quinta-feira, 22 de abril de 2010

Candidato do PSOL, Plínio promete combate a Serra e chama Dilma de "técnica"




Plínio de Arruda Sampaio, candidato do PSOL à Presidência

Guilherme Balza

Fundador do PT e um dos principais ícones da esquerda brasileira, Plínio de Arruda Sampaio, 79, foi eleito pelo PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) para disputar a sucessão presidencial em meio à maior crise vivida pelo partido em seus cinco anos e meio de história. Uma parcela significativa da legenda, liderada pela presidente do partido, Heloísa Helena, defendia a formação de uma coligação encabeçada por Marina Silva, candidata à presidência pelo PV.

A Executiva Nacional do PSOL foi contra esta opção, argumentando que o programa político do PV e as suas alianças nos Estados --sobretudo com o PSDB-- divergiam das posições centrais da sigla. Diante da decisão, o grupo da alagoana e da deputada federal Luciana Genro (RS) lançou o nome do goiano Martiniano Cavalcante nas eleições internas.

No início deste mês, a alguns dias do Congresso do partido que definiria o candidato, a página principal do PSOL foi assumidamente “sequestrada” e tirada do ar pelo grupo de Heloísa, sob a alegação que os controladores do site estariam fazendo campanha antecipada para Plínio. O paulista acabou eleito, mas a alagoana, que disputará uma vaga no Senado, já sinalizou que não apoiará o correligionário, se confirmada a sua candidatura.

Em entrevista ao UOL Notícias, Plínio disse que não há qualquer possibilidade de o PSOL escolher outro candidato. O ex-deputado constituinte, cuja candidatura tem apoio de intelectuais como Paulo Arantes, Fábio Konder Comparato, Aziz Ab'Saber e Chico de Oliveira, afirmou que defenderá um programa socialista para o país e que "combaterá fortemente" as candidaturas de Dilma Rousseff e de José Serra.

UOL Notícias - A sua candidatura foi lançada em meio a uma grande crise no PSOL. A Heloísa Helena disse na semana passada, em entrevista ao UOL Notícias, que trabalhará internamente pra aprovar a abertura de um congresso extraordinário que redefinirá a candidatura do partido. O senhor realmente será o candidato do PSOL ou existe a possibilidade de isso mudar?

Plínio de Arruda Sampaio - Nenhuma. Juridicamente e politicamente nenhuma. O PSOL já tem candidato. Inclusive vários dos meus adversários [internos] já declararam apoio.

UOL Notícias - Como o senhor vê essa crise no PSOL, um partido que nasceu para retomar algumas bandeiras históricas do PT, mas em apenas cinco anos de existência tem um futuro incerto?

Plínio - Todo partido de esquerda tem muita briga. É normal isso. O partido de esquerda é composto por pessoas com ideias programáticas, valores. Nos partidos de direita o conflito político é conduzido de outra maneira, por baixo dos panos. Eles têm interesses, que são mais fáceis de conciliar. Agora, quando o assunto é definir uma linha programática, é mais difícil do que unir interesses.

UOL Notícias - Pela força do nome e o desempenho em 2006, a escolha de Heloísa Helena para a disputa presidencial era a opção favorita das principais lideranças do PSOL e também de outros partidos. Se ela voltar atrás e resolver se candidatar, o senhor retiraria sua candidatura?

Plínio - Nessas alturas isso é impossível. Ela quer se eleger senadora. Teve todas as chances de se candidatar à presidência, mas ela não quis.

UOL Notícias - Qual a sua expectativa para as eleições nos Estados. Acredita que o PSOL elegerá senadores e deputados?

Plínio - Somos um partido pequeno. Eu, que fundei o PT, sei o que são os primeiros anos de uma sigla. Nos primeiros cinco anos do PT não elegemos ninguém. Colocamos candidatos para serem vistos, mas não elegemos ninguém, isso numa época em que o movimento de massas era muito grande. Isso [o movimento de massas] está anestesiado, mas se fizermos uma boa campanha, já é um avanço político.

UOL Notícias - Em 2006, o senhor conquistou uma boa parte do eleitorado na reta final, obtendo uma votação razoável para um partido pequeno, eleitoralmente falando. Quais as pretensões e os objetivos de sua candidatura nesse ano?

Plínio - Vou fazer a mesma coisa. Sou cavalo de chegada. Devagarinho no começo e com chegada forte no final.

UOL Notícias - O senhor já disse que sua candidatura é uma espécie de “anticandidatura” para apontar um caminho aos que não concordam com os programas do PT e do PSDB e não tem a ambição de se eleger. Mas, se acontecer o improvável e o senhor for eleito, quais os rumos tentará dar ao país?

Todo mundo sabe que eu sou um socialista. Se eu for eleito o socialismo irá avançar no país.

UOL Notícias - Neste ano dificilmente haverá uma frente de esquerda, com PSOL, PCB e PSTU, como ocorreu em 2008. O senhor trabalhará para compor a frente?

Plínio - Já estou trabalhando fortemente. Seria extremamente importante nos unir, inclusive para diminuir essa ideia de que a esquerda é dividida. Não perdi as esperanças. Vamos tentar unir os socialistas.

UOL Notícias - O senhor é amigo pessoal de Serra e foi um dos principais ícones da história do PT, o partido de Dilma. Como o senhor avalia os programas das duas candidaturas e a atuação de ambos nos últimos cargos que ocuparam?

Plínio - Eu sempre separei amizade de política. Eu sou amigo do Serra, mas vou combatê-lo. Ele está errado, fazendo uma política de direita, contra o povo, e eu vou enfrentá-lo fortemente.

UOL Notícias - E com relação à Dilma?

Plínio - Eu não conheço essa senhora. Nunca a vi. Ela não é uma figura clássica da política. Ela se tornou uma técnica, fez um trabalho técnico, e voltou pra política. Se ela for defender o governo Lula, e é óbvio que ela o fará, vou combatê-la fortemente. Ele [o Lula] é um desastre para o povo brasileiro. Veja o que aconteceu hoje (anteontem, quando a entrevista foi feita, foi realizado o leilão para a instalação da usina de Belo Monte, no sul do Pará). Essa usina vai ser construída em um lugar que não tem demanda. Vai ser necessária uma linha de transmissão de mais de 1.000 km para chegar no primeiro centro consumidor, sendo que há no vale do rio São Francisco muita energia para ser explorada. Belo Monte vai demorar 10 anos para ser construída e vai custar R$ 30 bilhões do dinheiro do povo brasileiro. Além disso, será um desastre para os povos locais e para o meio ambiente.

UOL Notícias - O senhor apoiaria o Serra ou a Dilma no segundo turno?

Plínio - Não. Um candidato de esquerda não pode votar numa candidatura de direita. Se Serra e Dilma forem ao segundo turno não teremos opção. Eu proporei ao partido que votemos nulo. O partido que vai decidir, mas acredito que nós temos que marcar uma posição de protesto contra os dois.

UOL Notícias - Como o senhor enxerga a candidatura de Marina Silva, à qual o seu partido cogitou dar apoio?

Plínio - A Marina é ecologista, mas não se posiciona como socialista. Ela defende a ecologia até o ponto que o capitalismo deixa. Quando o capitalismo não deixa, ela cede. No caso dos transgênicos, na transposição do rio São Francisco e na destruição da floresta Amazônica foi assim. Esse é o problema do “ecocapitalismo”: quando mexe no lucro, ele não enfrenta o capitalismo. E a Marina não tem uma posição frontal quanto a isso. E é por isso que as bases do nosso partido escolheram não apoiar a candidatura dela.

UOL Notícias - O senhor aceitará dinheiro de empresas privadas para o financiamento da sua campanha, como ocorreu com a sua companheira de partido Luciana Genro, que recebeu R$ 100 mil da Gerdau em 2008, na disputa pela prefeitura de Porto Alegre?

Plínio - Não. Temos uma decisão do partido que diz que não se pode receber dinheiro da empresa privada. Não vamos receber dinheiro de empresa privada. Vamos receber contribuições de pessoas físicas. Se um empresário fisicamente quiser contribuir, poderá, mas com pouco dinheiro. Mas não acho que isso vai acontecer. Vamos financiar a campanha com o dinheiro dos nossos militantes.

UOL Notícias - Na sua visão, o financiamento das campanhas eleitorais deve obedecer quais regras?

Plínio - Se vivêssemos em uma democracia, o financiamento de campanha seria público, com o Estado pagando a mesma coisa para cada candidato. Se todos tivéssemos o mesmo financiamento e o mesmo tempo de televisão, aí eu queria ver se o Serra e a Dilma teriam 30% das intenções de voto e nós estaríamos lá embaixo.

Uol

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