quarta-feira, 15 de novembro de 2017

13 observações sobre a resistência ao golpe

Em defesa da democracia, de revogação das reformas liberais, rumo a um novo processo constituinte, orientado pelo combate ao capital financeiro, ao latifúndio, ao imperialismo e aos meios monopolistas de comunicação.

Breno Altman

1. Nem sempre é possível reagir à contrarrevolução nos moldes empregados, por exemplo, pelo chavismo na Venezuela, especialmente frente ao golpe cívico-militar de 2002.

2. Não depende apenas de vontade e empenho da direção política, no momento exato da ofensiva de direita, a qualidade da reação ao golpismo. Se as condições politicas não são preparadas, com antecedência, por uma correta estratégia de poder, o fracasso geralmente é inevitável.



3. A mais importante dessas condições políticas é ter o apoio mobilizado da maioria dos trabalhadores, construindo sua disposição de defender o governo popular como uma batalha de vida ou morte.



4. A verdade é que a orientação petista não tinha como centro de gravidade o enfrentamento inevitável com o núcleo duro das classes dominantes. Não operou os instrumentos de Estado e a política de comunicação nessa lógica, não elevou o padrão de educação política e mobilização social com esse objetivo, não forjou uma aliança orgânica das forças populares que pudesse comandar, em larga escala, um poderoso movimento de contragolpe.



5. Além dessa debilidade estratégica, as decisões tomadas pela presidente Dilma Rousseff, após a vitória de 2014, agravaram fortemente a capacidade de resistência. A chamada política de ajuste fiscal, associada a outras graves concessões, no intuito de apaziguar a escalada desestabilizadora do capital e seus agentes políticos, levou ao desânimo, à divisão e à confusão no campo popular, entregando gratuitamente aos inimigos de classe a narrativa de estelionato eleitoral. Esses erros, somados ao acossamento da Operação Lava Jato, fizeram o governo e o petismo perderem, poucos meses depois do triunfo nas urnas, a maioria da classe trabalhadora e das camadas populares.



6. O derretimento do bloco social progressista foi o elemento principal que permitiu um movimento de massas pró-impeachment, majoritário na sociedade, isolando a valente resistência que rapidamente se organizou no ativismo da vanguarda social, os homens e mulheres que compõem a tropa militante da esquerda brasileira.



7. A presidente Dilma Rousseff foi derrubada não apenas porque havia sido alterada a correlação de forças no parlamento, em função de deslocamento do centro para a direita, mas principalmente porque a onda de apoio popular, decisiva para sua reeleição, tinha se invertido completamente entre 2015 e 2016.



8. Por menos confiança que a maioria do povo depositasse no governo usurpador de Temer e seus aliados, esse sentimento não levava à defesa do governo constitucional ou à interrupção do impeachment, mas a uma postura passiva e de expectativa, avessa à convocação de luta pela legalidade ou qualquer outro gesto de suporte ao governo Dilma.



9. Nem mesmo a cristalização da repulsa ao governo Temer e sua agenda de reformas liberais reverteu esse cenário. A tendência de reaproximação das massas trabalhadoras com o petismo é visível, particularmente notada com o crescimento impetuoso do ex-presidente Lula nas pesquisas eleitorais, mas isso não representa maior disposição de engajamento em combate frontal ao golpismo, muito menos em reverte-lo por eventual retorno ao governo legitimamente eleito em 2014.



10. Essa atitude passiva resulta de uma combinação de fatores: a pressão desmobilizadora da crise e do desemprego, a ilusão eleitoralista alimentada pela própria esquerda desde os anos 90, a atrofia de partidos progressistas e sindicatos, a frustração com o segundo governo Dilma, a desorientação alimentada pela Operação Lava Jato, a proximidade do calendário de sucessão presidencial.



11. Há raiva e desconforto da maioria do povo contra o que significa o governo usurpador e as forças que o apoiam, e esse é o motor de arranque do avanço de Lula e da recuperação petista, mas o ponto de confluência está nas eleições do próximo ano, essa é a batalha central que as classes trabalhadoras indicam estarem dispostas a travar.



12. Da mesma maneira que a ditadura de 1964 não acabou porque a resistência foi capaz de restituir João Goulart ao governo, ainda que ele tivesse bastante mais popularidade que Dilma ao ser derrubado, o caminho da normalização constitucional passa pela realização de eleições livres e diretas para presidente, da mesma maneira que foi o movimento pelas Diretas Já, em 1984, que levou ao capítulo final da derrota do regime militar. Não se trata do que é moralmente justo, mas politicamente possível.



13. Por essas razões, a pedra angular de uma política combativa de esquerda está na defesa de eleições democráticas, em 2018, sem a interdição de Lula, e na eleição de um novo governo popular encabeçado pelo ex-presidente. Essas são as bandeiras que permitem e exigem a construção de um grande e audacioso movimento de massas, comandado pela aliança estratégica das forças populares, com um programa em defesa da democracia, de revogação das reformas liberais, rumo a um novo processo constituinte, orientado pelo combate ao capital financeiro, ao latifúndio, ao imperialismo e aos meios monopolistas de comunicação. Essa batalha pode ser um divisor de águas na história brasileira e organizar em outros termos a reação popular: se a impugnação de Lula representaria a mudança de regime político, consolidando o Estado de exceção, sua participação levaria a uma chance fundamental de derrotar a hegemonia oligárquico-burguesa sobre as instituições e a sociedade.





Opera Mundi

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