quinta-feira, 24 de março de 2011

Prostituição: mero objeto, o que existe por trás do glamour e da banalização


Até que enfim apareceu, em "Bruna Surfistinha", uma atriz famosa da TV fazendo um papel de prostituta sem glamourizar a profissão... já que, em algumas novelas, essas moças de vida difícil foram retratadas, diversas vezes, de forma perigosamente romanceada.

Já entrevistei prostitutas de rua, de luxo e atrizes de filme pornô, e vi que, realmente, para algumas delas, a coisa é mesmo pura diversão. Para outras, casadas e com filhos, a prostituição é apenas um trabalho como outro qualquer, e elas se dizem perfeitamente capazes de estar na cama com um homem pensando só no dinheiro, enquanto que, com seus maridos ou namorados, o lance é bem diferente: aí sim, rola prazer e amor.

E conheci, finalmente, aquelas que sofrem demais com a vida que levam.

Vi, dias atrás, um documentário sobre o assunto, que mostrou três diferentes tipos de prostitutas: as de Bangladesh, vendidas na infância a cafetinas e marcadas para sempre como “poluídas”. Ali, elas não têm o direito nem mesmo de exigir que o cliente use preservativo, e atendem, em média, dez homens por dia, a US$ 2 cada um.

Depois, vi as prostitutas de luxo da Austrália, que trabalham em bordéis legalizados e 5 estrelas, onde ganham cerca de US$ 170 mil dólares por ano: estão entre os mais ricos do país.

-- Somos inteligentes, adoramos o que fazemos e somos boas nisso. Gostamos de sexo e estamos aqui para ser pagas e fazer o que sabemos fazer bem – disse uma delas, orgulhosamente.

Tidas como aberração por uns, como pervertidas por outros, doentes, taradas ou amorais, estas moças que estudaram, que são jovens, que poderiam escolher outra forma de viver são, no meu entender, uma coisa só: vazias por dentro. Sem nenhum juízo de valor, acredito que elas não descobriram, ainda, o seu próprio valor como gente. E se deixam enganar pelo luxo, pelo dinheiro e pela juventude, e até mesmo pela idéia de que são modernas e liberadas... estas moças simplesmente não amadureceram.

Nos Estados Unidos, as prostitutas de rua me lembraram as que entrevistei nas ruas do Brasil: pobres, sem instrução, violentadas, vítimas de abusos sexuais na infância. As pesquisas e estudos comprovam que o mundo da prostituição -- ao menos em países onde a profissão é ilegal – é o inferno na Terra: violência, drogas, escravidão, tortura, doenças e morte.

O tráfico de mulheres, que tornou-se um problema mundial, é responsável por 1/3 das prostitutas existentes no mundo, que entram nesta vida como escravas. Nos EUA, cerca de 70% das prostitutas foram vítimas de incesto na infância. E, depois que caem nas ruas e se drogam para suportar sua realidade, dificilmente conseguem sair, já que passam a ser exploradas por cafetões. Mais de 85% são viciadas em crack, remédios e álcool.
E quem é que vai dar emprego a uma ex-prostituta? Uma mulher sem auto-estima, sem esperança, sem instrução e, muito provavelmente, doente?

Como disse a socióloga Sheila Jeffreys, ao fim do documentário:
-- Enquanto houver prostituição, qualquer mulher poderá ser vista como prostituta, e isso afeta os seus relacionamentos e o sexo que elas provavelmente terão. Porque este é um modelo de relacionamento em que o homem faz dela um objeto, e não tem nada a ver com a igualdade, a sexualidade ou o prazer da mulher.Isso afeta toda a construção da sexualidade de uma sociedade.

Jornal do Brasil

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