sexta-feira, 14 de março de 2014

Um ano de poder do papa Francisco e a morte do Cardeal


Pe. Mário OIiveira

A morte acaba de surpreender o cardeal patriarca emérito de Lisboa, quando o papa Francisco e os seus fãs, mais do que muitos, tecem loas e cantam "te deums”, pelo seu primeiro ano de poder monárquico absoluto. A conjugação destes dois eventos vem dizer/revelar, em toda a sua crueza, que os poderosos também morrem, apenas o poder permanece, de geração em geração, para mal das populações e dos povos. O poder é o algoz do mundo, nos seus mais variados e distintos graus. Na igreja católica romana, o algoz-mor veste de branco e diz-se papa ou santo padre. Desde há um ano, papa Francisco. Era cardeal e foi escolhido pelos seus pares, num consistório em Roma, de que também fez parte o cardeal José Policarpo de Lisboa. Esta sua inesperada morte, em consequência de um aneurisma, vem dizer que a Cúria romana estaria hoje de luto, se os cardeais, há um ano, em lugar de terem escolhido o argentino Mário Bergóglio, tivessem escolhido o português José Policarpo, sem dúvida, muito menos ingénuo que o argentino, mas muito mais sisudo e aristocrata que aquele. Foi escolhido o plebeu argentino, porque a Cúria romana estava pelas ruas da amargura e mergulhada em duas das mais ferozes corrupções, a financeira e a da pedofilia do clero. E era necessário escolher um papa histriónico e bobo da corte que contribuísse decisivamente para distrair os grandes media da Europa e do Ocidente.

Um ano depois, é indiscutível que os cardeais acertaram em cheio. Já ninguém, hoje, fala da Cúria romana e dos seus escândalos. Só se fala do papa Francisco e das suas piruetas, qual delas a mais eficiente, em termos de alienação e de infantilismo das populações. "O poder da palavra” contra "a palavra dos poderes”, diz, num sonante, mas vazio trocadilho, o prof. Adriano Moreira, no decurso de uma iniciativa de alguns intelectuais não-orgânicos do nosso país, organizada em Lisboa, para Roma ver e o núncio apostólico registar. À falta de actos concretos do papa Francisco, os intelectuais cristãos, estéreis quanto ele, masturbam-se com frases e trocadilhos sonantes e, deste modo, contornam o incómodo que é ter de louvar o papa Francisco, quando deveriam acusá-lo de nada fazer no terreno das mudanças estruturais na igreja católica romana, mais do que prementes. Mas como acusar de ineficácia o papa Francisco, se todos eles são iguais a ele? As cátedras que ocupam, anos e anos, a fio, nas universidades, não são o que há de mais estéril e de perverso? Não estão todas ao serviço do poder financeiro, político e religioso-eclesiástico? Não é delas que saem as elites dirigentes das nações e das igrejas? E estas não se têm todas na conta de pedras fundamentais da sociedade e do mundo, quando são os seus algozes de turno?!

Dispensado desta hipocrisia, por parte dos poderes de turno, está, agora, José Policarpo, bispo emérito da Igreja de Lisboa. A sua inesperada morte, aos 78 anos de idade, acaba de o reduzir a objecto de hipócritas elogios fúnebres, qual deles, o mais bacoco e despropositado. Só as populações ouvem a notícia e prosseguem mergulhadas nas suas desventuras, causadas pelos agentes dos poderes, seus algozes. Para elas, o acto de morrer é tão natural como o acto de nascer. E é assim que deve ser. Mas não assim para os agentes dos poderes. Se um deles morre, como, acaba de morrer o cardeal patriarca emérito de Lisboa, logo os outros vêm a terreiro chorar lágrimas de crocodilo e tecer loas póstumas, qual destas a mais ridícula e disparatada. E lá se juntarão todos, no funeral, como se só eles existissem. As populações, suas vítimas, são apenas estatísticas e por isso não pesam nada nem significam nada para eles, seus carrascos. Nem os grandes media lhes dão importância, a não ser como estatísticas. Mas sempre que morre um dos carrascos das populações, a notícia salta, veloz, para todos os noticiários. São assim os grandes deste tipo de mundo, de raízes cristãs, por isso, sem entranhas de humanidade, tal como o cristianismo e o seu cristo-da-fé, o mito dos mitos, sobre o qual está edificado o Ocidente ladrão e assassino.

O papa Francisco, com um ano de poder monárquico absoluto – a igreja católica romana, sou eu!, diz ele, todas as manhãs, quando se vê ao espelho – está bem e recomenda-se O poder é assassino, mas não é suicida. Mata, mas não se suicida. Cuida-se e prolonga-se no tempo. Faz-se rodear de tudo o que é especialista em cuidados médicos, para que nenhum aneurisma o faça desaparecer antes de tempo. Não falta, entretanto, quem, um ano depois, ainda continue a temer que ele venha a ser assassinado, pela forma como está a comportar-se no trono petrino e imperial. Quem isso pensa e diz, é ainda mais ingénuo que ele. Ignora que, a um bobo, ninguém mata. Louvam-no e aplaudem-no, em cada espectáculo que faz. Pertence-lhe distrair as atenções e o papa Francisco faz isso como poucos, como nenhum outro antes dele. Tomasse ele decisões estruturais consequentes, que partissem a espinha à Cúria romana, e aí sim. Já estaria morto. Mas ele fala muito e escreve sobre os assuntos fracturantes, mas não lhes mexe nem com um dedo. E, como ele, os clérigos católicos todos, nas diferentes nações onde pontificam. São todos "o poder da palavra” contra "a palavra dos poderes”. Por isso, uma mão cheia de nada, e outra de coisa nenhuma. Muito cristãos, pois claro. Nada humanos. Nada jesuânicos.

Ou invertemos esta multi-milenar situação e fazemos corpo com as vítimas de todos estes carrascos cristãos religiosos e laicos – todo o poder é cristão, religioso ou laico! – ou vamos de mal a pior. Porque, dos carrascos, nunca pode vir salvação/saúde social, vida em abundância. Apenas morte. E sempre antes de tempo. Cabe-nos acordar e mudar. De ser e de Deus!

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Adital

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