Maria tinha um filho.
Ela trabalhava na casa de um granfino no bairro ao lado. É diarista. Ela própria morava em das comunidades com nome de santo. Dessas tantas que crescem às margens das cidades, nas beiras de rios e subindo morros.
No começo via o filho todo o tempo: menino, desce daí. Menino vem embora. Menino, tu te lasca. Depois passou a vê-lo no fim do dia, quase sempre já dormindo. Em seguida, só o via nos fins de semana. Logo passou a ver o filho só nos domingos que ela ordenava sua presença.
Ultimamente, no entanto, só sabia dele através das histórias dos vizinhos: ele bateu, ele pulou muro, ele não quer nada com a vida, ele é ladrão. Mas como pode Maria cuidar de um filho que ela não vê, não conhece mais?
Na escola, ele não ia, mas ela só ficou sabendo um ano depois que ele deixou, quando foi tentar nova matrícula. Nem tendo esperado a noite, ela toda conseguiu desta vez.
Hoje de manhã vieram lhe contar. Maria, tem filho caiu. Não foi topada, não foi tropeço. Foi tiro. Dois. Um no peito, um na cabeça. A polícia estava lá. Não, a polícia chegou depois. Não, a polícia estava lá.
Enfim, seu filho morrera. Morrera de tiro. Agora, uns apontavam como ladrão, uns diziam ser vagabundo. Alguém disse: é bandido. Maria falou: é meu filho! A polícia disse: foi acerto de contas. Alguém cochichou: foi limpeza. Maria gritou: é meu filho!
Do blog Nó na Garganta
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