sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Graduado de universidade pública tem que ser voluntário



A ideia de Scliar


Eduardo Tessler


O escritor Moacyr Scliar, morto em fevereiro pouco antes de completar 74 anos, era também médico sanitarista. Filho de imigrantes judeus da Europa do Leste, o imortal aprendeu cedo que o indivíduo tem missões sociais na Terra. A de Scliar era tratar epidemias e deixar uma fantástica obra literária.

O que pouca gente sabe é que, quando Moacyr Scliar ingressou no curso de medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), entendeu que passava a ter uma dívida com a sociedade. Se a Universidade era pública, como "devolver" os valores investidos nele? O escritor - que já tinha seus primeiros textos publicados - decidiu que deveria cumprir tarefas sociais, dar algum benefício para a sociedade. Era a maneira de compensar os estudos pagos pela mesma sociedade.

A percepção de Scliar levanta um posicionamento que, se virar moda - ou lei -, poderia mudar a lógica do ensino público e fazer a sociedade ganhar um benefício inestimável.

O modelo seria o seguinte: todo e qualquer profissional formado por universidades públicas deverá dedicar 20% de seu tempo útil (um dia por semana) para trabalhos voluntários, dentro de sua área de atuação, pelo tempo equivalente ao que permaneceu estudando.

Por exemplo: médicos formados pela USP, UFRJ e demais universidades públicas teriam um dia por semana de consultas grátis para a comunidade, uma espécie de SUS durante seis anos (a duração do curso de medicina). Advogados formados pela UFRGS ou pela UFMG dariam um dia por semana de defesa pública durante cinco anos (a duração do curso de direito), sem cobrar um tostão. E assim por diante.

Todos esses serviços desburocratizados, administrados pela própria universidade pública, fáceis, abertos à população e à comunidade acadêmica. Quem não quisesse prestar esses serviços à comunidade poderia reembolsar a instituição, com valores equivalentes aos das universidades privadas, seguindo a mesma lógica do prazo igual à duração do curso.

A ideia de Scliar pode desagradar os defensores apaixonados da linha de raciocínio das universidades públicas de hoje. Mas sem dúvidas é a mais justa: investe no cidadão e beneficia a sociedade. Melhor ainda, garante a saúde financeira das instituições, desenvolve ações comunitárias e resolve problemas crônicos de serviços básicos.

Para se pensar.


Terra Magazine

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