O jornal traz foto de um ativista pintando a silhueta de uma vítima de assassinato no Recife
O jornal britânico The Independent publicou em sua edição desta sexta-feira uma reportagem sobre o alto índice de assassinatos em Recife, capital do Estado de Pernambuco, com o título "Morte aos indesejáveis: A capital de assassinatos do Brasil".
A reportagem diz que apesar de atrair um milhão de turistas estrangeiros, quase 3 mil pessoas foram mortas na cidade no ano passado e que muitas dessas mortes foram provocadas por policiais.
O repórter diz que conseguiu convencer um policial a falar sobre os assassinatos que cometeu. Ele é supostamente integrante de um esquadrão da morte e estaria na corporação há 20 anos.
"Ele tinha matado pessoalmente mais de 30 pessoas e disse que sua 'equipe' tinha matado mais de 50", afirma o artigo.
De acordo com o repórter Evan Williams, o policial justificou sua ação afirmando que não sente remorsos porque está desempenhando "um serviço social".
"É certo tomar uma vida humana nestes casos, porque leva muito tempo para que os processos judiciais aqui tramitem e o traficante ou assassino que nós podemos prender como policiais podem ser libertados no dia seguinte e voltar para as ruas e matar e vender drogas de novo. Então é muito melhor para nós (...) matá-los e resolver o problema assim", disse o integrante do esquadrão da morte, de acordo com Williams.
Segundo a reportagem, o entrevistado, que não quis ter seu nome revelado, caçoou das iniciativas da cúpula da polícia para reprimir a atuação dos esquadrões da morte, que levaram à prisão de centenas de suspeitos em todo o Estado.
"O homem que entrevistamos sobre esta suposta repressão riu e disse que ele não tem medo de ser preso porque vários dos policiais mais graduados estão envolvidos", escreveu o repórter.
Williams disse que o integrante do esquadrão da morte descreveu o processo da seguinte forma: "Olha, funciona assim: o policial de nível de detetive ou coronel nos chama para uma reunião. Eles dizem: tem um cara de quem nós queremos que você cuide, que mate até sexta-feira. Nós vamos e fazemos o serviço, então muitos policiais estão envolvidos."
O repórter afirma ainda que o Secretário de Defesa Social de Pernambuco, Servilho Silva de Paiva, disse que a polícia e o governo do Estado estão seriamente empenhados na prisão de qualquer policial envolvido em esquadrões da morte, mas "admite uma responsabilidade limitada sobre as ações de policiais em esquadrões da morte".
Segundo Williams, Paiva disse que pesa sobre as autoridades a responsabilidade quando um policial em serviço mata uma pessoa.
"Se ele estiver de folga, não é nossa responsabilidade", afirmou o secretário, de acordo com o repórter britânico.
Williams ouviu ainda um assistente social, um representante de uma ONG e um menino de rua na reportagem que buscou mostrar também o perfil das vítimas dos esquadrões da morte.
A reportagem será apresentada em vídeo no Channel 4, da TV britânica, nesta sexta-feira.
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