sexta-feira, 26 de maio de 2017

O pós Temer.

Rene Carvalho

A natureza da crise impacta decisivamente suas propostas de solução. Ela ainda se caracteriza, no plano imediato, pelo confronto entre as duas alas golpistas por mais poder. Apesar de todo seu desgaste anterior, Temer foi colocado na parede pela delação da Friboi, organizada pela PGR. Seu objetivo: garantir que o indicado por Janot seja o próximo procurador geral da república. A contradição central entre golpistas e oposição democrática e popular, embora amadureça ainda não se tornou decisiva.

O caminho da eleição indireta para seu substituto baseia-se no que unifica os golpistas: a aprovação das reformas antipopulares. E daria início a mais uma rodada da briga entre alas golpistas. Os grandes empresários buscam um novo interino que não esteja na linha de mira da lava a jato e da PGR. A maioria parlamentar golpista – importante para manter uma ficção de legalidade - quer alguém comprometido com uma anistia aos parlamentares.

É uma equação de difícil solução para eles que no momento só permite soluções momentâneas mais ou menos adaptadas à correlação de forças entre alas golpistas. Ganhar tempo para votar as ditas reformas e até que se estabeleça um nítido predomínio entre as alas do golpe.

Janio de Freitas diz hoje em sua crônica que após as manifestações de ontem e a violenta repressão policial e militar passamos a uma nova etapa da luta social. A luta por eleições diretas e gerais possivelmente não será vitoriosa nessa conjuntura. Mas um novo interino eleito no congresso não estanca a crise. Não sei se o congresso vota reformas sem garantias de ao menos ocupar muitos ministérios e ter resposta sobre possíveis formas de anistia. Questão complexa para eles: uma anistia a corruptos e ladrões equivale a quebrar a força política da lava a jato e a procuradoria. Não sei também se um novo interino de fora do congresso não se queimaria rapidamente ao dar continuidade ao projeto Temer.

A eleição indireta possivelmente prevalecerá. Mas a crise política só tem duas soluções reais: eleições diretas e gerais ou regime de exceção. Oposição popular e resistência democrática juntos são amplamente majoritárias. A dificuldade é sua convergência e sua expressão clara na arena política. Por outro lado, não esqueçamos, o estado de exceção é a principal carta na mão dos mentores do golpe. E pode seduzir parcelas importantes das duas alas golpistas.



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