segunda-feira, 20 de abril de 2009
O esquecimento que destrói tudo
Não há nada pior do que o esquecimento, diz o escritor Lyonel Trouillot enquanto admiramos o anoitecer que avança como uma leve névoa sobre Porto Príncipe, sentados no terraço do Ibo Lele, um hotel cujo glamour perdido é testemunhado por fotos das estrelas de Hollywood penduradas nas paredes do bar, rostos que não dizem mais nada nem ao cinéfilo mais fiel. O poeta Jorge Castera nos acompanha à mesa, e os dois sofrem, com humor, as feridas abertas do seu país. Rir das feridas abertas é uma forma de não esquecer.
O esquecimento. Entre os jovens, ninguém mais lembra quem foi Francoise "Papa Doc" Duvalier, o médico rural que se proclamou presidente vitalício do Haiti e passou o trono ao seu filho, um adolescente de 136 kg de peso, "Baby Doc" Duvalier, ambos frios assassinos que mataram milhares de pessoas em nome do seu santo poder, mantido graças aos seus capangas, os Tonton Macutes (Bicho Papão), que também caíram no esquecimento.
Eu comento com eles que na Nicarágua, os jovens também não sabem que existiu a dinastia Somoza e que durou meio século, mas, além disso, as pesquisas mostram que uma porcentagem alta dos maiores de 40 anos sente saudades do último Somoza e pensa que ele foi um grande presidente, enquanto muitos jovens nem imaginam que para derrubar a Somoza foi necessário uma revolução....
Sergio Ramírez
Cartagena das Índias (Colômbia)
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