sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Pastor Ariovaldo: A ‘Nação Evangélica’ e o projeto de poder

Ninja 

Pastor Ariovaldo: A Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) vem crescendo no poder, haja visto que eles descobriram o que o governo Lula não conseguiu descobrir a tempo, que para vencer no mundo moderno, você precisa ter a mídia. Você não precisa ter exércitos. Se tiver a mídia, tá feito. Eles sempre souberam disso e correram atrás como um sedento corre atrás de água. A sociedade moderna é uma sociedade midiática.



Você quer o poder? O que precisa? A mídia. Qual mídia? A TV. Pensamos que havíamos avançado ao colocar 94% das crianças na escola, mas isso é só o começo. Tem que aperfeiçoar o ensino até o cara chegar em um estágio de crítica. Se não está em um estado de crítica, não foi educado. Por isso essa historia de ‘Escola Sem Partido’ é um crime contra a educação. Não porque priva o sujeito de certos conhecimentos, mas porque retira dele a capacidade de chegar a um estágio de crítica



Esses caras têm essa noção, têm uma mensagem popular, uma teologia em que avaliam o capitalismo e que diz: a benção de Deus é financeira, é a prosperidade. Os -cristãos- históricos demoraram para reagir, porque são muito influenciados pelo calvinismo que pregava isso de alguma maneira. No calvinismo, uma das provas que você era um eleito de Deus é o quanto você prospera.


A Universal sabe exatamente o que está fazendo, tem uma visão muito clara. O Pastor Caio Fabio uma vez falou que o Edir Macedo disse a ele: “você usa a isca para o peixe que você quer pegar”. Isso é negócio complicado se você tem um povo semi-analfabeto, analfabeto funcional, destituído dos seus direitos, com um estado ausente e uma elite voraz.



Eles têm um projeto claro de poder e começaram incendiar isso, ou seja, a disseminar. Até começarem, a maioria do evangelicos não pensava assim, inclusive tinha uma certa ojeriza a movimento com questões político-partidárias, mas depois assimilaram a mesma lógica e começaram a chamar os deputados e vereadores de “nossos missionários na política”.



Isso foi ganhando um certo utilitarismo, porque para os evangélicos o missionário é um cara que tem uma função, de modo geral, de anunciar o Cristo, mas agora significa levar os interesses da igreja. No primeiro momento esses interesses eram para o seu funcionamento na cidade, ou seja, não atrapalhar a gente, não pedir para a gente abaixar o som, não chatear a gente porque fechamos a rua, não ficar em cima porque não temos todo estacionamento que a gente precisa.



Depois muda pro discurso de “tomar o país”, e esse discurso nasce na IURD e nas lideranças neopentecostais, com um sonho de uma nação evangélica, que não é só brasileira, é internacional. Começam a mostrar vídeos de como é uma cidade, uma nação que os evangélicos governam. Então o pessoal diz: “É isso aí, Brasília é só corrupção, os coronéis mandavam em tudo, eles expulsam a gente da terra, mandam a gente embora. Temos que ter uma nação evangélica!”.



Isso evolui para uma pauta moral. Quando chega nesse ponto não é só uma questão de ter uma nação evangélica, mas é uma questão de salvar a família. Aí vem o Crivella com o discurso: “O Paes cuidou da cidade, eu vou cuidar de você”, mas você fala para os progressistas e eles não querem saber. Vocês não sabem o que é o nosso povo, sua carência, o cara é explorado, explorado e explorado, e não tem saída. A Mais Valia não leva a mais nada a não ser à escravidão.



Mas a quem vão pedir socorro? Tem que pedir socorro a Deus. Aí vem o pastor que acredita mesmo e diz: “Vem para Deus, Deus é uma realidade, vamos lá, coragem!”. Mas tem outro que acredita em Deus, mas é um “pelego”, prepara o povo para ser explorado, e o povo não percebe, pois está sob acolhimento.



O Crivella representa, na minha opinião, essa visão de acolhimento e a pauta moral. Chego a me perguntar se ele realmente tem um projeto político. Acho que ele é um homem inteligente, como um senador teve participações interessantíssimas, discursos interessantíssimos, ele não caiu de paraquedas, construiu uma história.



Agora a grande pergunta é se ele vai conseguir fazer a ruptura entre o púlpito e a tribuna, entre a cadeira do bispo e a cadeira do prefeito. Se vai perceber que tem uma pauta comum e não pode ter pautas distintas. Porque senão vai ferir direitos civis. Ele vai se lembrar que um Estado laico de um lado não legisla sobre a fé do outro lado? Não pode permitir que a fé incida sobre a legislação.



Agora, ele é homem da IURD, que é a dona da Record. Se eu fosse os caras da Globo, pensaria duas vezes antes de saber como o Rio vai ficar agora. O Crivella é um cara muito interessante e ter sido indicado pela Universal é um golpe de gênio, pois é o cara mais bem preparado de lá, de todos evangélicos. Ele demonstrou isso em seu mandato no Senado e na campanha.



Enquanto prefeito, ainda deu muita sorte, pois se elege em um Estado falido, qualquer coisa que fizer será nivelada de baixo e assim vai brilhar. O PMDB conseguiu a proeza de destruir um Estado como o Rio de Janeiro e mesmo assim assumiu o controle do país. É uma coisa assustadora.



A direita nunca teve o povo, principalmente depois de mais de 20 anos de ditadura. Os pastores puseram o povo na rua, porque o preconceito dos intelectuais (da ala dos progressistas) em relação aos evangélicos, isolou esses intelectuais. Por causa do preconceito, eles zombavam dos caras. Isso é um problema do materialismo exacerbado: quando o materialismo assume, deixa de ser uma metodologia de administração da história para se tornar uma teologia.

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Trecho da entrevista:
Pastor Ariovaldo: ‘Os evangélicos descobriram o que Lula não conseguiu: para vencer é preciso Mídia’
por NINJA

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