segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Alcácer Quibir



O ex-ministro da Defesa quebrou todos os códigos de civilidade, opina Cláudio Lembo

Cláudio Lembo

Agosto sempre apresenta surpresas. Diziam os antigos que é mês de má sorte. Por mais cética que seja a pessoa, ao chegar este mês do ano, procura se munir de bons amuletos. 

Os amuletos podem ser meramente mentais. Rezas ou pensamentos positivos. Aqueles mais angustiados vão além. Buscam talismãs originários das mais variadas crenças: bentinhos, figas, fitas, escapulários, rezas.
Difícil encontrar alguém que escape desta síndrome do mês de agosto. Certamente, a origem perde-se no fundo dos tempos. Aqui, em terras brasílicas, em sua vertente portuguesa, um acontecimento marcou agosto para sempre.

Em quatro de agosto de 1578, nas areias de Marrocos, o rei D. Sebastião, na busca de ampliar seu reino e a cristandade, lançou-se em batalha contra o exército de Mulet Abde Almélique.

Era agosto. O resultado não podia ser outro. Morreu D. Sebastião. O episódio levou à integração de Portugal à Espanha. Surgia a União Ibérica e se sucederam grandes derrotas nos campos de batalha.
A morte do monarca português - em pleno mês de agosto - não foi singular. Com ele, morreu grande parte da nobreza portuguesa e, como consequência do conflito com os marroquinos, dois monarcas nativos.
O combate de Alcácer Quibir - o Pequeno Castelo - é conhecido como a "Batalha dos Três Reis", em virtude da morte deste número de monarcas no decorrer dos embates. Os fluidos do mês de agosto atingiram a todos.

Pode ser mera coincidência. Mas muitas vezes, em outros agostos, situações inusitadas ocorreram. Jânio Quadros, em gesto incomum na política brasileira, renunciou a presidência da República no Dia do Soldado, exatamente 25 de agosto.

Seriam necessários estudos atilados para se recolherem todos os agostos e suas tragédias ou situações incomuns. Nos dias correntes, porém, basta olhar as manchetes para se captar em que mês estamos.
As bolsas de valores desabam. Os Estados Unidos da América e sua reputação econômica são maculados por uma mera agência de classificação. Perderam a pureza.
O presidente Obama, que foi eleito baseado na assertiva "nós podemos", constatou que os ardis da política são superiores às boas intenções por mais edificantes que estas possam ser.

Vale a mesma observação para o Brasil. A presidenta Dilma acreditou em determinadas figuras tradicionais no cenário público. Deu no que deu. Falaram mais do que deviam.
Uma semana de tirar o fôlego do mais competente quadro das Forças Armadas. Um ministro da Defesa sem limites. Invadiu todos os manuais de boas maneiras. Violou todos os códigos de civilidade.

Começou sua ação verbal em julho, mas em agosto - como não podia deixar de ser - atingiu o mais alto grau. Deixou a Amazônia e foi recolhido ao Palácio do Planalto sem direito ao tradicional cafezinho.
Episódios próprios do mês de agosto. Felizmente, a presidente Dilma foi à Bahia. Espera-se que tenha prestado sua homenagem ao Senhor do Bonfim.
Lá, em Salvador, alguém deverá ter ofertado à presidenta uma tradicional fitinha-pulseira. Ela está precisando, assim como os outros cento e oitenta milhões de brasileiros.

Agosto não é fácil. Até agora, nas margens do Tejo existem pessoas esperando o retorno do rei encantado. Este mesmo rei encantado, nas areias marroquinas, é lembrado nos sertões brasileiros.
São reflexos de agosto, Nunca com acontecimentos positivos. Há uma malignidade intrínseca nos dias frios e ensolarados do oitavo mês do ano.

Só cabe esperar o seu fim. Ainda faltam vinte e três dias. É muito tempo. Dá para acontecer ainda coisas incríveis. É só esperar.


Magazine terra

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