quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Sobre moradores de rua, sem-teto, Olimpíadas e o higienismo nosso de cada dia

O que o Rio não quer que você veja 

Exclusões de moradores de rua, sem-teto ou indígenas são feitas pelo poder público a pedido do poder econômico; mas e quando são solicitadas pelo cidadão comum?

Por Alceu Luís Castilho

Vejamos duas notícias aparentemente díspares reunidas pelo Observatório do Autoritarismo.


1) “A pedido de moradores do Centro, Brigada Militar retira população de rua do viaduto na Borges” (Sul 21). Em Porto Alegre.

A presidente da Associação Comunitária do Centro Histórico conta que, na última reunião do Fórum de Segurança, as demandas foram “a retirada da população de rua do Viaduto e da Praça da Matriz, que já foi feito, limpeza das áreas adjacentes e atenção à distribuição de alimentos”.

2) “Em ato de racismo, indígenas são expulsos de ônibus de viagem“. (Revista Forum) Em Brasília.

Uma mulher que estava em uma poltrona da parte inferior do veículo se incomodou com a presença dos 18 Kayapó: “Nós que pagamos! Ou vocês descem ou eu chamo a polícia”.

***
Os dois casos são idênticos. Mostram a que ponto pode chegar a estupidez – a ignorância, a miopia – e a prepotência – a truculência, a violência – de nossa classe média. Com o devido aval do poder público, de nossa polícia despreparada, a tomar como determinação solicitações absurdas dessa escória que ainda conseguimos chamar de “elites”.

Uma sociedade minimamente saudável não pode aceitar esse higienismo a pedido. Essas senhoras intolerantes e esses mentecaptos de farda precisam ser punidos. Não estamos em uma ditadura. Em 1988, foi promulgada uma Constituição e..

***

Escrevi esse texto há exatamente um ano. Como post de Facebook. Retomo agora pela atualidade. E porque uma amiga do Rio – que caminha muito pela cidade – fez a seguinte pergunta, ao observar a movimentação nos últimos dias: “Onde estão os moradores de rua?”

Não é uma constatação científica. Nem jornalística. Mas sim de uma cidadã que chama os moradores de rua de irmãos e costuma estar atenta a violações de direitos. Precisa ainda ser checada, confirmada por outras pessoas.

Mas ela assusta porque é verossímil. Porque o Rio (assim como tantas outras metrópoles) tem um histórico de exclusão de moradores de rua/mendigos/sem-teto. Porque a cidade foi maquiada para espectador de Jogos Olímpicos ver, como evidencia o vídeo acima, com mais de 3 milhões de visualizações em sua versão original, em inglês – e ainda pouco visto pelos brasileiros.

E, por isso, precisamos questionar não somente o poder político que executa esse tipo de exclusão, ou o poder econômico que promove essa desigualdade violenta, mas também o cidadão comum que avaliza tudo isso. O fascismo existe porque existem fascistas.


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