sábado, 2 de setembro de 2017

A burguesia brasileira e o golpe do Impeachment

Jaldes Meneses

Na bela síntese “A burguesia brasileira” o historiador Jacob Gorender (112-13) constata que os estudos sobre a burguesia brasileira oscilaram entre dois extremos: aqueles, influenciados pelas teses dominantes na Internacional Comunista, apostaram na possibilidade de existência de uma burguesia nacional que poderia ser interpelada numa aliança nacional-popular de longo prazo de natureza “antifeudal” e “antiimperialista”. No Brasil, o grande interprete desta vertente foi Nelson Werneck Sodré. Em outro diapasão, soi-disant se puserem autores que tenderam a anular qualquer papel autônomo à burguesia nascidas nos trópicos, a não a associação e a subordinação às burguesias dos países do centro, a exemplo de Fernando Henrique Cardoso, Luciano Martins e uma grande fauna de autores ligados à Quarta Internacional.


Talvez seja o caso de pensar numa burguesia sem credo, no sentido de desprovida de um projeto nacional. Pode-se dizer que se não tem projeto nacional, o credo da burguesia é o capital. A afirmação é correta, mas insuficiente, posto que o capital é uma relação social, sem dúvida objetiva, mas na qual a moral e a política são ausentes.

A burguesia americana, por exemplo, em contrafeita, possui um projeto nacional-imperial, neste caso inteiramente consorciado com as projeções de poder do Estado para o mundo. Porém, a nossa burguesia nasceu e vive no território brasileiro, é interna, e como qualquer agente social, tem interesses mundanos a preservar e conquistar. Neste sentido, as relações da burguesia com o Estado, em qualquer governo são permanentes, sejam governos de direita, esquerda ou centro. Os representantes da burguesia brasileira, invariavelmente, controlam os ministérios econômicos e o Banco Central, bem os como os chamados “ministérios de produção”, como desenvolvimento e agricultura.

Alguns ideológicos de governos de esquerda confundem essa presença como adesão ao projeto de governo. Engano. Esses representantes ministeriais realizam, por assim dizer, uma função corporativa, ou seja, estão a postos para que as políticas de governo se adequem ao princípio da garantia de maximização dos lucros. Neste sentido, pode até haver alguma confluência entre os interesses da burguesia e os governos de coalizão de classes - inclusive alguma regulação -, como os governos de Lula e Dilma, quando o ciclo econômico está em alta e os lucros garantidos. Mas a adesão é condicional. Tão logo o ciclo econômico, especialmente o sismógrafo da taxa de lucros, sinalize um viés de baixa, a burguesia abandona o apoio ao governo e parte para novas opções - inclusive golpistas. Esta maneira de operar tem se repetido ao longo da história do Brasil e operou mais uma vez em 2016.


Facebook



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...