quarta-feira, 21 de novembro de 2012

A seca e os pobres na Paraíba



Água potável vira artigo de luxo em municípios castigados pela seca e tem reajuste de até 100% no preço


O prolongamento da estiagem criou um comércio lucrativo de água nas cidades atingidas pela estiagem. Um caminhão pipa chega a custar R$ 200, o dobro do que custava antes do período sem chuvas 


Por Luciana Rodrigues

A seca e o baixíssimo nível de armazenamento nos reservatórios que abastecem os municípios paraibanos fizeram com que o preço da água potável disparasse no interior da Paraíba. A venda do produto se transformou num negócio lucrativo, tanto para o comércio formal, no caso da água mineral, como no alternativo, feito por comerciantes oportunistas que entregam água nas comunidades rurais mais afastadas das cidades. No caso da água mineral, um garrafão de 20 litros chega a custar mais de 62% do que seu preço normal.

Com venda e lucro garantidos, por tratar-se de um item de necessidade básica em falta, o preço de um carro pipa cheio chega a R$ 200 em algumas regiões do Sertão e em municípios do Vale do Rio Piancó, onde a estiagem é mais agressiva. Em outras regiões castigadas pela seca, como o Cariri paraibano, a situação também se repete. A forma mais vendida, a lata simples, custa R$ 1,50. Mas existem disponíveis também caminhões cheios para abastecer caixas e até cisternas.Nesses casos, a qualidade da água não é garantida pelos fornecedores.


Famílias carentes sofrem na Região do Vale do Piancó

Em comunidades carentes, como é o caso da Vista Alegre, na zona rural do município de Pedra Branca, agricultores se juntaram para adquirir água para abastecer as cisternas. As famílias dizem que no local não chega água distribuída pelo poder público e a única maneira que resta é juntar o pouco dinheiro que têm para comprar água. "Nós conseguimos comprar a R$ 100, mas depois de muita negociação. O preço que pedem por aqui é R$ 200", contou o agricultor.

Ele disse que conseguiu colocar água na cisterna do sítio Tabuleiro, de sua propriedade por R$ 100 que dará para o consumo da família dele e de um irmão por cerca de 30 dias. "É a alternativa que nos resta. Temos um poço artesiano aqui perto que poderia abastecer as famílias da comunidade, mas a bomba está quebrada e não temos condições de pagar para consertar ou comprar outra", lamenta.

Na mesma comunidade, um grupo de dez famílias também teve que adquirir a água de uma caminhão pipa particular, mas a quantidade só dará para oito dias. Aquelas famílias que têm mais recursos ajudam aqueles mais pobres e que não têm condições de contribuir para a compra da água. Como é o caso da família de dona Damiana Basílio, formada por sete pessoas.

"Nós estamos vivendo com muita dificuldade. Eu, por exemplo, não tenho como sobreviver com a roça porque quando não chove não tem o que colher ou vender. O único recurso que temos é R$ 189 que recebemos do Bolsa Família", conta a agricultora. Ela disse que quando recebe o dinheiro do programa do Governo Federal compra de feira para dar de comer a cinco filhos durante todo o mês. São sete pessoas dependendo exclusivamente dos poucos recursos do Bolsa Família para sobreviver e não tem condições de contribuir para a compra de água, por isso recebem o líquido dos vizinhos que se unem e se ajudam entre si.

A quantidade de água comprada que entra nas cisternas, no entanto, não dá para os animais. dona Damiana contou que terá que soltar uma jumenta que possui porque não tem como alimentá-la e matar a sede do animal que está prestes a parir e terá um fim triste se tiver que ser solta na caatinga. "O que eu posso fazer é pedir ajuda a todos. Quem puder me mande comida e água porque nossa situação é de tragédia", clamou a agricultora.

Correio da Paraíba

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