terça-feira, 25 de março de 2014

Dr. Google ameaça Médicos


Buscas sobre doenças na internet: pânico em vão

Médicos alertam que hábito é perigoso também por estimular automedicação

Beatriz Salomão

Rio - Diagnósticos e prescrições de remédios com apenas alguns cliques, sem sair de casa. Procurar informações sobre saúde com a nova ‘especialidade’ médica, o ‘Doutor Google’, é prática cada vez mais recorrente: 81% das pessoas que acessam a internet querem saber sobre remédios e doenças, segundo estudo feito em 12 países. Apesar de parecer a solução para todos os males, o gesto é um risco, alertam especialistas.

Pânico desnecessário é um dos primeiros prejuízos das consultas virtuais. “A pessoa tem apenas uma diarreia, consulta o Google, lê que esse é um dos sintomas do câncer de intestino e entra em desespero”, cita Marco Aurélio Chame, clínico-geral do Hospital São Francisco na Providência de Deus.

Marco Aurélio lembra ainda que apenas o médico pode dar o diagnóstico, considerando exame clínico, histórico familiar e testes laboratoriais. “Há o risco de a pessoa tomar uma atitude drástica, achando que tem uma doença grave e não passar de algo simples”.

Outro prejuízo é a automedicação. O levantamento, da Bupa Health Pulse, com 12.262 pessoas, revelou também que 68% dos internautas buscaram informação sobre medicamentos específicos. O clínico aponta que a ingestão de qualquer remédio sem prescrição apresenta riscos. Por exemplo, tomar aspirina indevidamente pode provocar hemorragia digestiva. Um dano mais grave, de acordo com o especialista, é camuflar sintomas de enfermidade mais perigosa para o organismo.

“Uma dor de cabeça, às vezes, pode ser um aneurisma, mas tomar remédios para amenizá-la pode deixar o sintoma mascarado e atrasar o diagnóstico”.

Os brasileiros estão em quarto lugar no ranking de acessos para pesquisas de saúde. Além do Brasil, os seguintes países entraram no estudo: Austrália, Inglaterra, China, França, Alemanha, Índia, Itália, Rússia, Espanha, México e EUA.

Paciente questiona

Mudança na relação com o médico é um dos efeitos do ‘Doutor Google’, aponta Beatriz Vincent, médica e Doutora em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública, da Fiocruz. O paciente mais ‘informado’ assume posição questionadora nas consultas, o que pode gerar tensão. “É uma realidade nova, que pode ser tensa. O médico não está acostumado a ser desafiado e muitas vezes o doente quer discutir”.

A médica alerta que, na rede, há informações incorretas e tratamentos sem evidências científicas. Além disso, sites nacionais não possuem selos de qualidade de informação em saúde, como acontece em outros países. “Se o doente não é um técnico, como ele vai avaliar a qualidade do que está na internet?”, questiona.

Odia.ig

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