sábado, 20 de maio de 2017

Temereseaécios

Rene Carvalho

Minha rápida explicação: a força-tarefa/PGR teve que escolher entre o Aécio e a continuidade do projeto de poder deles. Começaram querendo tirar Dilma para botar Aécio na Presidência. Agora se livra, do que se tornou um peso muito grande.

Pura especulação é claro. Mas o nó de qualquer possibilidade de desenlace – ou de nova etapa – da crise política é o Congresso. Deputados e senadores são hoje o último arremedo de legalidade que sobra aos golpistas e, ao mesmo tempo, são cada vez mais ilegítimos e tóxicos. Qual pode será a legitimidade de um novo interino eleito pelos parlamentares? Dificilmente poderá ser um deputado ou senador, em sua maioria investigados. Em caso de eleição indireta, provavelmente recorrerão a uma personalidade de fora do congresso. Carmen Lúcia? Jobim? Tudo é possível, mas não vejo nenhum deles capaz de segurar a onda das investigações de corrupção e da continuidade da votação da reforma da previdência, que o mercado quer. Só se fosse como prelúdio a um estado de exceção contra novas manifestações populares contra as reformas de Temer e por eleições diretas.

Em eleições diretas dificilmente Lula não as ganharia, em noventa dias não é possível condená-lo em primeira e segunda instância. Se assim for – ou qualquer candidato oposicionista - será um novo que não tem como conviver com esse congresso desmoralizado. Por mais que se façam acordos, as ditas reformas – CLT, previdência – e o teto dos gastos – teriam subido no telhado e seria muito difícil “estancar a sangria”. Eleições têm não apenas de ser diretas, mas também gerais, pelo menos na escala federal.

Bom, mas como eleger um novo congresso com a atual legislação eleitoral? Mesmo com uma legislação votada de afogadilho, uma Constituinte é imprescindível. Mesmo se com mandato focado e prazo curto de duração. Bom, se a conversa vai por aí, como governar sem uma reorganização institucional? O que fazer com as super vantagens pecuniárias de juízes e promotores, num período de crise econômica? Seria minimamente necessário um programa básico de arrumação da casa. E o que fazer com as relações promíscuas entre grandes empresas e responsáveis políticos? Ou seja: não me parece possível gerir a atual crise política sem Constituinte e novo congresso. E não é possível gerir a crise econômica sem enterrar essas reformas e dar fim ao menos aos privilégios mais gritantes.

Acho que os próprios golpistas estão divididos sobre os passos a dar. Cada grupo quer preserva uma coisa diferente. Para a força- tarefa, a melhor opção seria um período de exceção – sem prazos – para “terminar as investigações” e que os pusesse no centro do poder. Para a ala mais política, a pedida seria outro presidente interino encarregado de “concluir” as investigações e “voltar à normalidade”, mexendo o mínimo possível na estrutura política e institucional vigente. Os deputados e senadores vão brigar muito por uma anistia, para poderem ser de novo eleitos. Para o dito mercado, a principal questão é preservar a aprovação das malditas reformas de Temer. Para isso, quanto menos marola, melhor. Ou seja, não há consenso sobre o que fazer entre os golpistas. E tudo isso junto, não dá.

Por isso, minha impressão é que a crise política terá novas escalas e continuará se agravando. A divisão dos golpistas dificulta uma proposta de relativo consenso entre eles. O PMDB e o PSDB ainda tem muito que delatar- inclusive no Judiciário - para tentar se salvar. Nós estamos crescendo, mas ainda sem força para pesar efetivamente na balança. Mas a desmoralização do que aí tende a prosseguir. Está mais do que na hora de termos uma proposta clara para a população e os crescentes setores sociais que passam à oposição.

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