sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

MST contra a política econômica recessiva, que penaliza o conjunto da sociedade brasileira



Para Movimento Sem Terra, defesa da democracia não abandona crítica ao governo

Tatiana Farah

Manifestações contra o impeachment não livram a presidenta Dilma Rousseff [Partido dos Trabalhadores – PT] de cobranças para mudar a política econômica e garantir direitos sociais, diz Gilmar Mauro. Liderança nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), ele afirma que os movimentos sociais, mais uma vez, sairão em defesa do mandato da presidenta, mas cobram ações do governo em prol dos trabalhadores e uma política agrária que contemple os sem-terra.

O MTST [Movimento dos Sem Teto] deixou claro que a mobilização desta quarta-feira, 16 [d dezembro], é contra o impeachment, mas não é um endosso ao governo da presidenta Dilma. Esta é a posição do MST?


Sim. O acordado pelo conjunto dos movimentos sociais é fazer um ato contra o impeachment, pelo "Fora Cunha” e por uma nova política econômica. A avaliação que fazemos é que não há como titubear, em nenhum momento, na defesa da democracia contra o golpe, em nosso país. Agora, evidentemente, que isso coaduna com um processo de crítica. A defesa do mandato da Dilma é uma coisa. Isto não significa que não haja críticas à forma como ela vem conduzindo o governo, sobretudo, a política econômica.


Como é apoiar uma presidente que tem em seu time de defesa Katia Abreu (ministra da Agricultura), ferrenha adversária do MST?

É difícil. E não só pela Katia Abreu. Se você pegar desde as nomeações do governo, do Joaquim Levy, na condução econômica, e todo o conjunto de aliados supostamente da base aliada do governo, o MST já fez críticas. Mas não dá só para criticar as pessoas, a Katia ou o Levy. A responsabilidade é de quem comanda isso, que é a presidenta da República. Mas não é por essa razão que ninguém vai titubear na defesa da democracia e contra o golpe. Agora, é evidente que há um descontentamento popular porque não avançamos na reforma agrária; e, além de tudo, não foi isso que foi discutido nas eleições, nem nos programas que foram aprovados nas eleições. Por isso, as mobilizações (dos movimentos sociais) durante o ano todo foram contra o golpe, mas também contra as políticas aplicadas pelo governo federal e, principalmente, a preocupação para que não haja retrocesso nas conquistas sociais que conseguimos a duras penas.

As lideranças do MST são pressionadas pela militância sem-terra a terem uma atitude mais incisiva nas disputas com o governo federal?

Com certeza, a militância pressiona. A militância do MST está muito crítica em relação às posturas do governo federal, sobretudo, na política econômica recessiva, que penaliza o conjunto da sociedade brasileira. Afinal de contas, é importante destacar que tudo que é produzido passa pelas mãos dos trabalhadores, inclusive, o lucro dos patrões e os impostos que são recolhidos. Embora a Fiesp [Federação das Indústrias de São Paulo] reclame dos impostos altos, quem produz para pagar os impostos é a classe trabalhadora, que paga os impostos de tudo o que consome. E é a classe trabalhadora que está pagando fortemente por esse processo recessivo. Então, há esse descontentamento. Mas ninguém vai abrir espaço para a direita mais reacionária, que quer implantar uma política mais neoliberal, mais agressiva do que hoje é aplicado, que, a nosso ver, tem um viés neoliberal também.

A presidenta Dilma sinalizou a retomada do diálogo com os movimentos sociais? Ela vai se encontrar com vocês depois da manifestação contra o impeachment?

Vai ter uma reunião com a presidenta possivelmente na sexta-feira, 18, mas pode ser antecipada. E há uma retomada das conversas, sim. Agora, para nós, conversa e diálogo… têm de consistir em conversa e ação. Porque, se for só conversa, eu acho que todo mundo está meio saturado. Isso que você perguntou da militância é verdade: nós queremos ações concretas da presidenta. No nosso caso, o avanço da reforma agrária, a solução das famílias acampadas, o plano nacional de reforma agrária e mudanças na política econômica.

Nesta terça-feira, 15, a presidenta Dilma parece ter dado um passo no sentido de preservar conquistas sociais e contrariou o ministro Joaquim Levy, diminuindo a meta fiscal para garantir o Bolsa Família.

É um bom sinal. Dilma deve se dar conta hoje de que ela fez uma aposta aí… Evidentemente, no jogo político, precisa ter apoio no Congresso Nacional, embora, eu ache que o Congresso é um antro de picaretas. Agora, sempre que houve uma situação grave, o apoio principal, desde o governo Lula, foi o movimento social. Hoje, acho que a presidenta, se não se deu conta disso, aí é grave a situação. Quem fez campanha no segundo turno, foi pra rua, quem defendeu e continua defendendo o seu mandato neste momento é o movimento social organizado. Mas aqui ninguém é idiota. Defendemos a democracia e não queremos dar um passo atrás. Agora, é preciso que o governo aja com uma sinalização muito clara a respeito dos direitos sociais e com a possibilidade de ampliar esses direitos. Acredito que isso seja possível. Quero dizer mais uma coisa: nós passamos o ano inteiro lutando e espero (com a manifestação) que se consiga enterrar essa história de impeachment, que o "fora Cunha” aconteça e que a gente possa discutir uma pauta política nova para o próximo período, com muita luta e mobilização, mas com sinalizações do governo federal.
 


Agência Pública

 

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