terça-feira, 14 de abril de 2009

Loucos de raiva ou doentes de amor


O ator Peter Finch recebeu um merecido Oscar póstumo pelo filme Rede de Intrigas , no qual interpreta o âncora de TV Howard Beale.
Beale passa por severas crises de depressão e surtos de insanidade, mas seus produtores, em vez de de sugerir um tratamento médico, resolvem fazer uso de sua condição para aumentar a audiência da atração apresentada por ele.
O âncora pouco a pouco se torna uma celebridade nacional, graças ao bordão que grita durante seu programa: ''Eu estou louco de raiva e eu não vou mais tolerar isso!''
Pois os âncoras de algumas das principais atrações televisivas americanas estão cada dia mais parecidos com Howard Beale, seja à esquerda ou à direita.
Entre os que estão loucos de raiva, está, por exemplo, Glenn Beck, da rede Fox, que se diz ''justa e equilibrada''.
Beck volta e meia se debulha em lágrimas em seu programa. Uma de suas choradeiras mais recentes se deu quando Barack Obama anunciou seu pacote de estímulo econômico.
Para Beck, as ações do presidente americano são sinal de que o país está na estrada do socialismo, usando táticas idênticas às dos regimes de extrema-esquerda ou dos governos fascistas, como ele mesmo falou.
Beck também aproveita, quando surge a oportunidade, para louvar o ativismo de militantes pró-porte armas, porque estes estariam buscando ''retomar o controle do nosso país''.
Bill O'Reilly, o colega mais famoso de Glenn Beck na Fox, há poucos dias pediu que o primeiro-ministro da Espanha, José Luis Rodrigeuz, se desculpasse publicamente ao povo americano, porque um promotor do país pediu o indiciamento, por crimes de guerra, de ex-integrantes do alto escalão do governo Bush.
Ele também afirmou: ''O homem está lelé'', sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando soube da declaração do líder brasileiro de que a crise financeira global foi causada por homens brancos e de olhos azuis.
A emissora para a qual O'Reilly e Beck trabalham também não ajuda.
Recentemente, como bem lembrou em sua coluna, Matt Frei, âncora do programa BBC World News America, a Fox destacou que, durante a visita à Turquia, o presidente americano vinha revelando o seu outrora omitido nome do meio, sendo apresentado como Barack Hussein Obama.
A reportagem era ilustrada com a capa de uma recente edição da revista Newsweek estampada com a manchete ''O Declínio da América Cristã'' e o apresentador da Fox atentava para o fato de que tudo isso se dava faltando poucos dias para a Páscoa.
No outro extremo da esfera política, há Keith Olberman, apresentador de Countdown with Keith Olberman , da rede MSNBC.
Com a saída de George W. Bush da Casa Branca, que chegou a ser chamado por ele de ''idiota-no-comando'', a ira do apresentador se voltou contra a oposição republicana, descrita por ele como o ''partido do não''.
Seus alvos principais são figuras como o deputado republicano Eddie Cantor, segundo ele incapaz de sugerir uma alternativa ao orçamento de Obama ou a governadora Sarah Palin, que se tornou um símbolo da direita americana desde que concorreu a vice na chapa de John McCain.
Colega de Olberman na MSNBC, Chris Matthews compartilha do ódio visceral pelos republicanos, mas é louco de amor por Barack Obama, a quem prometou ajudar, fazendo tudo o que estivesse a seu alcance.
Eles podem ser tendenciosos e não fazer a menor questão de esconder suas preferências, mas o estilo inflamado (inflamatório, dirão alguns) dos âncoras americanos gera resultados, a julgar pela audiência cativa que eles possuem.
BBC Brasil : Bruno Garcez 9/04/2009

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