sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Resistência Evangélica

Pastor Ariovaldo: No primeiro momento a Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito é uma resistência ao golpe, pura e simplesmente. A gente se deu conta de que o que estava sendo processado no Brasil era um golpe de Estado e reagiu em favor da democracia e do respeito ao voto. A acusação contra a presidenta era absolutamente infundada e de que havia uma urdidura qualquer aqui.



No primeiro momento foi resistência, depois acolhimento, porque um grupo considerável de evangélicos começou a ser banido das suas comunidades, por denunciar que nós estávamos diante de um golpe de Estado. A liderança pastoral se bem trabalhada é promotora de avanço, mas se mal trabalhada é promotora de ditadura.



Então o movimento da Frente foi de acolher essa gente, e de dizer que elas não estão sozinhas e que mais gente como elas estão espalhados pelo país, e não abriu mão da fé cristã, e sabe com clareza que estamos diante de um golpe de estado e que temos que reagir.



A outra razão foi a de que nós tínhamos que evoluir para um movimento de Advocacy, porque a gente começou a se dar conta de que os golpistas estavam destruindo o estado social e relativizando a exigibilidade do direito, e toda uma construção de décadas seria solapada.



Sentimos a necessidade de ter uma base para sair às ruas para apoiar a sociedade civil democraticamente organizada e se unir a ela na resistência ao golpe. Hoje estamos evoluindo nessa direção, a gente já conversa com a Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo e de certa forma já somos reconhecidos como frente de resistência entre os evangélicos.



Os evangélicos que tomaram essa posição começaram a achar então seu nicho, o seu lugar de acolhimento e de engajamento. Foi assim que começou a Frente. A gente, claro, sonha com a conversão dos irmãos que foram ludibriados por esse discurso contaminado pela voracidade da direita e da elite branca,



Agora a gente está pensando em como a fazer um movimento dentro de casa, mais pedagógico, mas esse é o passo que estamos pensando em como começar, porque imagina que você é crente, está lá na sua igreja, cresceu lá, aprendeu tudo com o pessoal que está lá, e aí tem um movimento no seu país e você começa a tomar posição contrária, e vê seus líderes em outro sentido. Até aí tudo bem. Mas daqui a pouco seu líder diz que se você pensa diferente dele não pode ficar.



Essa é a situação. Ela nasceu do movimento de pregadores do que a gente chama de Teologia da Missão Integral, que é uma teologia libertadora, com ênfase na teologia do Reino de Deus. O alvo do Reino de Deus é a justiça, que é uma realidade em que todos desfrutam igualmente de tudo que Deus dá e doa, portando uma realidade igualitária.



A gente começou a pregar isso e dizer que a igreja tem que abdicar da teologia da prosperidade, do amor às posses e voltar às práticas da partilha, do desenvolvimento sustentável e comunitário. Nós estamos aqui para sermos relevantes na comunidade e fazermos como Cristo, que se responsabilizava pelos enfermos.



O movimento começou a crescer e se difundiu em grande parte do país. Quando veio o golpe de estado, e junto com o golpe de estado, com toda essa construção do discurso. Um grupo de caras que concorda que a fé cristã é uma fé de partilha não conseguiu discernir que esse discurso era um discurso que era atentava contra tudo o que ele estava assimilando.



Decidimos escrever um manifesto que teve milhares de adesões, mas também tivemos rachaduras. Diante das adesões e das rachaduras, decidimos ir para uma ação mais pragmática, incisiva e engajada, e nasceu a Frente. Hoje temos mais de mil pessoas que aderiram das mais diversas denominações em 10 estados, mas o potencial de crescimento é gigante. Entre simpatizantes e pessoas que interagem com a frente somamos mais de duas mil pessoas.



Graças a Deus está crescendo e isso para gente é ótimo, porque eu sou pastor e sei o que significa para um cara dizer, “Pastor, gosto muito de você, mas não posso concordar com você, eu tenho de ir onde a minha convicção está dizendo que Cristo estaria”. É muito difícil dizer para um pastor que ele está em um lugar onde Cristo não está, é quase impensável. O fato desse grupo está crescendo significa que nós começamos uma bola de neve.



Ninguém quer sair da comunidade. A comunidade é um local de convivência, as pessoas se conhecem, se gostam, se visitam. Não é um encontro que você chega lá em um domingo assiste e vai embora. Você está na casa do irmão e o irmão está na sua casa, você vai com ele ao cinema, vão jogar bola juntos.



Para você sair disso tem que haver uma ruptura muito forte, tem que se sentir agredido para além do seu nível de convivência pacífica e tolerante, em que você diz: “não quero sair, mas você está me obrigando a ir embora”, e o pastor responde, “você tem que ir embora”. Isso é uma agressão, porque é ideológico, e trazer a ideologia para dentro da confissão de fé é uma agressão profunda à fé cristã, e foi o que aconteceu no Brasil, ou está acontecendo. Essas pessoas estão sendo alijadas e foi por isso que a gente criou a Frente, para dizer: “você não está sozinho”.



Em: Pastor Ariovaldo: ‘Os evangélicos descobriram o que Lula não conseguiu: para vencer é preciso Mídia’

NINJA


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