sábado, 2 de abril de 2011

Reforma do Judiciário vem aí

Judiciário: 3 setores concentram 95% dos processos

Lula Marques


Pesquisa do CNJ revela os 100 maiores  litigantes do país
Maior cliente da Justiça é o Estado: 51% nas três esferas
Bancos  públicos e privados  concentram 38% das  causas
Empresas de telefonia estão presentes em 6% dos casos

O CNJ (Conselho Nacional de Justiça) divulgou nesta quinta (31) estudo feito com base em informações oficiais do Judiciário.
Os dados se referem a processos que estavam pendentes de julgamento até o dia 31 de março de 2010.
A pesquisa englobou tribunais estaduais, tribunais regionais federais e tribunais da Justiça trabalhista.
Verificou-se que três setores monopolizam as atenções do Judiciário. Encabeça o ranking o setor público.
O Estado frequenta 51% dos processos –38% referem-se a entes do governo federal, 8% ao setor público estadual e 5% a administrações municipais.
A segunda posição do ranking é ocupada pelos bancos –públicos e privados: 38%. Vêm a seguir, com 6%, as companhias de telefonia.
Juntando-se os bancos estatais aos órgãos da União, o setor público federal responde por 77% de todos os processos.
Confirmou-se uma percepção que já se havia disseminado entre advogados e magistrados: o Judiciário trabalha para poucos.
Verificou-se, de resto: qualquer solução para o flagelo da morosidade da Justiça passa por providências que reduzam as possibilidades de recursos.
A pesquisa vai nortear a negociação do 3º Pacto Republicano, a ser firmado entre os chefes dos três Poderes.
Também nesta quinta (31), dia em que vieram à luz os números do CNJ, o presidente do Supremo, Cezar Peluso, reuniu-se com dois enviados de Dilma Rousseff.
Peluso discutiu com os ministros Antonio Palocci (Casa Civil) e José Eduardo Cardozo (Justiça) os termos do terceiro pacto.
A primeira edição resultou na aprovação do projeto de reforma do Judiciário. A segunda, concentrou-se na modernização dos códigos civil e penal.
Agora, pretende-se empinar dois motes: democratização do acesso à Justiça e simplificação do trâmite dos processos.
Vai-se aproveitar idéia lançada há duas semanas por Peluso: a redução do número de recursos judiciais.
Pretende-se aprovar no Congresso projeto de emenda à Constituição apelidada de “PEC dos Recursos”.
Consiste em assegurar que as decisões judiciais sejam executadas a partir das sentenças de segunda instância.
Se aprovada, a novidade elimina o chamado “efeito suspensivo” dos recursos levados ao STJ e STF, tonificando os poderes dos juízes de segundo grau.
Peluzo, Palocci e Cardozo fixaram um prazo para a apresentação do primeiro esboço do pacto: 30 de maio.
Depois de pronto, o documento será assinado pelo próprio Peluzo, por Dilma e pelo presidente do Congresso, José Sarney.
A assinatura de Sarney desce ao texto como compromisso de que as modificações terão tramitação célere no Legislativo.
Antes da conclusão do Pacto Republicano, o CNJ promoverá um seminário. Submeterá a debate os números de sua pesquisa.
Acontecerá nos dias 2 e 3 de maio, em São Paulo. Participarão representantes dos setores que encabeçam o rankink dos maiores “litigantes” do Judiciário.
Nesse encontro, serão destrinchados os dados que o CNJ colecionou. Revelam, por exemplo:
O INSS, protagonista em 22,3% dos processos, é o campeão nacional dos litígios judiciais.
Vêm a seguir: a Caixa Econômica Federal (8,5%), a Fazenda Nacional (7,45%), a União (6,97%) e o Banco do Brasil (4,24%).
Na Justiça do Trabalho, a União aparece, de novo, como campeã dos litígios: 16,7%. Na Justiça Estadual, lidera o ranking o Estado do Rio Grande do Sul, com 7,7%.
Considerando-se apenas as casas bancárias –estatais e privadas—, a Caixa Econômica Federal, com seus 8,5%, vai ao topo do ranking.
A seguir, vêm Itau (6,88%), Bradesco (6,16%), Banco do Brasil (5,61%), Santander (4,25%), HSBC (1,56%), Votorantim (1,56%) e PanAmericano (0,91%).
Na Justiça Estadual, os bancos estão presentes em 54% dos processos. Evidência de que, encalacrada em dívidas, a clientela deságua nos escaninhos do Judiciário.
- Serviço: veja a íntegra da pesquisa do CNJ, matéria-prima da notícia.:

Folha de São Paulo

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