quarta-feira, 9 de junho de 2010

A voz rouca da montanha



Por Mauro Santayana

Venceu o partido paulista: a cúpula do Partido dos Trabalhadores impôs ao PT mineiro (ou parte do PT mineiro, como veremos) o sacrifício de apoiar o antigo locutor de A voz da América – no programa dirigido ao Brasil durante o período militar – como candidato ao governo. Para alguns petistas históricos, que conhecem a biografia do candidato, a decisão foi além do suportável. É esta a posição de aguerridos militantes do partido, entre eles a senhora Sandra Starling e o deputado Durval Ângelo.

Apanhado pelo laço de ocasional vicissitude, Fernando Pimentel submeteu-se e fez as declarações de praxe em ocasiões semelhantes. Mas não se espere que ele parta com entusiasmo para o sacrifício de enfrentar Aécio Neves e Itamar Franco, na disputa para o Senado.

Em toda essa história há eloquente silêncio, até agora: o de Patrus Ananias. Os defeitos políticos do militante cristão, nascido na lendária Bocaiúva de José Maria de Alkmin, são virtudes: a modéstia que o colocou no segundo plano do governo Lula, ainda que o alto prestígio do presidente se deva, em boa parte, ao desempenho de seu ministério; a austeridade e o recato de sua vida familiar; a dedicação, igualmente discreta, à cultura e ao trabalho.

Patrus sugeriu, democraticamente, as prévias eleitorais, com Pimentel; vencido por pequena margem de votos partidários, não contestou a derrota. Preparava-se para o pleito dentro da contingência, e assistiu à capitulação do diretório estadual. Mas seria surpresa se ele viesse a aceitar o papel de candidato a vice-governador (que lhe querem impor) na chapa do candidato do PMDB. É inimaginável pensar nele pedindo votos para Hélio Costa em Minas, sobretudo porque, se candidato à Câmara dos Deputados, sairia de Minas com 1 milhão de votos.

Por detrás de tudo isso há um equívoco, nascido da comercialização do processo eleitoral: o de que o tempo de televisão, no programa oficial, decide os pleitos. Não é bem assim, como sabem os mais experientes observadores. Muito tempo pode atrapalhar. O que importa é o conteúdo.

O mais grave, e que nem todos veem, é o conflito entre São Paulo e a Federação. O que decidirá as eleições, para um lado e para o outro, serão as ideias e o carisma dos candidatos, os apoios dos poderes de facto e as constelações dos interesses – tudo isso a partir de todos os estados e municípios, onde vivem os eleitores e se contam os votos.

Jornal do Brasil

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