quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Contra a desindustrialização, pela valorização do trabalho.



Dilma não pode governar de costas para a classe trabalhadora


As centrais sindicais deram uma demonstração de força quarta-feira, 3, ao reunir cerca de 80 mil pessoas no estádio do Pacaembu, em São Paulo, numa manifestação por mudanças na política econômica e por um projeto nacional de desenvolvimento fundado em três valores básicos: democracia, soberania e valorização do trabalho.

O ato unificado, organizado pela Força Sindical, CTB, UGT, Nova Central e CGTB, não teve a presença da CUT, cuja conduta reflete o que os líderes das demais centrais caracterizam como exclusivismo. O Plano Brasil Maior, divulgado terça-feira (2) pelo governo, foi alvo de críticas durante o evento.

Lançado com a boa intenção de estimular a produção industrial e combater a chamada desindustrialização, o plano peca por timidez ou pela falta de ousadia e na opinião dos sindicalistas é insuficiente para enfrentar os desafios que emergem da crise mundial do capitalismo e da ordem econômica baseada no padrão dólar e na hegemonia dos EUA. 

A desoneração da folha de pagamento para alguns ramos (confecções, calçados, móveis e tecnologia da informação) também preocupa as lideranças trabalhistas por implicar perda de receitas para a Previdência, cujo enfraquecimento joga água no moinho dos privatistas.

A iniciativa do governo é, em si, positiva, assim como algumas medidas anunciadas. Mas as causas mais relevantes da desindustrialização e que constituem, notoriamente, os principais obstáculos ao crescimento mais robusto da economia nacional não foram tocadas ou mesmo mencionadas: as políticas monetária, cambial e fiscal. 

A sobrevalorização do real “promove uma desindustrialização que nenhuma política industrial será capaz de reverter”, conforme ressaltou o economista e ex-ministro Bresser Pereira, que cita as indústrias chinesas e indianas entre as que têm se beneficiado do controle cambial em seus países. Urge mudar a política cambial, reduzir as taxas de juros e impor um rigoroso controle sobre os fluxos de capitais estrangeiros. 

Os sindicalistas criticam também o fato de que o governo Dilma convidou os representantes do capital para participar da elaboração do plano, mas não consultou previamente os trabalhadores. Alguns dias antes do lançamento, as centrais foram convocadas para o evento e não compareceram.

Os trabalhadores notam que o desprezo deliberado pelos movimentos sindicais reitera uma velha concepção e prática dos governantes brasileiros, segundo a qual o sindicalismo (trabalhista) não tem que dar palpite sobre políticas de desenvolvimento ou coisas do gênero e deve se limitar às reivindicações salariais, com moderação para não comprometer a estabilidade monetária. 

Não basta que a força de trabalho seja alienada dos meios e do resultado da produção pelo sistema capitalista, resignando-se com salários miseráveis e as arbitrariedades do proprietário desses meios, o capitalista, que pode demitir e demite à vontade e sem justa causa. É necessário que também seja alienada da política. Esperava-se que as coisas mudassem após a eleição de Lula, um líder popular originário do movimento operário, que tinha mais respeito pelos históricos aliados. 

O preconceito classista (contra a classe trabalhadora, já que líderes de entidades sindicais patronais, como CNI e Fiesp, mereceram outro tratamento do governo), despertou uma compreensível indignação entre dirigentes das centrais sindicais, que não pouparam energia na campanha pela eleição da presidente Dilma em 2010.

“É preciso que a presidente escolha com quem vai governar”, observou Wagner Gomes, presidente da CTB. “O Lula contou com nosso apoio para promover mudanças”, complementou. “Dilma não vai fazer isto se voltar as costas para a classe trabalhadora”.

As centrais reclamam mudanças na orientação macroeconômica, começando pela redução dos juros e controle do câmbio, e reiteram bandeiras históricas como a redução da jornada de trabalho sem redução de salários, reforma agrária, reforma urbana, ratificação da Convenção 158 da OIT (que coíbe demissões imotivadas) e fim do fator previdenciário, entre outras.

O trabalho, conforme notaram os fundadores da moderna economia política, é a fonte do valor econômico e de toda riqueza social. A batalha das centrais por um maior protagonismo da classe trabalhadora na definição de um novo projeto nacional de desenvolvimento não é só justa. É igualmente indispensável para que o Brasil derrote de vez o neoliberalismo, que ainda orienta a macroeconomia, e avance na conquista da soberania, do progresso e da justiça social. 

Vermelho

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