segunda-feira, 9 de junho de 2014

Otimismo, Pessimismo, Transformação, Vida e Morte



Ivana Bentes

Diante do fim! Pegando carona nas postagens do Eduardo Viveiros de Castro sobre otimismo e pessimismo lembrei de duas vertigens em filosofia: o pessimismo hiperativista de Foucault e o otimismo critico deleuziano. Foucault se dizia um hiperativista pessimista, que diante das formas de captura e assujeitamento não cessa de atuar e agir. Mas o pessimismo hoje também é o modo de ativação do conformismo, do 'tá tudo dominado" que produz um cem número de anunciadores do apocalipse que justificam o não-agir e a impotência. "Não a nada a fazer" e certo gozo no discurso de lágrimas. O otimismo critico deleuziano aposta nas linhas de fuga, não paramos de inventar saidas, fugas, resistências. Fugimos e enquanto escapamos, lutamos. Melhor que deixar o otimismo refem dos "departamentos de marketing". Mas a questão é mais complicada.

Sempre gostei das duas fórmulas vitais, e ainda teriam outras, como certa tecnologia "brasileira" que é a capacidade de transformar as forças de morte em forças vitais. Uma cultura (indígena, periférica) que converte as forças hostis máximas (pobreza, violência, Estado de exceção) em processo de criação e invenção.

A questão entretanto parece ser mais radical que dividir o mundo entre pessimistas e otimistas quando nos vemos diante do "fim do mundo", uma reflexão radical e decisiva que o próprio Eduardo Viveiros de Castro faz hoje de como o homem se tornou uma força geofisica e geopolitica de destruição de todo o planeta. Podemos viver sem Deus, podemos viver sem o Homem no centro de tudo, mas podemos viver sem Mundo? A teoria do Antropoceno e dessa extinção de nós por nós mesmos faz pensar. Fala do Viveiros:

"O meu pessimismo nem passa tanto pelo fato de que o Brasil não tem jeito, porque acho que ainda poderia haver uma revolução antropofágica no Brasil. Mas hoje isso é uma questão que já não teria mais sentido colocar pelo simples fato de que estamos numa situação planetária em que a catástrofe já se iniciou. O mundo está entrando, num sentido físico, termodinâmico, num outro regime ambiental que vai produzir catástrofes humanas jamais vistas, no meu entender: fome, epidemias, secas, mudança de regime hidrológico, tudo. Nessas circunstâncias, é possível que cheguemos a um momento em que noções como Brasil, Estados Unidos, países, comecem a perder a sua nitidez. Pode ser que daqui a 50 anos a palavra Brasil não tenha mais nenhum sentido. Que tenhamos que falar em Terra. "

Existe uma crise ambiental em escala mundial e nós nos tornamos os próprios índios, com o risco de sermos dizimados por nós mesmos ao destruirmos o mundo. Como viver diante do fim do mundo e como viver após o fim deste mundo? O fim do moderno, do ocidente, de 1500 anos de predação. Depois de encarar o trauma dessa posição, talvez só nos reste um hiperpessimismo otimista : ) Ou vice versa!

Aqui uma fala inspiradora do Viveiros de Castro sobre "os fins do mundo" e outras questões que vamos debater na próxima quarta-feira no Curso de Pós Graduação da ECO/UFRJ 

http://www.youtube.com/watch?v=8C6EZXDb7G0#t=144


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