quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Zaidan: O julgamento de Dilma

Michel Zaidan

Diz um conhecido provérbio:"o tempo é o senhor da razão". Com certeza o julgamento definitivo dos atos da Presidente Dilma Rousseff será feito pelo tribunal da história. O tribunal que a julgará, no Senado Federal, não tem a isenção necessária para fazer este julgamento. Parece um tribunal de exceção. É como se fosse uma justiça partidária, num processo que carece de base jurídica e legal. Dilma Rousseff será julgada porque perdeu a apoio do Congresso Nacional, como disse um trânsfuga partidário, em busca de uma justificativa para condená-la. Pelo visto, no regime presidencialista que nos coube viver, o maior pecado do governante é se incompatibilizar com o Congresso, seus líderes e seus parlamentares. E a maior virtude é lhes fazer todas as vontades, mesmo à custa do erário público. Dilma está pagando o alto preço de não ter aliciado o Congresso, como fez Fernando Henrique Cardozo ou como está fazendo o interino, sentado em sua cadeira.



Mas a História apresentará um veredicto diferente para o desfecho desta aventura golpista, travestida de "impeachment". Desde 2012 as forças privatizantes, neoliberais, filoamericanas, associadas à imprensa golpista e ao Poder Judiciário, voltaram a se articular no Brasil, com o objetivo de levar adiante a privataria tucana, interrompida com a eleição de Lula, em 2002. Essa escusa coligação de interesses anti-nacionais e anti-populares aproveitou, como pode, os efeitos da crise econômica sobre o país, para atribuir ao governo petista a responsabilidade pelo atoleiro da economia do Brasil. A política anticíclica posta em prática pela Presidente da República surtiu seus efeitos no curto prazo, mas a crise internacional é profunda e permaneceu no cenário econômico deprimindo o preço das nossas "commodities". O erro da Dilma foi achar que a agenda do "ajuste fiscal" agradaria à oposição, derrotada nas eleições, e lhe daria uma trégua no Congresso. O movimento não foi combinado com sua base de apoio: sobretudo os trabalhadores, os pequenos agricultores, os servidores públicos etc. Nem uma coisa, nem outra. Os adversários farejaram o momento de fraqueza política e avançaram sobre a fragilidade base de apoio parlamentar do governo. E os apoiadores de Dilma foram surpreendidos com uma agenda hostil a eles.



Aí entra em cena "a bucha de canhão" de todos os golpes políticos no Brasil: as classes médias urbanas, sempre elas. Ameaçadas pelo espectro da proletarização ou do assédio dos de baixo, estes setores sempre conspiraram contra as instituições democráticas. Serviram de estopim da crise política, convenientemente explorado pela mídia, a cata de factóides. Não é a primeira vez que o verde-amarelo aparece como manifestação filo-fascista no Brasil. Os integralistas também vestiam essa mescla colorida. Também eles falavam em defesa da Nação, da Família, da Fé Cristã contra os comunistas a serviço de Moscou. Nacionalista (moralizante) de direita que aplicam, sem mediação, a ética das convicções à política, como se o País fosse a Igreja ou a casa da família. Acrescente-se a isso, a cruzada ultraconservadora das igrejas neo-pentecostais, com suas Marchas para Jesus Cristo e seus cultos de Louvores cacofônicos e impertinentes.



Mas nada disso se compara à aliança entre os meios de comunicação de massa e o ativismo judicial dos ministros da Suprema Corte. O juiz investiga e a mídia divulga e condena. Existem os vazamento prós e os contras. Os que são convenientes, mesmo fora da lei, são bem-vindos. Os que ameaçam os interesses golpistas em curso, são apagados. É a política torta, ambivalente, suspeitosa da aliança da mídia com o Judiciário. Pode se esperar alguma coisa de um tal Poder?



A história há de revelar que se afastou uma Presidente da República, sem crime de responsabilidade. Mas que era o caminho mais curto para o desmonte das políticas de transferência de renda, da política externa independente, do avanço dos direitos das minorias, da criação de oportunidades sociais para os mais pobres e para o resgate da auto-estima do povo brasileiro, no concerto das nações.

Brasil 247


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