quarta-feira, 21 de novembro de 2012

PB tem 38 quilombos com 2,6 mil famílias



Repressão e esquecimento ainda marcam história de muitos moradores de quilombos na Paraíba.

Isabela Alencar

Ontem, o Brasil comemorou o Dia da Consciência Negra, mas as marcas da escravidão, que durou anos, ainda permanecem na expressão dos que viveram essa fase, que permaneceu mesmo depois de 124 anos da abolição. Na Paraíba, existem 38 quilombos registrados, com 2.693 famílias e aproximadamente 12 mil pessoas. Nestas comunidades a repressão e o esquecimento ainda estão vivos e marcam histórias de vidas como a da ceramista Maria de Lourdes Tenório, de 67 anos, moradora do quilombo Grilo, no município de Riachão do Bacamarte, no Agreste paraibano. 


Durante a infância, Maria de Lourdes sofreu inúmeras adversidades, incluindo a fome e a perseguição dos “brancos” fazendeiros. Entre uma lembrança e outra, a ceramista, que apresentou seu trabalho no Museu de Artes Assis Chateaubriand ontem pela manhã, contou que um dos maiores absurdos que viveu foi a exploração do trabalho pelos donos da terra. “A gente trabalhava cinco dias da semana para os donos da terra e dois pra gente. No final das contas, a gente continuava escravo”, lembrou.

Mas os problemas não acabavam com o abuso do poder e se estendiam até a casa dos quilombolas, onde um prato de comida era um luxo de poucos. “A gente colhia muito pouco e tinha que passar com uma refeição por dia. Muitas vezes a comida era só farinha com rapadura”, disse. A falta de terras próprias foi sempre o principal empecilho dos negros, que mesmo em pleno século 21, ainda enfrentam situações de humilhação, como na comunidade negra Senhor do Bonfim, localizada em Areia, Brejo paraibano. Um dos moradores do local, José Sebastião Gomes, 46, que revelou o último conflito entre os quilombolas e os proprietários da terra onde vivem.

“Em 2003, o dono da terra morreu e a herança teve que ser partilhada. Um dos proprietários queria expulsar as 25 famílias que moram lá e durante o conflito, nós fomos humilhados e sofremos até ameaças de morte e violência física. A gente sente que as leis ainda não chegaram até nós”, lamentou. Para a socióloga e diretora da Associação de Apoio às Comunidades Afrodescendente da Paraíba, Francimar Fernandes, em muitas localidades esquecidas, a escravidão ainda não acabou, seja através da exploração do ser humano ou ainda da falta de políticas públicas que sejam aplicadas para o desenvolvimento destas comunidades.

Jornal da Paraíba

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