quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Em nome da moral, os maus costumes


De repente, milicianos do movimento de direita MBL agridem espectadores da exposição QueerMuseu em Porto Alegre, patrocinada pelo banco Santander. Depois fazem pichações nas fachadas do banco, denunciando que a exposição intitulada Cartografias da Diferença na Arte Brasileira faz apologia à pedofilia e zoofilia. O banco recua, frente à milícia fascista e encerra a exposição antes do prazo. Dentre as obras atacadas há Volpi, Portinari, Ligia Clack, Leonilson, Adriana Varejão, que devem ser inteiramente desconhecidos da ignorância que assola a nação nesses tempos de trevas modernas. Os imbecis recuperam o conceito de “arte degenerada” usado pelo nazismo para destruir a incompreensão da arte, condenado como a mais triste página do ataque intolerante à cultura na história.



Dias depois um juiz proíbe a peça “O evangelho segundo Jesus, Rainha do céu”, em Jundiaí-SP, sob a alegação de que Jesus foi transformado em gay, atendendo ao pedido de organizações religiosas, da famigerada TFP (Tradição, Família e Propriedade) de triste memória e de políticos locais.



Recentemente, atendendo solicitação de um grupo autointitulado “Psicólogos em Cristo” outro juiz suspende a liminar que cassou uma anunciada “terapia de reversão (??) sexual”, baseada em resolução do Conselho Federal de Psicologia que proíbe a chamada “cura gay” desde 1999. A suspensão dessa liminar, obtida pelo Conselho (sobre um caso de desobediência de um psicólogo), abre brecha para a discussão – mais uma vez – de uma terapia de “reversão” sexual, baseada em crenças religiosas e obscurantistas, sem qualquer fundamento técnico-científico. Como estamos em época que juiz não só acham, mas se comportam feito deuses, o efeito de tal medida nesses tempos de trevas modernas pode ser devastador.



Então tá. Em poucos dias uma exposição de arte é golpeada e encerrada sob o argumento de ser “arte degenerada”; um juiz proíbe uma peça por alegação da famigerada TFP de ter conteúdo que agride as crenças religiosas; e outro juiz traz à baila a imbecilidade de permitir a “cura gay” por psicólogos, cujo órgão de classe não autoriza uma prática que considera charlatanismo.



Estamos voltando ao obscurantismo, escoltados por um judiciário elitizado, reacionário, submisso a argumentações religiosas e crenças ultrapassadas. O que aconteceu com os concursos para o judiciário na década de oitenta para que tivéssemos o quadro atual? E é muito sintomático que a nova Procuradora Geral da República tome posse ladeada por três chefes de poderes indiciados por crimes de corrupção.



Pior, numa reunião maçônica, um general graduado das forças armadas faz uma apologia do golpe militar e nos ameaça com uma nova possibilidade de golpe, sem que qualquer autoridade hierárquica lhe peça satisfações. E, ainda pior é que incautos acham que essa via está livre da corrupção. O general escondeu a corrupção da Transamazônica, usina de Angra, CAPAMI, da fortuna que fizeram os ricos de hoje que apoiaram o golpe de 64. O general esconde a censura, as prisões, a tortura, o desemprego, o desaparecimento de combatentes do regime, o aumento da violência, a maior desgraça – que é a falta de liberdade – que calou por 20 anos os brasileiros que agora falam.



E os golpistas foram ladeados pelos moralistas de sempre. Os de ontem e os de hoje. Em nome da moral, os maus costumes. Dá medo.



Entramos definitivamente no reino de trevas modernas. O que mais falta acontecer para chegarmos à idade média?



Edmaroliveirablog

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