cabe avaliar o papel dos tecelões.
Gilson Caroni Filho
A discussão entre o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, e o ministro Joaquim Barbosa pode ser tomada como causa eficiente de uma crise do Judiciário ou, pelo contrário, seria sintoma dos desvios institucionais promovidos pela judicialização da política, com amplo apoio de setores midiáticos?

Ao afirmar que Mendes está “destruindo a credibilidade da Justiça brasileira", Barbosa deflagrou um processo ou desnudou a crise institucional e, de identidade, da mais alta corte dos pais? Independente do caráter notadamente pessoal do embate entre os dois ministros, ele não revelaria a erosão de legitimidade de um Poder que, ao se submeter a imperativos político-partidários, relegou a um plano secundário seu papel constitucional?

Como já indagamos em artigos anteriores, ”quando o presidente do STF se apresenta, sem que ninguém tenha lhe delegado tal função, como artífice de "um novo pacto republicano", estamos diante do quê? De um magistrado para quem o texto normativo é apenas uma moldura suscetível a várias interpretações ou de um ativista que põe em risco a própria noção de Estado Democrático de Direito?” É uma pergunta ociosa dada a evidência da resposta.

Gilmar Mendes se destaca pelo senso de urgência no que julga ser seu principal papel como magistrado: dar sustentação jurídica às teses da oposição parlamentar no combate ao governo Lula. Mas o faz de forma tão atabalhoada que constrange até mesmo os “bons companheiros” das grandes redações. Aqueles que, desolados, vêem a imprensa estrangeira fazer uma leitura totalmente distinta dos recortes que elaboram diariamente.

Nessa empreitada, o presidente do Supremo tem sido alvo de crítica dos que lutam pela ampliação de direitos, pela criação de um ordenamento inclusivo, de uma legalidade que não seja restrita a um ordenamento institucional de distribuição de privilégios.

Para Dom Xavier Gilles, presidente da Comissão Pastoral da Terra, o ministro “não esconde sua parcialidade e de que lado está. Como grande proprietário de terra no Mato Grosso ele é um representante das elites brasileiras, ciosas dos seus privilégios. Para ele e para elas os que valem, são os que impulsionam o “progresso”, embora ao preço do desvio de recursos, da grilagem de terras, da destruição do meio-ambiente, e da exploração da mão de obra em condições análogas às de trabalho escravo”.

Segundo o bispo, Gilmar Mendes “escancara aos olhos da Nação a realidade do poder judiciário que, com raras exceções, vem colocando o direito à propriedade da terra como um direito absoluto e relativiza a sua função social. O poder judiciário, na maioria das vezes leniente com a classe dominante é agílimo para atender suas demandas contra os pequenos e extremamente lento ou omisso em face das justas reivindicações destes. Exemplo disso foi a veloz libertação do banqueiro Daniel Dantas, também grande latifundiário no Pará, mesmo pesando sobre ele acusações muito sérias, inclusive de tentativa de corrupção”.

Em 27 de março de 2009, a Associação dos Juízes Federais do Brasil divulgou nota em que o presidente era chamado de “leviano” e veículo de maledicências e veículo de maledicências contra magistrados”. Quando, na história do STF, um ministro gerou reações tão contundentes? Será pela justeza das causas que esgrime ou pela natureza bonapartista que revela? O que dizer quando vemos que a instância máxima do Judiciário torna-se promotora de instabilidade social, uma prodigiosa fábrica de anomia?

Ao atacar frontalmente movimentos sociais como o MST, o presidente do Supremo Tribunal Federal age como magistrado ou preposto de velhas pretensões oligárquicas? Afirmando que o governo estaria cometendo ilegalidades ao dar recursos a ONGs ligadas ao movimento, o que faz Gilmar Mendes senão confirmar cada ponto destacado por Dom Xavier? Há que se considerar intempestiva a reação de João Pedro Stedile que o definiu como “Berlusconi verde-amarelo”? Ou interpretá-la como justa indignação?

Sabemos que as classes dominantes brasileiras gostam de falar uma linguagem liberal enquanto exercem formas autoritárias de governo. Se há de fato uma ação orquestrada desestabilizadora, sua novidade estaria no novo arranjo do poder, com a crescente primazia do judiciário tentando anular o poder Legislativo e Executivo. Repete-se a história de sempre: os ideais “republicanos” de alguns setores sucumbem aos velhos artifícios autoritários já testados.

A denúncia do ministro Joaquim Barbosa guarda um paralelo com o papel desempenhado pelo menino que revelou a nudez real no famoso conto de Hans Christian Andersen. À sociedade cabe avaliar o papel dos tecelões. Deve lançar um olhar atento sobre tecidos, teares e jogos de espelho com que é construída a democracia brasileira. Ou, muitas vezes, desconstruída.

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Observatório da Imprensa.
http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=4297

Mudanças climáticas, o homem, e o aumento da desertificação no mundo


A desertificação é um problema grave, que vem se intensificando ao longo dos últimos anos, como uma das causas/conseqüências das mudanças climáticas. Eu escrevi causas/conseqüências, porque o problema da desertificação geralmente é deflagrado ou agravado pelo homem e suas atividades (desmatamento, expansão urbana, exploração mineral descuidada, entre outros), e quando o processo já está instalado, contribui para o desequilíbrio ambiental responsável pelo aquecimento global. Ou seja, torna-se uma reação em cadeia.

Segundo a ONU, a definição do processo de desertificação que atinge várias áreas do globo, seria “a degradação das terras nas regiões áridas, semi-áridas e sub-úmidas secas, resultantes de diversos fatores, tais como as variações climáticas e as atividades humanas”. Significa então que o solo perdeu sua capacidade produtiva devido aos fatores citados. Em regiões áridas, já existe uma pré-disposição ao processo de degradação, que pode inclusive, iniciar naturalmente, porém, sem desequilíbrio. Bem, o que as pessoas deviam saber sobre desertificação é que ela não existe só na África e Ásia, mas no Brasil também, e não é apenas uma região brasileira que apresenta o problema em nível já avançado, mas inúmeras.

No estado do Rio Grande do Sul, especificamente nas regiões dos municípios de Alegrete, Quaraí e adjacências, já se observa um agressivo processo de degradação do solo, intensificado pelo manejo inadequado dos recursos naturais.

Os solos da região já apresentam tendências naturais à degradação, visto que são mais arenosos, com baixa coesão entre as partículas, baixa fertilidade e esparsa cobertura vegetal. Porém, com a intervenção inadequada do homem, as áreas se expandiram e até mesmo áreas não degradadas, hoje apresentam o processo de arenização, formando os chamados “areais”. Neste local, não é atribuído o nome de desertificação ao processo que atinge o local, visto que o Rio Grande do Sul não está inserido nas faixas climáticas árida e semi-árida.

No nordeste do país (região árida e semi-árida), há quatro núcleos de desertificação existentes, com área de cerca de 18.000km2, sendo que “núcleos de desertificação” são consideradas áreas com o processo de degradação já irreversível. Fora isso, cerca de 1 milhão de km2 das regiões nordeste e norte do estado de Minas Gerais se encontram susceptíveis ao processo e já o apresentam a um certo grau.

Com base em pesquisas do Centro Hadley do Escritório Meteorológico do Reino Unido, até o ano de 2100, um terço do planeta estará convertido em deserto. Migrações de milhões de pessoas para terras mais férteis, em busca de sobrevivência, se tornarão comuns, aumentando o impacto do homem no meio ambiente e aumentando a pressão por demanda de recursos, e com isso, desequilibrando ainda mais os efeitos das mudanças climáticas no globo.

O papel do homem nesta história é o de sempre, o manejo inadequado e exaustivo dos recursos naturais. No caso do nordeste brasileiro, a exploração mineral, agricultura e pecuária acabam por minar a rala vegetação existente, funcionando como um acelerador da desertificação. Sem a colaboração das prefeituras dos municípios atingidos e claro, do próprio governo, e ainda, o desenvolvimento de uma consciência ambiental no próprio homem, não haverá escapatória quanto à irreversibilidade do processo de desertificação, não apenas no nordeste brasileiro, mas no mundo todo. E as conseqüências provavelmente serão imensuráveis e irrecuperáveis para a população mundial.

* Carolina Carvalho é geóloga (UNESP), mestre em sensoriamento remoto (INPE) e doutoranda em planejamento energético na Coppe (UFRJ).

(Envolverde/CarbonoBrasil)

Legislação que protege a Mata Atlântica prejudica comunidades tradicionais




São Sebastião e Ubatuba (SP) - A legislação ambiental, imprescindível para a preservação da Mata Atlântica, ameaça o desenvolvimento das comunidades tradicionais – indígenas, descendentes de quilombolas e caiçaras – que convivem com a mata há centenas de anos.

As diversas leis ambientais criadas nos últimos 40 anos, que possibilitaram a instituição de parques, reservas e estações ecológicas, praticamente congelaram a devastação da Mata Atlântica. No entanto, as normas bloquearam também a continuidade das atividades tradicionais executadas pelas populações que, reconhecidamente, foram as maiores responsáveis pelo que ainda restou do bioma.

Caiçaras, descendentes de quilombolas e indígenas mantêm aspectos culturais seculares e praticam, sobretudo, agricultura voltada à subsistência. São reconhecidos por conviver com a mata sem destruí-la. No entanto, parte das terras utilizada há centenas de anos por essa população foi sobreposta por unidades de preservação ambiental. Parte considerável dessa população foi impedida de expandir suas roças, de caçar e de extrair da mata produtos que ajudavam na sobrevivência.

O modo como foram aplicadas as normas ambientais nos últimos anos acabou por causar a expulsão dessas comunidades tradicionais de suas terras e abriu espaço para que outros grupos, menos responsáveis ambientalmente, ingressassem na área da mata, de acordo com Nilto Tatto, pesquisador do Instituto Socioambiental (ISA), organização da sociedade civil de interesse público.

“Era necessária uma postura propositiva de dialogar com as comunidades para que elas pudessem continuar vivendo e mantendo a relação que sempre tiveram com o meio ambiente. E não da forma como o Estado fez nos últimos anos, principalmente a partir da criação dos parques, que originou um processo de expulsão dessas comunidades”, afirma.

“Outros agentes econômicos podem ir lá e tomar o lugar, e o estrago é muito maior na medida em que essas comunidades não estão lá para ocupar da forma como tradicionalmente a área foi ocupada”, ressalta.

Hoje, na Mata Atlântica, vivem cerca de 70 povos indígenas em centenas de aldeias e mais de 370 comunidades quilombolas. No mesmo espaço, foram criadas aproximadamente 1.400 unidades de preservação ambiental federais e estaduais, como parques, reservas, estações ecológicas e reservas particulares do patrimônio natural.

“Você perde essa riqueza que é a diversidade social que há na Mata Atlântica dessas comunidades tradicionais, como também o papel que essas comunidades tiveram de manter essa floresta em pé”, destaca Tatto.

A roça de coivara é um bom exemplo das atividades dos povos tradicionais que preservaram a mata. Consiste num sistema de rodízio na utilização da terra, sem a necessidade de expansão da área cultivada.

Agenor de Matos, 97 anos, foi pescador e agricultor na região da Mata Atlântica, no município de São Sebastião, litoral paulista. Viveu na mata antes e depois da criação das áreas de preservação. Depois da criação do Parque da Serra do Mar, ele teve de abandonar a agricultura e ficar só com a pesca. Hoje está aposentado. “A gente não pode mais derrubar mata. Mas, antigamente, a gente derrubava, fazia roça de arroz, milho, mandioca. A gente não comprava nada. Só o sal que vinha de fora. A gente colhia, vendia e ainda tinha pra comer”, relata.

José Vieira, descendente de quilombolas, vive há 50 anos no núcleo Picinguaba do Parque da Serra do Mar, no município de Ubatuba. Quando chegou, pescava e fazia roça. Nenhum gênero alimentício vinha de fora. Sobreviviam com suas próprias atividades.

“Antes, a comida era daqui mesmo, o feijão, o café apanhava aqui. Era o peixe que eu pegava, era o caldo de cana, eram as galinhas que eu criava. Depois que virou Parque Estadual da Serra do Mar, a comunidade perdeu chão, porque a vida era fazer uma roça e a própria comunidade manejava. Depois que entrou o parque, não pudemos fazer nada. Apertou um pouco para as pessoas, a agricultura familiar ficou meio desativada”, ressalta.

Mas é no núcleo Picinguaba, do Parque Estadual da Serra do Mar, que uma nova experiência com as comunidades tradicionais procura estabelecer um equilíbrio entre cumprir a lei ambiental e preservar as atividades das populações que já viviam no local muito antes da criação das áreas de conservação.

“Essas comunidades viveram até 2004 sob situação de forte pressão, que gerou uma exclusão social muito grave, porque a legislação ambiental que incidia sobre a gestão da unidade previa que essas comunidades fossem indenizadas, removidas e reassentadas em outro local”, explica a gestora do parque Eliane Simões.

A partir de então, as comunidades, em parceria com a administração do parque, encontraram uma solução jurídica para o impasse. Cruzando várias legislações, tanto do ponto de vista social quanto ambiental, criaram o que é chamado de “plano de uso tradicional”.

“Ele é um pacto social, é um acordo estabelecido com todos os órgãos gestores para que a comunidade possa permanecer na área. Ela tem direitos adquiridos de permanência e desenvolvimento das suas atividades, seu hábitos culturais cotidianos”, explica a gestora.

Duas comunidades quilombolas da região já conseguiram concretizar o pacto. Na prática, o plano consiste num cadastramento de todos os ocupantes, uma caracterização de como vivem, seus hábitos e suas dependências. Também define o desenvolvimento de projetos para implantação de uma série de atividades para desenvolvimento sustentável e as áreas e locais apropriados para que essas práticas possam se desenvolver.

As comunidades que fizeram o pacto já têm demarcados territórios dentro de suas áreas onde podem construir novas edificações, plantar e abrir áreas de plantio, assim como extrair recursos da floresta. Mas, com a preocupação agora de adaptar suas técnicas à sustentabilidade.

“Quando chegamos aqui vimos a problemática dos agricultores, a pressão dos institutos florestais, os meios de conservação, proibindo que eles praticassem algo que fazem há muitos anos. Então, a gente começou a extrair a polpa da [palmeira] jussara [símbolo da Mata Atlântica] de um jeito sustentável, não é arrancar todos os cachos. A gente escolhe um para deixar, porque os passarinhos usam, a palmeira é vital para a vida da floresta”, explica Marcelo Bueno, coordenador do Instituto de Permacultura e Ecovilas da Mata Atlântica (Ipema), que auxilia os agricultores tradicionais a explorar a mata de modo sustentável, sem deixar de realizar as atividades tradicionais.

Um grupo de índios Guarani, que habita uma reserva indígena no município de São Sebastião, em meio a Mata Atlântica, permanece realizando suas atividades tradicionais, mas incorporaram novos meios de cultivo que preservam a mata nativa. “Passamos a usar mudas de pupunha, mudas de açaí, que também dão em palmeiras, para preservar a palmeira jussara. E a gente está tendo ótimos resultados”, diz o cacique Mauro Samuel dos Santos.

Por Bruno Bocchini, da Agência Brasil
(Envolverde/Agência Brasil)

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Mar Português



Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

Fernando Pessoa

Um magnífico texto

O Estado, diria Gramsci, é “mais ou menos aquilo que o Foucault vai dizer daqui a algumas décadas sem me dar o devido crédito por ter dito isso primeiro, careca miserável”. Não é só o que o Hegel chamava de sociedade política, o Estadinho lá, com seu congressinho, seu presidentinho, sua policinha, capitão Nascimento, Sarney, essas coisas. É isso também, bem entendido. Mas também é a articulação disso tudo com a sociedade civil, a escola e as academias que elaboram e desenvolvem a visão de mundo dominante, o saber assim produzido, os sindicatos reformistas e partidos social-democratas que mantém o conflito sob controle, a mídia que fixa os limites do debate, a família que transmite os valores dominantes e consagra hierarquias, etc. Se você conquista o Estado czarista, você caia ele de vermelho e os burocratas que obedeciam o czar obedecem você. Mas de nada adianta conseguir uma adesão puramente externa (quem é que era contra o Stalin na frente dele?) em termos de ideologia, sentimentos, valores, saberes. Ou você consegue convencer, sensibilizar, justificar-se, descrever a realidade, ou você, cedo ou tarde, ao invés de impor sua visão de mundo, vai ser lentamente colonizado pelos dominantes conquistados.

Enquanto o Biscoito não desenferruja, confira o magnífico texto sobre a hegemonia, no blog Na prática a teoria é outra.
Concordei com 98% e saí muito inspirado da leitura. Recomendadíssimo.

Biscoito fino e a massa

A lei diz

Sepúlveda Pertence, ex-ministro do STF e atual presidente da Comissão de Ética Pública da Presidência da República: "Ao contrário do particular que pode fazer tudo que a lei não proíbe, o administrador só pode quando a lei determina ou autoriza. Trata-se do princípio da legalidade. O agente público age em nome do Estado e vinculado ao Estado”.

Do blog do Fernando Rodrigues

Sete paraibanos usaram passagens da Câmara para viagens ao exterior

Após o escândalo do deputado Fábio Faria (PMN-RN), que teve que devolver à Câmara Federal mais de R$ 21 mil como ressarcimento pelo uso irregular da cota de passagens aéreas a que tem direito, o site Congresso Em Foco divulgou nesta quarta-feira (22) a lista completa de deputados envolvidos na mesma situação, o que incluiu sete parlamentares paraibanos.
Abaixo do recorde de 40 voos do deputado Dagoberto Nogueira (PDT-MS), mas ainda assim figurando na lista de quem usou cota de passagens aéreas para ir ou enviar terceiros para fora do Brasil, estão os seguintes deputados federais:
Marcondes Gadelha (PSB) - 12 voos
Armando Abílio (PTB) – 7
Damião Feliciano (PL) – 4
Vital do Rego Filho (PMDB) – 4
Efraim Filho (DEM) – 2
Ronaldo Cunha Lima (PSDB) – 2
Manoel Júnior (PSB) – 1
Nacionalmente, o campeão em voos internacionais foi o deputado Dagoberto Nogueira (PDT-MS). Os registros das empresas aéreas mostram que ele usou a cota para pagar 40 voos ao exterior, 22 deles tendo como passageiros o próprio deputado e dois integrantes de sua família: a mulher e a filha.

Do Paraíba 1

Gabeira manda mal, Luciana Genro manda bem


Pois é, vocês já viram o que o Gabeira andou aprontando. Pegou duas passagens aéreas que deveriam servir pra trabalhar e mandou a família passear. Que beleza. Comentários do sempre alerta Pedro Dória aqui.
Se eu disser que me choca horrendamente, é mentira. Pra começar, todo mundo sabe que essas verbas para viagem, paletó, moradia, alimentação e orgia sadomasoquista que os deputados ganham são salário disfarçado. Jamais me ocorreu que eles não usassem as verbas como eu uso meu salário, isto é, para fazer o que quiserem. Claro, é errado, mesmo assim.
Agora, me choca um cara que sabe que tem capital político acumulado por sua honestidade dar uma vacilada dessas. Indica falta de julgamento razoável, além de uma certa acomodação mental ao status quo.
Planejo tomar a mesma posição que tomei quando eclodiu o caso do Mensalão. Isto é, não fazer muita coisa. Pois:
1) Mais ainda agora do que na época, não vou deixar de votar em um cara por falta de ética para votar em candidatos que, com extrema dose de alucinada generosidade hiperbólica, eu descreveria como pelo menos tão picaretas quanto minha opção atual. E não vou deixar de votar, porque não tenho a mãe na zona. Se houvesse um Gabeira do B (bom, até tem um PTdoB, mas, enfim) com as mesmas posições, mas sem ter feito esta merda, eu votava nele. Mas não tem. Não vou, em protesto, votar no Picciani.
2) O PT perdeu pontos comigo na crise de 2005, o Gabeira perde pontos comigo agora, mas moralidade não é o único critério que informa meu voto. Novamente: se eu acreditasse que a redistribuição de renda, em 2005, ou o meio-ambiente e os direitos das minorias, agora, passariam a ser defendidos pelo outro lado, eu mudaria meu voto. Não seriam, por isso não mudo (pode ser que mude por outro motivo, claro).
3) Tal como em 2005, o escândalo é proporcional às expectativas que tínhamos com relação ao PT e ao Gabeira. O Rodrigo Maia também usou as passagens irregularmente, mas alguém se surpreende com isso? O sujeito tem todo o direito de votar no PFL, mas se disser que vota pela defesa da ética, pô, rapaz, eu tenho um carro usado pra te vender, muito bom, era de uma velhinha que quase nunca usava, e é customizado para parecer velho. Além do que, se o RM disser que não entendeu qual era a regra, eu acredito.
4) Essas expectativas que tínhamos, as formamos com base em outros episódios, em que os referidos personagens se comportaram bem. Não vou jogar fora essas histórias no meu cálculo futuro, só vou incorporar essa nova informação na coluna de débitos deles.
Enfim, uma merda. Mas é isso aí, criança, lá fora é um mundo de dor.
PS: ridícula a tentativa de colocar Luciana Genro, com quem não concordo em praticamente nada, no mesmo balaio do NãoPagão Aéreo. Não há dúvida de que os eleitores de Luciana Genro esperam que ela faça coisas como ceder sua passagem para Protógenes se manifestar. Se o Gabeira tivesse usado as dele para seringueiros perseguidos fugirem do Acre, ou para algum militante gay que tivesse passado a mão na bunda do Bolsonaro fugir (talvez com o Bolsonaro junto), eu estaria exultante.

Blog : Na pratica a teoria é outra

terça-feira, 21 de abril de 2009

Paraíba

Sociedade e tédio


Walter Benjamin escreveu que “as rugas em nosso rosto são as assinaturas das grandes paixões que nos estavam destinadas, mas nós, os senhores, não estávamos em casa.” O que essa frase diz a respeito do capitalismo contemporâneo?

“Sociedade do conhecimento” e “técnicas da informação” constituem a aceleração do tempo, baseada na circulação ininterrupta das revoluções tecnológicas e do capital no mercado financeiro. Diferentemente da noção de crise econômica, o atual impasse é cultural, é crise da cultura que perdeu autonomia, adaptada agora às contingências da financeirização e dos sofismas políticos de que é portadora,como as indústrias do conhecimento.

Estas promovem os saberes a serviço exclusivo da economia, abrangendo todos os aspectos da vida, do mundo do trabalho aos laços afetivos, da intimidade até a educação. Seu poder de controle se expressa em uma cultura da incuriosidade, uma sociedade desmotivada e sem projeto, dominada pela “queda tendencial do valor espírito” e de sua capacidade de criar e reconhecer valores, mundo empobrecido pelo extraordinário achatamento da experiência do tempo, plasmado na imediatez e na pressa.

O homem contemporâneo só tem tempo para suas urgências; sua curiosidade é insaciável, mas se contenta com pouco.

Eric Fromm refere-se ao traço do presente que consiste em “fazer de tudo para economizar tempo e, quando o conseguimos, nós o matamos porque não sabemos o que fazer com ele.” Nos anos 1840, Marx analisava o trabalho alienado escrevendo que o trabalhador, quando no trabalho, está fora de si, porque não realiza uma livre atividade física e espiritual, mas martiriza seu corpo e arruína seu espírito. Só se sente junto a si mesmo quando fora do trabalho. Na modernidade, fora do trabalho tampouco o trabalhador se encontra junto a si, o indivíduo tendo perdido o controle dos usos do tempo e de sua própria vida. A organização institucional do tempo é um dos atributos mais eminentes da dominação.

O sentimento de não se ter tempo abrange a sociedade inteira, não apenas quem se encontra sobrecarregado de trabalho, mas também os desempregados, todos respirando “uma atmosfera carregada de comunicação”, preenchida pelas indústrias de entretenimento e de cultura de massa, adaptadas ao homem desumanizado e supérfluo. O “turbo-capitalismo” produz exclusão e concorrência, estresse e depressões, inviabilizando laços duradouros. Perda do tempo é perda de autonomia e de experiência. Por isso Walter Benjamin escreveu que “as rugas em nosso rosto são as assinaturas das grandes paixões que nos estavam destinadas, mas nós, os senhores, não estávamos em casa.”

A circulação e o acúmulo do capital determinam tempos mortos e movimento perpétuo, indigência e vulnerabilidade, circunstância que se manifesta no “tédio dos jovens das periferias”, na fragilização do sentido de pertencimento a um mundo comum, sentimento de desvalorização de si, com o déficit simbólico que isso implica.

O capitalismo contemporâneo manifesta seu ethos anti-comunicativo, pois dissolve as condições da comunicação de valores e experiências, reduzida a simples instrumento de troca e de informação. Substituindo o “desejo de ser livre” pelo mudança incessante, o capitalismo não preenche necessidades mas as multiplica, gerando frustração e tédio. Razão pela qual em 1968 o maio francês grafitou nos muros de Paris: “ não mude de emprego, mude o emprego de sua vida”.

Olgária Mattos é filósofa, professora titular da Universidade de São Paulo.
Carta maior

Projeto para habitação foca emprego e esquece moradias


Para especialistas, plano do governo federal é mais uma resposta “keynesiana” de geração de emprego do que uma política habitacional
Propagandeado como ação de combate à crise econômica e ao déficit habitacional no país, o programa para construção de 1 milhão de moradias destinadas à população de baixa renda foi lançado pelo governo federal no dia 25 de março. Ao todo, a União lançará mão de R$ 34 bilhões em empréstimos e subsídios, que abarcarão desde pessoas físicas até as construtoras, a partir deste mês. Especialistas entendem o plano como um conjunto de medidas keynesianas clássicas, descoladas de uma política habitacional efetiva.

Denominado "Minha Casa, Minha Vida", o pacote prevê a redução da carga tributária que incide sobre o setor da construção civil. Um dos carros-chefes será um subsídio de R$ 16 bilhões, por parte do governo federal, para as famílias que tiverem renda mensal de até três salários mínimos. Estas poderão pagar uma parcela mensal de R$ 50 ou 10% de seu rendimento, no decorrer de 10 anos.

O economista Paul Singer, secretário Nacional de Economia Solidária, destaca o caráter funcional do pacote: “é uma medida anti-cíclica da crise econômica, principalmente por gerar postos de trabalho na indústria de construção”. Na mesma linha, o plano também é visto pelos arquitetos urbanistas Raquel Rolnik e Kazuo Nakano, como um conjunto de medidas keynesianas clássicas, por mobilizar investimentos públicos com o fim impulsionar a geração de emprego e impulsionar a indústria de construção civil. Rolnik é relatora internacional do Direito à Moradia da Organizações das Nações Unidas (ONU). Nakano é técnico do Instituto Pólis.

Bom para empresários

Aliás, o setor de construção ficou mais que satisfeito com a elaboração do pacote, tendo sido até mesmo consultado durante o processo de confecção. O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Paulo Safady Simão afirmou recentemente que “o plano traduz, em grande parte, muito do que o nosso setor vem defendendo nos últimos anos”.

É fácil compreender porque eles vem defendendo a política do governo federal. No artigo “As armadilhas do pacote habitacional”, publicado no Le Monde Diplomatique Brasil, Rolnik e Nakano salientam que 2007 foi um excelente ano para o setor imobiliário. Das 500 mil unidades financiadas no país, 50% foram para famílias com renda superior a cinco salários mínimos mensais. Da parcela financiada com recursos do FGTS, 61% foram para famílias de baixa renda. Porém, eles argumentam no artigo que metade dos financiamentos acessados por essas famílias foi para compra de materiais de construção usados em loteamentos precários e favelas, sem assistência técnica que pudesse garantir edificações seguras e de qualidade.

O resultado, segundo os urbanistas, foi o adensamento nas favelas e periferias e uma sobreoferta de unidades habitacionais para a demanda de renda média que permanecem "encalhadas", engrossando o número de imóveis vazios, hoje quase em mesmo número que o déficit habitacional do país.

Descolados

Para os dois, “é perigoso confundir política habitacional com política de geração de empregos” que, embora tenham relações óbvias, “não são sinônimas”. “Na prática, sem regulação no mercado de terras, o subsídio será integralmente engolido pelos proprietários de terrenos (inclusive pelas incorporadoras que fizeram grandes estoques nos últimos anos)”, diz o artigo.
Uma política de ampliação do direito à moradia deve ser focada nas necessidades habitacionais das populações de baixíssima renda e na reabilitação de edifícios existentes localizados em espaços urbanos consolidados, em especial nos centros das cidades, aproveitados para moradias populares, evitando a criação de guetos nas periferias e enormes impactos ambientais e na mobilidade urbana.
Embora se configure como um pesadelo para construtoras, o Estatuto das Cidades poderia funcionar como um importante componente para a realização do sonho da casa própria junto à população de baixa renda. A quantidade de imóveis vazios no Brasil corresponde a mais de dois terços do déficit habitacional e, no Sul e Sudeste, esses valores são quase equivalentes. Por não cumprirem a sua “função social”, muitos estariam sujeitos a uma série de ações do poder público, como o IPTU progressivo no tempo e utilização compulsória.

http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/nacional/projeto-para-habitacao-foca-emprego-e-esquece-moradias

por Michelle Amaral da Silva

segunda-feira, 20 de abril de 2009

O esquecimento que destrói tudo


Não há nada pior do que o esquecimento, diz o escritor Lyonel Trouillot enquanto admiramos o anoitecer que avança como uma leve névoa sobre Porto Príncipe, sentados no terraço do Ibo Lele, um hotel cujo glamour perdido é testemunhado por fotos das estrelas de Hollywood penduradas nas paredes do bar, rostos que não dizem mais nada nem ao cinéfilo mais fiel. O poeta Jorge Castera nos acompanha à mesa, e os dois sofrem, com humor, as feridas abertas do seu país. Rir das feridas abertas é uma forma de não esquecer.
O esquecimento. Entre os jovens, ninguém mais lembra quem foi Francoise "Papa Doc" Duvalier, o médico rural que se proclamou presidente vitalício do Haiti e passou o trono ao seu filho, um adolescente de 136 kg de peso, "Baby Doc" Duvalier, ambos frios assassinos que mataram milhares de pessoas em nome do seu santo poder, mantido graças aos seus capangas, os Tonton Macutes (Bicho Papão), que também caíram no esquecimento.
Eu comento com eles que na Nicarágua, os jovens também não sabem que existiu a dinastia Somoza e que durou meio século, mas, além disso, as pesquisas mostram que uma porcentagem alta dos maiores de 40 anos sente saudades do último Somoza e pensa que ele foi um grande presidente, enquanto muitos jovens nem imaginam que para derrubar a Somoza foi necessário uma revolução....

Sergio Ramírez
Cartagena das Índias (Colômbia)

ver mais: http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI3702274-EI6580,00-O+esquecimento+que+destroi+tudo.html

A federação do nada pode

No universo ambientalmente correto, há vetos para todos os gostos. O movimento ambientalista no Brasil adquiriu a face de uma federação de vetos

A agenda ambientalista enfrenta entre nós sérias dificuldades para sobreviver e para se adaptar ao “fim do fim” da História, com a quebra da unipolaridade e a emergência de nações como a nossa, sedentas de progresso. A proposta de eliminar a exigência de licença prévia para asfaltamento e duplicação de rodovias já abertas, projeto em tramitação acelerada no Congresso Nacional, é pontual mas simbólica. Aliás, qual é mesmo o sentido de exigir licenciamento ambiental para asfaltar uma estrada? Ou para duplicá-la?

O debate do tema tem o mérito de escancarar um fato: ao longo de anos, a agenda ambiental brasileira foi infelizmente convertida em instrumento para travar o desenvolvimento nacional. O caso da Amazônia é emblemático: em meio a um gigantesco potencial hidrelétrico, queima-se óleo combustível para produzir luz. Por quê? Porque há todo um aparato ideológico e propagandístico a operar a tese de que usinas hidrelétricas na Amazônia são inaceitáveis, ambiental e socialmente falando. E a fumaça do óleo queimado? Dela ninguém fala.

O PT surfou em ondas ecológicas durante suas duas primeiras décadas de vida, nutriu-se dos movimentos ambientais e sociais, usou-os como escada para chegar ao poder, mas agora enfrenta um problema. Dado que no governo o partido não quis —ou não pôde— realizar qualquer reforma estrutural que envolvesse a propriedade, restou-lhe a bandeira do desenvolvimentismo. O PT não executou uma reforma agrária qualitativa ou quantitativamente diferente da que vinha sendo feita desde o governo Castelo Branco, nos anos 1960. Não avançou tampouco na reforma urbana.

Para ler artigo completo :
http://www.blogdoalon.com.br/2009/04/federacao-do-nada-pode-1703.html

O caminho mais curto para fracasso


Das muitas reflexões acerca do colapso do sistema neoliberal, três despontam com claridade. A primeira é que para salvar o Titanic afundando não bastam correções e regulações no sistema em naufrágio. Precisa-se de uma outra rota que evite o choque com o iceberg: uma produção que não se reja só pela ganância nem por um consumo ilimitado e excludente.
A segunda, não valem rupturas bruscas na ilusão de que já nos transportariam para um outro mundo possível, pois seguramente implicariam no colapso total do sistema de convivência, com vitimas sem conta, sem a certeza de que das ruínas nasceria uma nova ordem melhor.
A terceira, a categoria sustentabilidade é axial em qualquer intento de solução. Isso significa: o desenvolvimento necessário para a manutenção da vida humana e para a preservação da vitalidade da Terra não pode seguir as pautas do crescimento até agora vigentes (olho no PAC de Dilma Rouseff).
Ele é demasiado depredador do capital natural e parco em solidariedade generacional presente e futura. Importa encontrar um sutil equilíbrio entre a capacidade de suporte e regeneração da Terra com seus diferentes ecossistemas e o pretendido desenvolvimento necessário para assegurar o bem viver humano e a continuidade do projeto planetário em curso que representa a nova e irreversível fase da história.
Esta diligência precisa acolher a estratégia da transição do paradigma atual que não garante um futuro sustentável para um novo paradigma a ser construído pela cooperação intercultural que signifique um novo acerto entre economia e ecologia na perspectiva da manutenção da vida na Terra.
Onde vejo o grande gargalo? É na questão ecológica. Ela é citada apenas en passant nas agendas políticas visando a superação da crise. Na reunião dos G-20 no dia 2 de abril em Londres, o tema não influiu na formulação dos instrumentos para ordenar o caos sistêmico.
Não se trata apenas do mais grave de todos, o aquecimento global, mas também do degelo, da acidez dos oceanos, da crescente desertificação, do desflorentamento de grandes zonas tropicais e do surgimento do planeta-favela em razão da urbanização selvagem e do desemprego estrutural.
E mais ainda: a revelação dos dados que mostram a insustenbilidade geral da própria Terra, cujo consumo humano ultrapassou em 30% sua capacidade de reposição.
Uma natureza devastada e um tecido social mundial dilacerado pela fome e pela exclusão anulam as condições para a reprodução do projeto do capital dentro de um novo ciclo. Tudo indica que os limites da Terra são os limites terminais deste sistema que imperou por vários séculos.
O caminho mais curto para o fracasso de todas as iniciativas visando sair da crise sistêmica é esta desconsideração do fator ecológico. Ele não é uma “externalidade” que se pode tolerar por ser inevitável. Ou lhe conferimos centralidade em qualquer solução possível ou então teremos que aceitar o eventual colapso da espécie humana. A bomba ecológica é mais perigosa que todas as bombas letais já construídas e armazenadas.
Desta vez teremos que ser coletivamente humildes e escutar o que a própria natureza, aos gritos, nos está pedindo: renunciar à agressão que o modelo de produção e consumo implica. Não somos deuses nem donos da Terra mas suas criaturas e seus inquilinos. Belamente termina Rose Marie Muraro um livro a sair em breve pela Vozes”Querendo ser Deus, por quê? “Quando tivermos desistido de ser deuses, poderemos ser plenamente humanos o que ainda não sabemos o que é, mas que já intuíamos desde sempre”.

O teólogo Leonardo Boff é autor de “Virtudes para um outro mundo possível” Vozes 2008.

É o bicho !!!!


Mesmo com frango, o peixe, de Ganso, passou pelo porco.

Procura da poesia


Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.
Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro
são indiferentes.
Nem me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.
Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem, rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.
O canto não é a natureza
nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.
Não dramatizes, não invoques,
não indagues. Não percas tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.
Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a
memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
Repara:
ermas de melodia e conceito
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.

Carlos Drummond de Andrade © Graña Drummond

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Stephanes prepara programa para conter avanço da pecuária nas florestas


O ministro da Agricultura Reinhold Stephanes admitiu que a ocupação de terras pela pecuária de corte é um problema, de acordo com o jornal O Estado de S. Paulo. Stephanes disse que prepara um programa, que será apresentado até o final do ano, para conter a expansão da atividade em áreas de florestas, principalmente na Amazônia. "Desmatar cinco mil hectares para colocar cinco mil bois e criar dois empregos não faz sentido", afirmou.

O ministro ainda não divulgou os detalhes do programa, mas a ideia da proposta é fechar um acordo para que frigoríficos recusem animais criados em áreas de desmatamento ilegal, uma iniciativa semelhante à Moratória da Soja.

Stephanes lembrou que há outras formas de controle da movimentação de animais, como a Guia de Trânsito Animal (GTA) eletrônica e um sistema da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para monitoramento via satélite.

Ao falar da legislação ambiental, Stephanes criticou o fato de o Ministério da Agricultura ter estado ausente das discussões ambientais nos últimos 30 anos, e defendeu mecanismos que permitam ao pequeno produtor seguir a legislação ambiental. "Um pequeno agricultor de 10 ou 20 hectares que está na beira de um rio ou de um riacho tem renda de, no máximo, mil reais por mês. Ele está no limite da sobrevivência. Se ele tirar duzentos reais (referente a 20% da reserva legal) e dos oitocentos reais tirar mais duzentos reais para recuperar área, a atividade fica inviável", contou. "Se isso acontecesse na cidade, daria uma greve", completou.

Por Redação do Amazonia.org.br
(Envolverde/Amazônia.org.br)

Consumo delirante


Em tempos de crise, nada mais natural do que o assunto consumo se tornar recorrente em todas as rodas de conversa e no noticiário. Para reforçar esse fato, chega nesta semana nos cinemas em todo o Brasil o filme "Os Delírios de Consumo de Becky Bloom".

Antes mesmo da estréia, a película já pode ser considerada um sucesso. Não somente pelos 15 milhões de livros vendidos em todo o mundo relacionados à saga da personagem Rebecca Bloomwood, mas devido à percepção brilhante da escritora britânica Sophie Kinsella. Até o momento, já são cinco os livros da autora publicados sobre um tema tão presente no cotidiano do século XXI: comportamentos de consumo, consumo compulsivo, compras por impulso, endividamento.

Originalmente Becky Bloom é britânica e a grande maioria das suas aventuras se passa em Londres. Mas, para o filme, que teve o privilégio de contratar a consultoria da própria autora da estória original que esteve presente em muitos momentos nos sets de filmagem, tudo acontece em Nova Iorque, com algumas cenas rodadas em Miami e em Connecticut.

Mas, para quem é antenado em assuntos de consumo, e em especial em consumo de moda, o filme oferece vários momentos inesquecíveis, onde ambientes reais viram cenários, como a famosa loja da marca italiana Prada no Bal Harbour, em Miami ou as vitrines de marcas de luxo em Nova Iorque.

Não se pode esquecer ainda que os figurinos do filme dão vida a cada um dos personagens por meio do talento da premiada Patricia Field, que tem no currículo produções como O Diabo Veste Prada e Sex and the City. Por si só, o guarda-roupa de Becky Bloom é uma atração à parte, na medida que combinações modernas e inusitadas de roupas e acessórios de Balenciaga, Marc Jacobs, Christian Louboutin, Zac Posen, Miu Miu, Salvatore Ferragamo, Prada, Todd Oldham, Gucci, Christian Dior e Alexander McQueen, dentre outros, desfilam na telona cena a cena.

Retornando ao enredo, a moral da estória, segundo Sophie Kinsella, intencionava proporcionar uma reflexão a respeito do consumismo desenfreado dos tempos atuais com uma certa dose de divertimento. Para quem tem a oportunidade de ler os livros "Delírios de Consumo de Becky Bloom" e "Becky Bloom - Delírios de Consumo na 5ª. Avenida", os quais deram origem ao roteiro de cinema, percebe que muitas das situações descritas, sofridas ou vexatórias, já foram vivenciadas por alguém muito próximo.

Mas no filme, talvez por ironia do destino, ou do poder dos fenômenos de moda, o expectador sai com a sensação de que lutar contra o vício das compras é quase impossível. Além disso, as tomadas deslumbrantes provocam um certo estímulo para consumir mais, mesmo sem a intenção de destronar "a garota da echarpe verde".
Coincidências ou não, a intenção de Lauren Weisberger ao escrever o livro "O Diabo Veste Prada" era mostrar os bastidores pouco glamurosos de uma revista que dita moda para todo o mundo. Ao ser transformado em filme, "O Diabo Veste Prada" se tornou um marco referencial para os que trabalham no "mundinho fashion", e foi um tremendo sucesso de bilheteria e de estímulo a novos bens de consumo de marca. Entretanto, vale lembrar que a beleza plástica do filme e a sua campanha promocional conseguiram pulverizar a reflexão proposta pela autora.

Outro filme que guarda alguma similaridade com Becky Bloom é o Diário de Bridget Jones. Assim como Bridget, Becky é atrapalhada e divertida, para sair de uma enrascada acaba entrando em outra, se apaixona por alguém improvável, consegue ser correspondida, mas não se cura do seu vício original.

Fica a sugestão para o exercício de reflexão sobre o quê, como e porquê consumimos tanto. Certamente seria possível se ter menos, se desapegar mais. E aí, quem sabe os consumidores conscientes de seus atos se tornem os agentes para significativas mudanças no sistema de moda hoje estabelecido?
Não custa nada tentar.

Maria Alice Rocha é doutora em moda pela University for the Creative Arts de Rochester, Inglaterra, e professora e pesquisadora de moda, vestuário e consumo na Universidade Federal Rural/PE.
Fale com Maria Alice Rocha: modalice08@terra.com.br

Muito além do chocolate


Contardo Caligaris, numa entrevista memorável à revista Primeira Leitura (maio de 2006), diz que o exercício da subjetividade é muito cansativo. Ser indivíduo, ele afirma, é um negócio complicado, pesado, e há uma tendência perigosa a se renunciar à individualidade e de se tornar instrumento de um funcionamento coletivo.

Por que estou citando Caligaris e o que isso tem a ver com o chocolate do título? Porque àquele finalzinho saboroso dos ovos de Páscoa, dos quais ainda nem demos conta totalmente, quero acrescentar uma reflexão motivada pela data.

Caligaris associa a origem do individualismo moderno ao cristianismo, no qual a relação com Deus é do foro íntimo de cada um. Independe do pertencimento a nação, grupo familiar ou condição social.

Ao mesmo tempo em que está profundamente vinculado à escolha do indivíduo, o Deus do cristianismo é também universal. A Páscoa, tanto a judaica quanto a cristã, fala de superação, de passagem de uma situação a outra. Para os cristãos, o sentido da passagem é marcado pelo sacrifício de Jesus, para salvação da humanidade. Um ato supremo de renúncia de si mesmo, transmutado em gesto de amor.

A máxima cristã diz "amar a Deus e ao próximo como a ti mesmo". Mas o que vem primeiro? O sentido mais forte da Páscoa é a generosidade presente na radicalidade do gesto de Cristo, entregando-se ao sacrifício supremo em nome do "próximo" universal, formado por todos os seres humanos. Seria então o amor ao outro que nos ensina a nos amarmos?

A idéia de amar primeiro a Deus fornece um norte, porque estaríamos diante do Grande Outro de que falava Lacan, a fonte original do amor. Então, se o amor a Deus ou a um princípio geral vem em primeiro lugar, o nosso aprendizado, tanto em relação a nós mesmos quanto aos demais, derivará desse vínculo fundante, do qual emana a capacidade de amar ao próximo, com as contradições, sofrimentos e virtudes há muito identificadas na primeira experiência de amor humano, cujo objeto são os pais ou quem lhes faça as vezes.

A psicanálise tem discussões muito interessantes a esse respeito. Acredito que é mesmo um tema chave para entendermos o nosso tempo, atolado em individualismo tão doentio que chega até mesmo a impossibilitar o amor a si, quanto mais aos próximos ou remotos.

Num tempo de amor desterritorializado, confuso, destituído de generosidade e confundido com posse, ascendência ou apegos sufocantes, a reflexão que vem da fé pode ajudar a pensar, até mesmo aos que não a tem. Pois, no fundo, o desafio está na recuperação da capacidade humana de transcender-se e ver genuinamente o outro, na beleza única de sua autonomia e diferença.

Esse é o lugar da individualidade constitutiva da irrevogável capacidade que tem o sujeito de fazer escolhas. Ela não pode ser uma couraça que impede a percepção da existência dos demais e, portanto, também da existência de um espaço coletivo no qual todos podem se encontrar, se completar e se sustentar.

Marina Silva é professora secundária de História, senadora pelo PT do Acre e ex-ministra do Meio Ambiente.

Fale com Marina Silva: marina.silva08@terra.com.br

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Tabu que precisa ser quebrado


Em meu artigo "Tabu que precisa ser quebrado", publicado hoje no Jornal do Brasil, um tema que está na pauta latino-americana: o enfrentamente do monopólio das comunicações e as novas medidas no sentido da democratização no setor.

Na Argentina, projeto de lei anunciado pela presidente Cristina Kirchner define nova regulamentação para as atividades de rádio e TV naquele país. No Brasil, com apoio do ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, está programada a Conferência Nacional de Comunicações.

Esta promete perturbar o sono dos barões da mídia e mobilizar a sociedade brasileira num grande debate sobre a democratização da comunicação, abrangendo temas como a concentração dos meios de comunicação em poucos monopólios, a legislação desatualizada da radiodifusão pública (e seus critérios de concessão), as novas mídias e o papel da comunicação social no país.

do Blog do Zé Dirceu
Leia esse artigo, publicado na Seção Artigos do Zé.

Supervia reprime superlotação em seus trens com chicotadas


RIO DE JANEIRO - Um dia depois de o JB online denunciar que os trens da Supervia estavam partindo de portas abertas, os funcionários da Supervia decidiram reprimir a prática que voltou a se repetir por causa da greve dos maquinistas. Só que a maneira encontrada pelos funcionários foi usar chicotes para empurrar as pessoas para dentro.

O flagrante foi registrado por câmeras da rede Globo há pouco e transmitidas no Bom Dia Brasil e no Radar RJ. A Supervia informou que seus agentes não são treinados para usar a força física, somente em último caso é que os trens não podem partir sem as portas fechadas. Segundo a Supervia, os passageiros que seguram as portas estão sujeitos à prisão

do Jornal do Brasil
08:17 - 15/04/2009
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Lula vai para a eleição de 2010


O’Neill enterrou os urubólogos
. A pesquisa Focus do Banco Central de hoje mostra que os economistas de bancos acreditam que a economia brasileira vá crescer 3,5% ano que vem.
. Jim O’ Neill (*), no Global Economics Weekly, April, 8, 2009, é menos otimista: o PIB do Brasil crescerá 3% em 2010.
. Ou seja, o PiG (**) perdeu a aposta.
. O PiG e seus urubólogos, com a Míriam Leitão à frente, tentaram derrubar a economia do Mundo (leia aqui sobre como o Governo Lula provoca a impotência) e do Brasil, como forma de o presidente Lula e seu candidato chegarem à eleição de 2010 jogados numa poça de sangue.
. É a teoria do “sangramento”, que o Farol de Alexandria pregou na crise do “mensalão” (que ainda está por provar-se): fazer o Lula sangrar e chegar à eleição exangue, para que o candidato do PiG se elegesse de forma consagradora.
. Não deu certo.
. O presidente Lula não vai sangrar em 2010.
. E o crescimento do PIB de seu Governo será o dobro dos oito anos do Farol de Alexandria.

Paulo Henrique Amorim
13/abril/2009 16:00

(*) Jim O’Neill é o economista-chefe da Goldman Sachs. Foi ele quem
disse que a economia dos BRICs – Brasil, Rússia, Índia e China – será maior do que a dos paises do G-7 em pouco tempo. O PiG (*) e seus especialistas tentaram desacreditar O’Neill, porque ele, depois de fazer previsão, disse ao Globo que o Governo Lula conduzia a política econômica com competência e o Brasil sairia da crise chamuscado, mas inteiro. E, com a crise nos países ricos, os BRICs chegarão mais perto, mais cedo.
(**) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

Reforma política, a única saída


No artigo semanal que escrevi para o Blog do Noblat - publicado por ele 6ª pp, 10.04, mas que em decorrência do nosso recesso da Páscoa, insiro hoje nesse diário - em defesa de uma reforma política neste país, alerto para a necessidade urgente de se fazer já essas mudanças para que possamos enfrentar definitivamente os problemas de Caixa 2 e da perda da legitimidade e representatividade do Legislativo brasileiro.

Afirmo no artigo que neste momento, o que mais interessa é a "reforma política que está na Câmara, de quem devemos cobrar, assim como dos partidos, a responsabilidade para dar uma resposta à onda de denúncias, às vezes com objetivos escusos de enfraquecer o legislativo, de colocá-lo de joelhos, de desmoralizá-lo perante o país, mas sem nenhuma dúvida com base em fatos reais e escandalosos como os que o país assiste estarrecido nesse momento, principalmente no Senado da República".

Também levanto respostas a algumas questões como: por que não se aprova a reforma política na Câmara dos Deputados? Por que o Brasil continua com 18 partidos no Parlamento e 30 registrados na justiça eleitoral? Por que continuamos com um sistema que estimula o Caixa 2 , aumenta o papel do poder econômico, enfraquece os partidos, deslegitima e afasta os parlamentares dos eleitores e custa caro?

Aos leitores interessados no tema, recomendo este artigo e também seu debate. Acesse a íntegra na Seção Artigo do Zé.

do blog do Zé Dirceu
13/04/2009

Contra a crise, ampliação do programa habitacional


Não se passa praticamente um dia sem que o governo adote medidas para evitar uma desaceleração da economia e garantir seu crescimento esse ano.
Além da continuidade dos investimentos do PAC e nos programas sociais, agora atendendo a uma demanda dos pequenos municípios, retifica programas como o habitacional e aumenta o universo das cidades a serem atendidas pelo "Minha Casa, MInha Vida", de construção de 1 milhão de moradias no país.

Com a correção, a totalidade dos quase 6 mil municípios brasileiros será contemplada e milhares de famílias com renda entre 1 e 3 salários mínimos terão acesso à casa própria. Antes, apenas os municípios com mais de 100 mil habitantes podiam se inscrever no programa e ter direito aos subsídios e redução de impostos e outros benefícios.

A Caixa Econômica Federal (CEF), a partir de dados técnicos e da renda das famílias, também reavaliará o cadastro de inscrição de cada município evitando, assim, manipulações ou favorecimento político em nível municipal.
Mas o governo tem que ficar muito atento para que não haja a burocratização do processo de decisão e se leve meses para concluir a seleção e a avaliação dos beneficiados. Outra medida salutar foi a introdução do sorteio no caso de excesso de pretendentes. É mais uma garantia para se evitar o uso político e partidário do programa, tão comum no passado.

do blog do Zé Dirceu
14/04/2009

terça-feira, 14 de abril de 2009

Loucos de raiva ou doentes de amor


O ator Peter Finch recebeu um merecido Oscar póstumo pelo filme Rede de Intrigas , no qual interpreta o âncora de TV Howard Beale.
Beale passa por severas crises de depressão e surtos de insanidade, mas seus produtores, em vez de de sugerir um tratamento médico, resolvem fazer uso de sua condição para aumentar a audiência da atração apresentada por ele.
O âncora pouco a pouco se torna uma celebridade nacional, graças ao bordão que grita durante seu programa: ''Eu estou louco de raiva e eu não vou mais tolerar isso!''
Pois os âncoras de algumas das principais atrações televisivas americanas estão cada dia mais parecidos com Howard Beale, seja à esquerda ou à direita.
Entre os que estão loucos de raiva, está, por exemplo, Glenn Beck, da rede Fox, que se diz ''justa e equilibrada''.
Beck volta e meia se debulha em lágrimas em seu programa. Uma de suas choradeiras mais recentes se deu quando Barack Obama anunciou seu pacote de estímulo econômico.
Para Beck, as ações do presidente americano são sinal de que o país está na estrada do socialismo, usando táticas idênticas às dos regimes de extrema-esquerda ou dos governos fascistas, como ele mesmo falou.
Beck também aproveita, quando surge a oportunidade, para louvar o ativismo de militantes pró-porte armas, porque estes estariam buscando ''retomar o controle do nosso país''.
Bill O'Reilly, o colega mais famoso de Glenn Beck na Fox, há poucos dias pediu que o primeiro-ministro da Espanha, José Luis Rodrigeuz, se desculpasse publicamente ao povo americano, porque um promotor do país pediu o indiciamento, por crimes de guerra, de ex-integrantes do alto escalão do governo Bush.
Ele também afirmou: ''O homem está lelé'', sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando soube da declaração do líder brasileiro de que a crise financeira global foi causada por homens brancos e de olhos azuis.
A emissora para a qual O'Reilly e Beck trabalham também não ajuda.
Recentemente, como bem lembrou em sua coluna, Matt Frei, âncora do programa BBC World News America, a Fox destacou que, durante a visita à Turquia, o presidente americano vinha revelando o seu outrora omitido nome do meio, sendo apresentado como Barack Hussein Obama.
A reportagem era ilustrada com a capa de uma recente edição da revista Newsweek estampada com a manchete ''O Declínio da América Cristã'' e o apresentador da Fox atentava para o fato de que tudo isso se dava faltando poucos dias para a Páscoa.
No outro extremo da esfera política, há Keith Olberman, apresentador de Countdown with Keith Olberman , da rede MSNBC.
Com a saída de George W. Bush da Casa Branca, que chegou a ser chamado por ele de ''idiota-no-comando'', a ira do apresentador se voltou contra a oposição republicana, descrita por ele como o ''partido do não''.
Seus alvos principais são figuras como o deputado republicano Eddie Cantor, segundo ele incapaz de sugerir uma alternativa ao orçamento de Obama ou a governadora Sarah Palin, que se tornou um símbolo da direita americana desde que concorreu a vice na chapa de John McCain.
Colega de Olberman na MSNBC, Chris Matthews compartilha do ódio visceral pelos republicanos, mas é louco de amor por Barack Obama, a quem prometou ajudar, fazendo tudo o que estivesse a seu alcance.
Eles podem ser tendenciosos e não fazer a menor questão de esconder suas preferências, mas o estilo inflamado (inflamatório, dirão alguns) dos âncoras americanos gera resultados, a julgar pela audiência cativa que eles possuem.
BBC Brasil : Bruno Garcez 9/04/2009

No Brasil, somos todos corruptos


Ainda não destaquei com o destaque que merece, cá no Weblog, o Notícias da Corrupção do Pax. Documentar é importante – e ele parece dedicado a continuar. Futuramente, será uma ferramenta e tanto na qual checar nossos futuros candidatos.

O assunto Daniel Dantas não vai embora – e nem deve. Pouco antes de vir para os EUA, no ano passado, passei algumas horas com o cientista político Bolívar Lamounier. Eu tinha uma pauta bastante específica nas mãos: compreender qual a origem e as características da corrupção no Brasil. Ele me deu uma entrevista que vem me perseguindo desde então, sobre a qual não consigo parar de pensar. Fui consultar nos arquivos do Weblog e descobri, pasmo, que não fiz remissão a ela na época.
A versão completa está no site do Estadão. Mas cá vai um trecho:

Quais as causas da corrupção brasileira?
São três. A primeira é o crescimento econômico. Lá nos anos 50, desenvolvimentistas, acreditávamos que o enriquecimento do País levaria a uma população mais bem educada e enfim teríamos um Estado impessoal no qual todos que quebrassem a lei seriam punidos. O Brasil enriqueceu e nada disso aconteceu. Sempre que há um momento de crescimento econômico e modernização, surgem novas oportunidades de corrupção. É assim em todo lugar, não só nas nações pobres. Na França ou nos EUA, também. É quando aparece o conluio de grupos para fraudar licitações promovidas pelo Estado, por exemplo. Porque são oportunidades óbvias, envolvendo grandes quantias. Mesmo nas nações mais liberais, quando a economia cresce o Estado contrata muitos serviços envolvendo valores altos. Quando um país passa por uma grande transformação econômica, como é nosso caso, a tendência aumenta. No caso das privatizações, por exemplo, grandes somas passaram de uma mão para a outra e a corrupção foi inevitável, por mais que existissem controles. Na Rússia foi muito pior. O Japão tem uma corrupção monstro até hoje. A Coréia do Sul, também. São governos que concentram muito poder. A China se tornou capitalista faz quanto tempo? Vinte anos. E já ostenta um número grande de bilionários. Mesmo considerando o ritmo de crescimento chinês, essa riqueza veio como? Não pelo mérito.

E a segunda causa?
Mobilidade social. Nosso País tem 200 milhões de pessoas, metade delas muito carentes, a outra metade louca para melhorar de vida. Há muita mobilidade social. Quem diz que, no Brasil, o pobre nasce e morre pobre está no mundo da lua. Qualquer pequeno movimento da economia provoca mudanças imediatas, toda oportunidade aqui é aproveitada, pois o mercado é imenso e tem carências enormes. Nos últimos meses, por exemplo, quando o crédito para automóvel se estendeu, todo mundo comprou imediatamente sem se preocupar com quantas prestações ia pagar ou com o trânsito ruim. Automóvel facilita a vida e é um símbolo de status. O brasileiro tem uma vontade incrível de melhorar de vida, de ter melhor situação que a que seu pai teve. Junte as duas questões, oportunidades de corrupção e a vontade de melhorar de vida, e una isso à terceira causa: as normas brasileiras são frouxas.

É nossa herança portuguesa?
As normas morais, no Brasil, sempre foram fraquíssimas. Comparado à Europa, tivemos, por exemplo, uma Igreja muito fraca. O Direito, até há muito pouco tempo, não chegava a boa parte do País. As normas sociais são débeis e o Estado é incapaz de aplicá-las. A origem disso é o de menos. Nosso problema não é o passado, é o presente. Voltemos a Rousseau. Há algumas décadas, a Igreja no Brasil era fraca, mas muito reacionária. Defendia a propriedade, o latifúndio. Hoje, a Igreja é outra, acredita em Rousseau. Essa visão de que o povo é essencialmente bom, mas corrompido pelo ambiente, se espalhou por todos os setores da sociedade. É uma mentalidade que impede a aplicação da lei. Só a defesa do altruísmo é legítima. Um grupo que defenda seus interesses é considerado imoral. A palavra “interesse” soa suja, sugere um indivíduo calculista. Acreditamos em Papai Noel. Cremos que as pessoas são boas por princípio. Nos EUA, a cabeça deles não é Rousseau. É Thomas Hobbes. Para eles, as pessoas são más. É preciso vigiar o comportamento a toda hora. É preciso cumprir a lei porque se não cumprir a transgressão será generalizada. Polícia não tem que achar que as pessoas são boas ou são más. Tem é que olhar transgressão. A política tem que lidar com a probabilidade de certos comportamentos ocorrerem e se prevenir. Achamos que tudo que deu errado no Brasil tem uma origem social em algum ponto do latifúndio, da família patriarcal ou do que quer que seja. É ingenuidade. Nós somos uma sociedade de 200 milhões de pessoas, completamente urbana e pobre. É um País diferente.

Do blog do Pedro Doria 9/April/2009
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