sexta-feira, 18 de junho de 2010

A esperança prostituída pelos asseclas do governo Lula: solidariedade a Manoel da Conceição



Wagner Braga Batista

Nas eleições presidenciais de 1994, uma atriz havia feito a seguinte indagação: entre um intelectual da Sorbonne e um mecânico de oficina, quem você escolheria para presidente ?

Nós, como tantos outros, votamos no operário. Quase conseguimos evitar a escalada narcísica e privatista de FHC, o fausto estelionatário, que vendeu duas vezes sua alma, à direita no Brasil e às corporações internacionais.

Em 2002, outra atriz, proferiu nova indagação,feita por encomenda das elites que ameaçavam abandonar o país. Perguntava se não tínhamos medo do futuro. Alardeava o medo e nos convidava a retroceder à escuridão. Proclamava o medo frente a um governo que se dizia popular e democrático. Com elegância e firmeza, respondemos: precisamos substituir o medo das elites pela esperança do nosso povo.

Vencemos e depois perdemos para nós mesmos. Para os asseclas de Lula que, se antes instilavam medo, depois prostituíram a esperança.

O que temos visto?

O assalto e a privatização do aparelho de Estado pelas forças que cultivavam o medo. A especulação financeira tomando o lugar da atividade produtiva. A falta de ética se tornando imperativa em nome de tortuosas diretrizes políticas, a exemplo da transposição das águas do rio São Francisco.

As águas do São Francisco que foram transpostas para matar a sede de riquezas daqueles que se alimentam da pobreza. As águas do rio da integração nacional que serviram como moedas de troca em acordos com oligarquias. Naquele momento, como agora, a ameaça à vida de um bispo nada significou. Não sensibilizou a nova elite enquistada no PT , nem tampouco os asseclas do Presidente Lula: oligarquias que apelavam à sede do povo para saciar sua sede de poder e de riquezas.

Agora, a esperança prostituída volta-se contra a vida de um lavrador. Homem de tantas batalhas, alvo de tantas perseguições, vitima de torturas e outras mutilações. Manoel da Conceição, fundador do PT, na Paraíba, hoje em greve de fome, em São Luiz, no Maranhão.

A greve de fome de Manoel da Conceição e do deputado estadual Domingos Dutra (PT-MA) denuncia mais uma grave intervenção da cúpula deste partido. Deste feita, contrariando deliberação democrática da Convenção Estadual do PT e obrigando seus militantes a apoiar a reeleição de Roseana Sarney.


Recentemente, em carta dirigida ao próprio Lula, Manoel da Conceição explicava as razões de sua opção por uma candidatura própria do PT:

...ultimamente eu tenho vivido as maiores angustias que um homem com minha trajetória de vida é capaz de imaginar e suportar. Receber a imposição de uma tese defendida pela Direção Nacional do meu partido e até onde me foi informado pelo próprio companheiro presidente de que o nosso projeto político e social passa agora pelo fortalecimento da hegemonia da oligarquia sarneysta no Maranhão. Eu sei do malabarismo que o companheiro presidente tem precisado fazer para garantir alguma condição de governabilidade, porém, sei do alto custo que é cobrado por esses apoios conjunturais, e que nosso governo vem pagando a todos esses ônus. Companheiro, tudo precisa ter algum limite e tal limite é a nossa dignidade. O que está sendo imposto a nós petistas do Maranhão extrapola todos os limites da tolerância e fere de morte a nossa honra e a nossa história. Eu pessoalmente, há mais de 50 anos venho travando uma luta contra os poderes oligárquicos e contra os exploradores da classe trabalhadora neste país. Por conta disso perdi dezenas de companheiros e companheiras que foram barbaramente trucidados por essas forças reacionárias. Como que agora meus próprios companheiros de partido querem me obrigar a fazer a defesa dessas figuras que me torturaram e mataram meus mais fieis companheiros e companheiras. Vocês podem ter certeza que essa é a pior de todas as torturas que se pode impor a um homem. Uma tortura que parte dos próprios companheiros que ajudamos a fortalecer e projetar como nossos representantes no partido e na esfera de poder do Estado, na perspectiva de um projeto estratégico da classe trabalhadora. Estou falando do fundo de minha alma em honra à minha história e à de meus companheiros e companheiras que foram assassinadas pelas forças oligárquicas e de extrema direita neste país. (Carta de Manoel da Conceição ao Companheiro Presidente Lula)

O Partido dos Trabalhadores se constituiu como signo da esperança. No inicio da de década de 1980, uma charge do Henfil mostrava a Grauninha, sua personagem, vendo uma luz do fim do túnel. Hoje, cidadãos que estão à frente do PT, não conseguem sequer ver o túnel. Estão mergulhados na escuridão, na falta de perspectiva e se digladiam para viabilizar seus interesses restritos.

Perderam de vista o projeto socialista, democrático, abrangente e transformador ligado à origem do PT. Regem-se pelo imediatismo que coloca na ordem do dia alianças espúrias e a negação de princípios fundamentais para um partido popular, democrático e socialista.

O que é mais grave, renega sua própria História e despreza seus militantes para celebrar os novos amigos, a exemplo do conhecido ex-líder do partido de sustentação do regime militar, ex-presidente do Brasil e atual senador pelo estado do Amapá, José Sarney.

Se olharmos atentamente, estão dentro ou colados ao PT, muitos daqueles que há dez anos atrás denunciávamos como expressões do atraso, da corrupção,da falta de ética, de respeito com a coisa publica e com o próprio povo brasileiro.

Durante algum tempo chegamos a pensar que haviam mudado sua postura, que eram portadores de uma nova consciência e que exerciam uma prática política diferente. Hoje, estamos convencidos de que trouxeram estas mazelas para o PT e para o governo Lula. Contaminaram o instrumento de uma nova política com seus vícios e mazelas. Não mudaram suas atitudes, mudaram o PT e o governo, adequando-os aos seus interesses privados, clientelistas e patrimonialistas.

Em entrevista, Frei Betto se reporta a esta tortuosa trajetória do PT.
O PT tinha dois trunfos simbólicos para garantir a sua credibilidade: ser o partido dos mais pobres e da defesa da ética. De certa maneira, ele ainda é o partido dos desfavorecidos. O apoio popular do presidente Lula vem das políticas sociais que governo desenvolveu. Entretanto, não há hoje ninguém que diga que o PT se destaca por sua integridade. ( Entrevista Frei Betto, Estado de São Paulo,14 de junho de 2010)

Para finalizar. Não mudaremos nossa conduta, nem tampouco nosso voto, apesar da indignação. Indignação contra os rumos da política miúda e mesquinha que avilta a todos que dela participam. Talvez, a cúpula do PT e os asseclas de Lula consigam lograr seu intento colocando em risco a vida de dois companheiros. O que a cúpula do PT jamais conseguira é eliminar a dignidade das pessoas. Jamais conseguira é impedir que a solidariedade se imponha como uma postura essencial daqueles que se associam na luta pela dignidade política. Daqueles que, dentro ou fora do partido, ainda acreditam em suas virtualidades, em sua força emuladora e na sua capacidade construir um projeto socialista para o país.

Porém é forçoso reconhecer o terreno sobre o qual caminhamos. Não escolhemos este caminho pantanoso sobre o qual estamos patinando. Sabemos quão difícil é andar sobre a lama. Contudo, sabemos também que mais perigoso é sugerir que o povo se lance em precipícios. Posto que, o povo ainda não aprendeu a voar.

Wagner Braga Batista professor aposentado da UFCG

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