Oficialmente, os líderes do G-20 se reúnem hoje, em Londres. Mas as conversas já vêm acontecendo com intensidade há meses. Um dia Lula está com Obama. No outro, Sarkozy e Angela Merkel estão juntos – e aí é a vez de Merkel com Putin. O papa escreve a Gordon Brown – premiê britânico que, evidentemente, já se encontrou com todos nas últimas duas semanas: Lula, Obama, Sarkozy, Merkel, Putin.
Os EUA chegam a Londres com o pires na mão.
Querem que os governos do G-20 soltem mais dinheiro em suas economias, grandes pacotes como aquele que Obama espera ver aprovado. Querem também que os governos do G-20 o ajudem a injetar dinheiro no FMI.
Os dois pedidos de dinheiro são complicados.
Os europeus não desejam injetar mais dinheiro. Eles acreditam que a teia de serviços sociais – da previdência ao seguro desemprego – em seus países serão suficientes para conter o agravamento da crise.
Na questão do FMI, a situação é conosco – Brasil, Rússia, Índia e China. Os BRICs não têm nenhum estímulo para ajudar o FMI. O Fundo Monetário Internacional conta, hoje, com 250 bilhões de dólares em caixa para ajudar nações em apuros. Receberá mais 100 bi dos EUA, o Japão prometeu outros 100, a União Européia contribuirá com igual quantia. Mas, para engordar mais o fundo, é preciso dar mais poderes aos sócios em ascensão.
Hoje, os europeus indicam quem manda no FMI e os norte-americanos escolhem a chefia do Banco Mundial. Enquanto o jogo de comadres continuar, não haverá mais dinheiro. Se o jogo de comadres ainda fosse viável, não haveria esta reunião do G20. Estariam ainda no G8 discutindo os destinos do mundo.
Por outro lado, a Europa quer algo que os EUA não parecem dispostos a dar: mais regulamentação dos bancos. Os europeus, com exceção do Reino Unido, têm uma proposta. Primeiro, obrigam os bancos a juntar mais dinheiro quando a economia estiver em alta. Precisam ter mais em caixa, não podem jogar tudo. Os EUA até são capazes de topar uma variação deste item. O que mata é o segundo.
Angela Merkel e Nicolas Sarkozy sugerem que instituições financeiras devem ser punidas se oferecerem a seus executivos bonificações por comportamento arriscado.
Tudo pode ser resumido assim: Europa quer regulamentar. Os EUA querem injetar dinheiro na economia.
Enquanto os membros do G8 não se entendem, outros têm preocupações distintas: defendem o livre mercado. Ao longo do último ano, a União Européia aumentou os subsídios agrícolas, os EUA injetaram cláusulas de compra de produtos americanos em seus contratos, a Rússia passou a taxar carros. A China comunista, quem diria, é a mais aguerrida defensora da livre circulação de produtos e capital pelo mundo neste momento. (Circulação de produtos, que se entenda bem; livre circulação de pessoas e idéias, internamente, continua não podendo.)
Mas, neste caso, os chineses encontram no Brasil um de seus principais aliados.
É uma reunião de alto nível, esta, uma reunião particularmente importante, embora um bocado complexa. Nos próximos dias, saberemos se alguém conseguiu avançar em algum sentido ou se todo o sistema persistirá emperrado.
do blog Pedro Doria
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