sábado, 10 de março de 2012

“ Se eles me tirarem a profissão não sei como vou ficar”


Prefeitura vai relocar famílias

Projeto prevê a construção de 297 casas e rede de esgotos, para acomodar famílias ribeirinhas, que vivem em situação de risco.

Angélica Nunes, Francisco França


Pescadores da região estão apreensivos com o deslocamento

Aproximadamente 297 famílias da comunidade do Porto Capim, em João Pessoa, que vivem às margens do Rio Sanhauá, deverão ser retiradas do local pela Prefeitura da capital. O projeto, que está incluso no PAC-Vale do Sanhauá, do Ministério das Cidades, ainda está em fase de análise na Caixa Econômica Federal, mas já provoca receio entre os moradores ribeirinhos.

De acordo com o projeto, as famílias serão relocadas para dois locais diferentes, próximos ao Porto do Capim, conforme explicou o secretário de Habitação Social do Município (Semhab), José Guilherme.


“Uma parte será removida para a área 1, localizada na Rua Frei Vital, próximo à Proserv, e outra para a área 2, na Rua Elpídio Alves Cruz, ao lado da Oficina São Pedro”, disse.

Como medida preventiva, moradores que viviam em situação extrema de risco foram retirados provisoriamente da região. “Eles estão sendo beneficiados pelo bolsa-aluguel enquanto o problema não for resolvido, mas terão prioridade quando a área 2, da Elpídio Alves, for concluída”, afirmou.

As intervenções no local deveriam ter começado no final de fevereiro, mas, devido à ausência de resposta positiva da Caixa Econômica, a previsão da Semhab é que apenas no início de abril sejam iniciado os procedimentos iniciais de ações de infraestrutura no local. Além da construção de 297 unidades habitacionais no Porto Capim, deverá ser feita também a rede coletora de esgoto, ampliação de rede de água, pavimentação e drenagem e a contenção, na área dois, de um olho de água, que pode ser mineral.

“No Porto do Capim estamos pensando em ter alguns pontos comerciais. Seria para artesanato e para o pessoal que faz comida com peixe. Vamos tentar fortalecer esse tipo de comércio”, completou o secretário José Guilherme.

O pescador Cosme de França, 62 anos, sobrevive da pesca e do conserto de barcos pesqueiros. Ele conta que não sabe como será o seu futuro caso tenha que ser retirado do local onde fixou residência e trabalha há mais de 30 anos. “Pago todo mês meus direitos de capitania para a associação da colônia de pescadores para que eu possa me aposentar por essa atividade. Se eles me tirarem a profissão não sei como vou ficar”, comenta.

Assim como ele, outros pescadores da região estão apreensivos com o deslocamento. “Vivemos do que tiramos do rio. Nessa idade é difícil começar um novo trabalho”, comentou o morador José Antônio da Silva, 51 anos.

O secretário de Habitação Social do Município, José Guilherme, garantiu que umas caiçaras para que os pescadores continuem exercendo suas atividades estão incluídas no projeto de revitalização do Rio Sanhauá, incluído no PAC-Rio Sanhauá.

Apesar do temor, há quem esteja contando os minutos para trocar a vida de constantes inundações, devido às alterações da maré, por um novo lar com conforto e salubridade. É o caso da dona-de-casa Maria do Socorro Lopes, que ocupa o imóvel mais próximo do rio. “A maré sobe duas vezes e suja tudo de lama. Já perdi muitos móveis. Espero ter minha casinha, longe daqui, para criar meus filhos do jeito que eles merecem, com água encanada e com mais condições”, afirmou.


Jornal da Paraíba

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