quarta-feira, 2 de março de 2011
Em São Paulo, trânsito já mata mais que as armas
Capital paulista registra redução nas mortes, mas ainda lidera ranking; maioria das vítimas está na faixa dos 20 anos
Rafael Moraes Moura
O risco de um jovem morrer no trânsito é maior na capital paulista, em comparação com as demais metrópoles brasileiras. Embora a cidade registre queda de 9% nos chamados acidentes de transporte entre 1998 e 2008, os números ainda preocupam. Na população paulista, em geral, já é mais fácil morrer em um acidente com um veículo do que de homicídio.
Segundo o Mapa da Violência 2011, os óbitos em acidentes de transporte entre a população brasileira passaram de 30.994 em 1998 para 39.211 em 2008, um salto de 26,5% - no universo jovem, o crescimento foi de 32,4%. Na faixa dos 20 anos, o aumento foi ainda maior: 43,7%. A taxa de óbitos entre os jovens de 20 anos chegou a 34,6 por 100 mil, ante 27,1 por 100 mil dez anos antes.
Em 2008, morreram diariamente 107,1 pessoas vítimas de acidente de transporte em todo o País - dessas, 24,3 eram jovens; 82,8, não jovens. Os acidentes de transporte representaram 19,3% dos óbitos juvenis no Brasil. No Estado de São Paulo, o índice chegou a 26,7%, superando o de homicídios na região (24,4%). Apenas em Roraima, Tocantins, Piauí e Santa Catarina, o fenômeno se repete - mais jovens mortos em acidentes de transporte do que em homicídios. Entre os não jovens, os acidentes de transporte foram 0,9% dos óbitos.
Vitimização juvenil. De cada quatro óbitos por acidente de transporte entre a população jovem, um ocorreu no domingo. Sábado (19,3%) e segunda-feira (12,3%) são os outros dias da semana com a maior porcentagem de casos. As mortes de não jovens - pessoas abaixo de 15 ou superior a 24 anos - seguem padrão semelhante.
Os dados levantados pelo Mapa da Violência 2011 também indicam que, a partir de 2004, há crescimento da vitimização juvenil, ou seja, mais jovens que adultos morrendo em acidentes de transporte.
Em 2008, o Índice de Vitimização, que relaciona as taxas de óbitos entre jovens com as de não jovens, foi de 131, o que indica que morreram 31% a mais de vítimas jovens. Na cidade de São Paulo, a vitimização juvenil foi de 63,8%, a maior entre as capitais. Santa Catarina liderou entre os Estados (57,2%).
Para o sociólogo e pesquisador Julio Jacobo Waiselfisz, uma série de fatores explica o aumento da vitimização juvenil. "A fiscalização não alcança o nível que deveria e há outras questões, como o abuso de álcool, a facilidade de acesso a carros e a utilização de motocicletas, que são mais arriscadas", comenta.
As piores cidades. O fator "moto" também aparece ao analisar as cidades no País que lideram em mortes no trânsito. Barbalha, na região do Cariri, a 503 km de Fortaleza, está no topo do ranking da população em geral de casos de mortes, com 207,6 mil casos por 100 mil habitantes.
Acaraú, que fica no litoral oeste, é campeã entre a população jovem (de 15 a 24 anos), com 280 mortos por 100 mil habitantes.
"No interior, o vaqueiro e o agricultor trocaram o cavalo pela moto, fato que agrava ainda mais o número de acidentes", aponta o presidente do Conselho Estadual de Trânsito (Centran), Luiz Tigre. De 2004 a 2010, a frota de duas rodas cresceu 128,4%, passando de 282,8 mil para 644,9 mil unidades.
O Estado de São Paulo
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