terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Delfim: A hora é agora


O desemprego é o maior mal que corrói qualquer sociedade. Cada vez que um indivíduo que pode e quer trabalhar não encontra emprego, sente-se excluído
 

É o investimento de hoje que produzirá o crescimento de amanhã e criará oportunidades de emprego

por Delfim Netto

O desenvolvimento econômico com inclusão precisa da produtividade do trabalhador

Deveria ser evidente que estamos diante da urgente necessidade de corrigir distorções produzidas por um generoso pensamento mágico desatento às restrições físicas do mundo, às identidades da contabilidade nacional e à “regra de três”, que procurou a redistribuição continuada de bens que não foram produzidos.

O desejado desenvolvimento econômico com inclusão tem como condição necessária e simultânea o aumento da produtividade do trabalhador.

Este, certamente, depende de uma miríade de fatores. Empiricamente, os mais importantes são o capital físico, que incorpora os avanços tecnológicos, e o conhecimento para bem utilizá-lo de que se dota cada trabalhador.

O que isso impõe? Qualquer que seja o regime da organização social e da economia nela inserida, ele tem de harmonizar a distribuição do que foi produzido entre: 1. O que se destina à satisfação imediata de suas necessidades (o consumo e o bem-estar da população). 2. O que se destina a aumentar a quantidade e a qualidade do capital físico (máquinas, infraestrutura) operado pelo capital humano (educação, saúde).

A lei de Helmut Schmidt é incontornável: é o investimento de hoje que produzirá o crescimento de amanhã e criará a oportunidade de emprego de depois de amanhã.

A verdadeira tragédia social e econômica dos países é um processo em que: 1. Insiste-se em acreditar no que, empiricamente, é reconhecidamente falso. 2. Acredita-se que as mesmas causas podem levar a efeitos diferentes. 3. Quando tudo já deu errado, tenta-se novamente, como ingerido no recente documento do Partido dos Trabalhadores.

Estamos hoje, o Brasil e o mundo, numa situação delicada. Ambos perdemos tração, mas é evidente que o efeito externo sobre o qual não temos controle é muito menor do que o efeito interno que temos instrumentos para controlar. Os últimos resultados da Pnad, divulgados no dia 15 último pelo IBGE, são alarmantes.


O investimento de hoje produzirá o crescimento de amanhã e criará a oportunidade de emprego depois de amanhã

A taxa de desemprego atingiu 8,9% no terceiro trimestre de 2015, um aumento de 30% sobre o seu homólogo de 6,9% no triênio 2012-2014, em resposta a uma queda do PIB de 4,5% no mesmo período. Talvez tenha atingido 9,5% no quarto trimestre e será, pelo efeito estacional, ainda maior no primeiro trimestre de 2016.

O Brasil corre o risco de ter mais de 10 milhões de desempregados em março deste ano. Não dá para esperar mais! É fundamental incorporar o senso de urgência.

Nessum dorma... O “principismo” do Supremo Tribunal Federal colocou em estágio letárgico o processo de “impeachment”, sobre o qual, aliás, sempre tive sérias dúvidas.

A solução, portanto, é a presidente assumir o seu protagonismo e apresentar, na abertura do Congresso, projetos de mudanças constitucionais e medidas infraconstitucionais que devolvam à economia a perspectiva da sustentabilidade de longo prazo.

O governo não tem que se inibir. Deve “ir para a rua”, sofrer o “panelaço” que lhe cabe e “colocar nas cordas” a sua indigente, obesa e medíocre “base” política.

O desemprego é o maior mal que corrói qualquer sociedade. Cada vez que um indivíduo que pode e quer trabalhar não encontra emprego, sente-se excluído.

A situação é ainda mais grave quando o desemprego se prolonga e ele perde o “capital humano” incorporado no simples ato de trabalhar: vai-se com o tempo a sua expertise, superada pelo avanço tecnológico. No fim do dia, perdeu um pedaço da sua identidade e destruiu a sua família.

Uma das medidas estruturais para acomodar as flutuações do emprego ínsitas no capitalismo é autorizar a plena validade do entendimento direto entre comitês de fábrica e empresários sob a vigilância dos sindicatos, que têm muito a aprender.

O que se propõe não é a flexibilização tout court. É que trabalhadores e empresários, sentados a uma mesa com as informações relevantes e transparentes, possam discutir caso a caso, livre e concretamente, qual a melhor forma de obter uma distribuição mais “justa” dos ganhos e dos inconvenientes da flutuação da conjuntura, respeitados a segurança, a estabilidade e os direitos constitucionais de ambas as partes.

Por si mesmo, tal entendimento aumentará o bem-estar de todos e mitigará as próprias flutuações da conjuntura.

Carta Capital


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