terça-feira, 14 de abril de 2009
Silvio Berlusconi e a Itália de hoje
10/April/2009 •
Não faz muito tempo – uns vinte anos, talvez? – e qualquer um apostaria com segurança que a Itália seria um grande país e a Espanha, coitada, ainda demoraria um tempo para livrar-se da herança franquista. Nada poderia ser mais distinto da realidade atual.
É Silvio Berlusconi.
Ao público norte-americano, a revista de esquerda The New Republic tenta explicar quem é o estranho premiê italiano:
Será que há lógica para o que parece uma estranha forma de Síndrome de Tourette do premiê? Seus comentários pouco apropriados são o comportamento de um homem tão poderoso em seu próprio país, onde sua riqueza pessoal e poder político estão profundamente conectados, que ele não faz distinção entre comportamento pessoal e público. E não precisa. Ele é cercado de empregados e interesseiros que riem de suas piadas e elogiam cada comentário, além de jornalistas que jamais fazem perguntas difíceis ou embaraçosas. Ele se comporta numa conferência internacional como se estivesse em sua sala de jantar. Ele, aliás, se sente mais confortável recebendo convidados estrangeiros em sua fantástica casa na Sardenha (misturando o público com o privado), onde estrelas de TV e chefes-de-estado se encontram. Nessas horas, Berlusconi diz o que lhe passa à cabeça sem medo de vergonha pública.
Ele também está tão acostumado com o controle quase total da imprensa italiana que reage com raiva quando a imprensa internacional deixa de tratá-lo com deferência equivalente. Quando chamou um deputado alemão de oficial nazista, o comentário foi apresentado em todo mundo, mas não na tevê italiana. O mesmo ocorreu recentemente, quando Berlusconi fez um comentário que parecia indicar que estupro era um produto natural da libido masculina: ‘para impedir o estupro, eu precisaria ter um policial acompanhando cada mulher bonita na Itália.’
Parte da má reputação de Berlusconi no exterior tem a ver com seu desejo de controlar todo o espaço e sua frustração ao sentar na fileira de trás em encontros internacionais. Ao comunicar que não estaria na cerimônia de posse de Obama, em Washington, ele fez um comentário revelador: ‘Não faço papéis secundários, sou o protagonista.’ Berlusconi não gosta que Obama, que acabou de chegar ao cenário mundial e que pessoalmente só tem alguns milhões de dólares, possa ser uma estrela maior.
Para Alexander Stille, autor do artigo, que Berlusconi esteja ainda no comando do governo italiano é indício do país no qual a Itália se transformou. Um país em que a oposição é tão medíocre que não consegue derrotá-lo, em que políticos são incrivelmente rejeitados, e que estagnado economicamente perdeu o próprio rumo.
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