segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Imperialismo à brasileira



Thelman Madeira de Souza
Coincidência ou não, os desejos expansionistas e imperialistas do Brasil, ainda que passem despercebidos para muitos, tem sua origem na Guerra do Paraguai, em abril de 1866, uma das ocupações mais sangrentas na história das Américas e o episódio mais vergonhoso da nossa história

O maior teórico do imperialismo, indubitavelmente, foi Lenin. Com a cabeça de pensador engajado, e após revisão criteriosa de inúmeros trabalhos sobre o assunto, lançou as bases deste conceito, até hoje, tão caro às ciências sociais, quando descobriu que a livre concorrência, uma marca indelével do modo de produção capitalista, dera lugar aos monopólios, em virtude do aumento extraordinário da produção de mercadorias e da grande concentração de capital. 


Concluiu ainda que, ao entrar nessa nova fase monopolista, o capitalismo passou a priorizar a exportação de capitais, no lugar da exportação de mercadorias, ao mesmo tempo em que o mercado externo ganhou importância, como esfera de assimilação dos excedentes de capitais dos países industrialmente desenvolvidos. Desse modo, nascia o imperialismo, a fase monopolista e financeira do capitalismo.


A teoria leninista do imperialismo, que data do início do século 20 e analisa o pleno desenvolvimento do sistema capitalista das últimas décadas do século 19, se fundamenta no fato de que os capitalistas dos Estados mais desenvolvidos economicamente são compelidos — pela redução dos lucros auferidos no mercado interno, fruto de uma concorrência encarniçada — a buscar o mercado externo, de tipo monopólico, onde poucos controlam milhares de trabalhadores.



É evidente que a consolidação dos monopólios traz consigo o domínio do Estado pelo poder econômico, o que influencia, sobremodo, a política nacional. O mundo passa a ser dividido por áreas de influência dos diferentes monopólios. Com a partilha, recrudesce o conflito de interesses entre os diferentes grupos econômicos, e a guerra de rapina se torna inevitável, permitindo que os Estados imperiais usem da violência contra os Estados subjugados. 

É a partir de 1870, após a unificação alemã e italiana, que se intensificam os comportamentos imperialistas que permitiram o redesenho do continente africano pelos colonizadores europeus. Mais adiante, terminadas as duas grandes guerras mundiais, e com o arrefecimento do imperialismo europeu, principalmente o inglês, o francês e o alemão, assume papel de destaque o imperialismo dos Estados Unidos na forma de uma política neocolonialista.



Ora, nada mais atual do que o afirmado pelo gênio de Lenin, principalmente se levarmos em conta que, neste início do século 21, o imperialismo mantém as suas características iniciais, embora adote uma política mais agressiva na conquista de novos mercados. 


A nova ordem capitalista mundial, que aparece como a organização internacional dos mercados sob a direção de uma verdadeira burguesia internacional, é o império que amedronta, subjuga e, dependendo das circunstâncias e resguardados certos limites, também permite que um país emergente do capitalismo periférico, como o Brasil, expanda o seu capitalismo para toda a América do Sul.


Coincidência ou não, os desejos expansionistas e imperialistas do Brasil, ainda que passem despercebidos para muitos, tem sua origem na Guerra do Paraguai, em abril de 1866, uma das ocupações mais sangrentas na história das Américas e o episódio mais vergonhoso da nossa história. Nessa oportunidade, o Brasil liderou a coalizão que invadiu o país vizinho, destroçou a sua economia, pujante à época, e deixou como saldo a morte de 70% da população, em nome da liberdade e da civilização. Nos dias de hoje, paraguaios ainda referem que o seu país sofreu a maior agressão imperialista na América do Sul.


Conhecido por uma postura de submissão aos interesses dos países do capitalismo central, o Brasil, ainda assim, conseguiu um lugar ao sol, quando deixou de ser colônia de Portugal e, quase dois séculos após, recebeu o apelido de potência emergente. No entanto, o efeito desta condição produziu críticas ácidas ao nosso modo de convivência com os vizinhos, quase sempre, incomodados com nossa prepotência no trato das questões diplomáticas, haja vista a resistência dos governos equatoriano e boliviano às nossas pretensões hegemônicas, quando propuseram a privatização de algumas empresas brasileiras, durante o primeiro governo Lula. 


A tentativa de impor a nossa vontade, desconsiderando os interesses da Bolívia e do Equador, era um indício claro de que, ao alvorecer do terceiro milênio, o Brasil despiu as vestes de bom samaritano, coisa que nunca foi, e exibiu as presas afiadas de uma burguesia nacional famélica por lucro fácil. Ainda no primeiro mandato de Lula, este anuncia, aos quatro cantos, que o Brasil era o país líder na América do Sul, e se candidataria a um assento no Conselho de Segurança da ONU. 


Ao assumir a candidatura, o Brasil se vê na obrigação de atuar como parceiro menor do imperialismo global e aceita a missão vergonhosa de comandar as tropas da ONU enviadas ao Haiti, após a deposição de um presidente legitimamente eleito, com auxílio dos EUA, o que significa apoiar uma interferência americana nas questões internas do pequeno país caribenho. De resto, não paira dúvida que estamos diante de uma ação estatal, para estabelecer domínio sobre um território que não é nosso, na busca de vantagens: é o Brasil materializando a sua política imperialista.


Com o governo Dilma não é diferente: as empresas brasileiras continuam a investir no exterior, notadamente na América Latina. Esse investimento é alto e se dá, através do financiamento, construção e exploração de megaprojetos em espaços de grandes recursos naturais, muito sensíveis ao desequilíbrio ecológico, e de grande importância geopolítica.


Tudo isso, em nome da integração sul-americana. Mas, apesar das vantagens auferidas na maioria dos países, as empresas brasileiras se comportam como as multinacionais americanas, isto é, levando às últimas consequências a exploração dos trabalhadores. A ação dessas empresas e a intenção de o atual governo brasileiro liderar um bloco econômico regional estão levando os nossos vizinhos a reclamar dos pupilos do império gringo, do imperialismo à brasileira.


Jornal do Brasil


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