sexta-feira, 13 de junho de 2014

Três pontos de vista sobre o capitalismo atual: um estudo a partir de harvey, jameson, zizek, deleuze e negri


Pedro S. Laureano e Carlos A.Peixoto Jr.

Procuramos apresentar e relacionar três visões distintas sobre o capitalismo. A primeira, compartilhada por Deleuze, Guattari, Negri e Hardt, aposta na radicalização da diferença contra os mecanismos modulatórios do mercado mundial. A segunda, presente nas teorias de Jameson e Harvey, critica o repudio pós-moderno às categorias universalistas, caracterizando o culto contemporâneo ao hibridismo e à pluralidade como reforço ideológico do novo capitalismo flexível surgido nos anos 70. Finalmente, no pensamento de Zizek, a crítica à ideologia da subjetividade múltipla é articulada à denegação capitalista da dimensão negativa, ou traumática, do sujeito. Buscamos sustentar por que as análises de Deleuze, Guattari, Negri e Hardt nos parecem mais pertinentes, ao procurarem positivar os elementos de constituição e resistência já presentes na atual conjuntura.


Partimos da ideia de que nas obras de Deleuze e Guattari encontramos uma teoria original do capitalismo que, ao cruzar o pensamento de Freud com o de Marx, não produz uma síntese freudo-marxista, mas, por meio de um processo preciso de seleção imposto a estes autores, produz uma nova caracterização do sistema que é de fundamental importância para o pensamento contemporâneo. O que emerge da teoria sobre o capitalismo construída em O anti-Édipo (1972/2010) e Mil Platôs (1980/1997b) é uma apreciação do sistema baseada na relação indissociável entre economia e desejo, instintos e instituições, tendo como único critério a relação do capital com a diferença, pensada radicalmente. As categorias do social e do individual, do sociológico e do psicológico são anuladas em nome de um terceiro não dialético: a diferença nela mesma, fora de sua modulação pelo discurso multiculturalista de tolerância, ou neoliberal de hibridismo mercadológico.



Em seguida, procuraremos apresentar as reflexões sobre o capitalismo contemporâneo e a pós-modernidade presentes nas obras de Fredric Jameson e David Harvey. A pós-modernidade é caracterizada por estes autores como ideologia do novo capitalismo flexível surgido nos anos 70. Desde então, o que se impõe ao debate é a questão do pluralismo, da diferença e do hibridismo. Harvey e Jameson, ao não compartilharem do entusiasmo com a nova subjetividade que emerge na pós-modernidade, propõem uma questão importante para o pensamento contemporâneo: num mundo unificado pelo mercado, apostar no caráter plural da subjetividade constitui alternativa eficaz de resistência política?



Nas teses de Slavoj Zizek também nos confrontaremos com outro diagnóstico das relações entre subjetividade e capitalismo. As análises de Zizek, distintas em pontos essenciais daquelas realizadas por Deleuze e Guattari, apresentam elementos importantes de convergência com as de Jameson e Harvey. O autor acusa o conformismo presente nos discursos que celebram a diferença e o múltiplo, apontando que a nova subjetividade estimada pela ideologia do capitalismo flexível ajusta-se perfeitamente às exigências do mercado. Para Zizek, foi pela afirmação irrestrita do particularismo que o capital pôde universalizar-se como horizonte político único.



Por fim, procuraremos defender por que, em nossa visão, as ideias de Deleuze e Guattari acerca da relação entre capitalismo e desejo permanecem imprescindíveis para o debate contemporâneo, mesmo em face da capacidade de reintegração, pelo mercado, dos esforços de autores e movimentos políticos que se pretendem críticos do capital1. Para tal, também nos serviremos de algumas das teses de Antonio Negri e Michael Hardt que, insistindo no elemento de radicalidade da singularidade e da diferença, contribuem com ferramentas conceituais preciosas para pensarmos formas contemporâneas de resistência.



Pedro Sobrino Laureano - Universidade Federal de São João del Rei, São João del Rei/MG, Brasil
Carlos Augusto Peixoto Junior - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro/RJ, Brasil


Link original da matéria
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-71822014000100002&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt

Controvérsia



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