quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Por que a China comunista teve sucesso no capitalismo?

“Maonomics”, livro da italiana Loretta Napoleoni, tenta elencar os motivos que colocam os chineses no comando da economia mundial no futuro recente

Ernesto Lozardo

Quase três décadas após o fim da Guerra Fria, as economias ocidentais ainda buscam uma saída para a primeira crise global. Nos Estados Unidos, a taxa de crescimento deverá permanecer em torno de 2,5% ao ano, quando, anteriormente, era superior a 3% ao ano. A produtividade da mão de obra aumentará metade do registrado no passado, ou seja, 1,5% ao ano. A economia norte-americana não será o principal motor do crescimento econômico global.



A zona do euro continuará sendo o foco das incertezas, com acentuado desemprego, estagnação econômica e deflação. Isso resultará em maior inadimplência das famílias e das empresas, aprofundando a recessão na região. Se, por um lado, os Estados Unidos nos dão esperanças, de outro, a zona do euro apresenta um cenário econômico grave.



No entanto, a China caminha na direção oposta: apresenta uma taxa de crescimento em torno de 7% ao ano, e realiza um amplo programa de reequilíbrio, mais voltado ao mercado doméstico. Quando a economia e o comércio mundial derem sinais de recuperação, por volta de 2020, a China já terá realinhado sua economia por meio da expansão do consumo interno e da realocação de recursos para as estruturas nacionais. A prosperidade chinesa terá ganhado um novo vigor. Mas, por que os comunistas chineses se saem melhor do que os capitalistas de países mais desenvolvidos?



Loretta Napoleoni, com grande versatilidade analítica e histórica, aborda o milagre do desenvolvimento do socialismo e do mercado chinês. A China tem lidado melhor com a globalização do que os países desenvolvidos. Criou estratégias de crescimento e de prosperidade, evitando riscos e explorando as oportunidades da globalização. O modelo socialista chinês entendeu com mais profundidade os preceitos da teoria marxista do que os socialistas ocidentais, particularmente os soviéticos. Estes eliminaram o lucro da equação econômica, acreditando que esse fato seria suficiente para dar força à ditadura do proletariado. Já a China comunista de Mao e de Deng Xiaoping compreendeu que o lucro é uma variável fundamental para o progresso das pessoas e da economia.



Loretta enfatiza que a China vem melhorando o padrão de vida da população a cada dia. Todavia, de acordo com os conceitos ocidentais, tais conquistas não significam muita coisa, pois no país não há democracia. “Aqui, chegamos ao cerne do problema: essa apreciação da falta de liberdade política da população chinesa é, uma vez mais, fruto de um equívoco conceitual. Para os chineses que ocuparam a praça Tiananmen em 1989, sob o pôster gigante de Mao, democracia era sinônimo de igualdade econômica. Logo, de iguais oportunidades de crescimento, algo que foi conquistado por um amplo segmento da população nos últimos vinte anos.” A autora opõe-se ao pensamento neoliberal e afirma que a economia ocidental atravessará as contradições inerentes da democracia neoliberal em um mundo globalizado, no qual países desenvolvidos e emergentes se tornaram interdependentes no intento da prosperidade inclusiva.



Apesar dessas contradições conceituais, o fato é que as economias ocidentais poderão ser estimuladas pelas mãos reais dos chineses e não pela teórica mão invisível de Adam Smith. Para entender a China, ressalta Loretta, é preciso analisá-la pelos olhos do dragão, jamais pelos da águia norte-americana. O livro Maonomics representa uma análise lúcida dos valores de uma sociedade comunista-marxista de sucesso.



Brasileiros


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