sexta-feira, 26 de junho de 2015

Os revolucionários devem atuar nos sindicatos reacionários?


 
Augusto Buonicore

Extrato de : Esquerdismo, Doença Infantil do Comunismo - Vladimir Lênin
 

• Os esquerdistas alemães advogavam a tese de que os comunistas não deveriam atuar em sindicatos reacionários, e nesta qualificação incluíam os sindicatos dirigidos pela social-democracia alemã.
 

• Lênin nega o caráter revolucionário da tática esquerdista. Ela seria profundamente errônea e colaboraria para manutenção da influência burguesa sobre os operários.


 

• Um exemplo: Os bolcheviques demonstraram, ainda em 1905, a utilidade desta tática atuando clandestinamente em um dos sindicatos mais reacionários da Europa: o sindicato organizado por Subatov, agente da polícia tzarista. A ação bolchevique foi tão eficiente que em pouco tempo retirou os operários da influência reacionária da direção policial e colocou-os sob a direção dos elementos mais revolucionários.
 

• Afirma Lênin: "Não atuar dentro dos sindicatos reacionários significa abandonar as massas operárias insuficientemente desenvolvidas ou atrasadas à influência dos líderes reacionários, dos agentes da burguesia, dos operários aristocratas ou 'operários aburguesados'".
 

• Continua o autor: "deve-se trabalhar obrigatoriamente onde estejam as massas (...) e os sindicatos e cooperativas operários (estas pelo menos em alguns casos) são precisamente as organizações onde estão as massas"
 

• Para Refletir: No movimento sindical brasileiro, especialmente no final da década de 70, este debate esteve bastante aceso: atuar ou não na estrutura sindical oficial? Alguns setores defenderam que os operários mais avançados deveriam formar organizações livres à margem da estrutura sindical oficial. Ainda hoje estas posições esquerdistas encontram guarita no seio de algumas correntes que se recusam a atuar onde não tenham hegemonia e buscam construir organizações paralelas supostamente puras, adotando posições divisionistas. Busque localizar traços destas concepções na prática política das correntes que atuam no movimento de massas no Brasil.
 

• Ao defender a participação nos sindicatos reacionários ele não traça nenhuma equivalência entre a organização sindical e a organização partidária. O partido era uma forma superior de organização dos operários.
 

• "Os sindicatos representam um progresso gigantesco da classe operária nos primeiros tempos do desenvolvimento do capitalismo (...) significam a passagem da dispersão (...) aos rudimentos da união da classe".
 

• Mas, continua o autor, "quando começou a desenvolver-se a forma superior de união de classe dos proletários, o partido revolucionário do proletariado, (...) os sindicatos começaram a manifestar inevitavelmente certos aspectos reacionários, certa estreiteza grupal, certas tendências para o apoliticismo, certo espírito de rotina, etc."
 

• Era preciso que os revolucionários tivessem consciência disso e assumissem o seu papel de vanguarda no processo educativo desta massa de homens e mulheres formadas pelo capitalismo. Era com estes homens e mulheres que seria feita a revolução e construídas as primeiras etapas do socialismo. Afirma Lênin: "adiar a ditadura do proletariado até que não reste nenhum operário de estreito espírito profissional, nenhum operário com preconceitos tradeunionistas e corporativistas, seria um erro ainda mais grave".
 

• Mesmo na ditadura do proletariado é "inevitável a existência de certo 'espírito reacionário' nos sindicatos".
 

• Importante: Então para Lênin o sindicato tem um duplo caráter: de um lado é uma escola do comunismo e de outro uma organização limitada, quando comparada ao partido revolucionário. O sindicato une parte da classe (uma categoria, os sindicalizados) na luta econômica de classes. O partido representa os interesses histórico-universais do proletariado em seu conjunto. À vezes ocorrem contradições entre os objetivos mais limitados (corporativos) dos sindicatos e os interesses gerais da classe que em tese devem estar representados no partido. Nisto reside a persistência de certo "espírito reacionário" nos sindicatos durante a ditadura do proletariado.

 

Capítulo VIII - Nenhum compromisso?
 

• Respondendo aos blanquistas, afirma Engels: "Os comunistas alemães são comunistas porque, através de todas as etapas intermediárias e de todos os compromissos criados não por eles, mas pela marcha da evolução histórica, vêem com clareza e perseguem constantemente seu objetivo final.". Estes imaginam que "basta o seu desejo de saltar etapas intermediárias e os compromissos para que a coisa esteja feita (...) Que pueril ingenuidade a de apresentar a própria impaciência como argumento teórico!".
 

• Existem compromissos e compromissos. "Todo proletariado conhece greves, conhece "compromissos" com os odiados opressores e exploradores, depois dos quais os operários tiveram de voltar ao trabalho sem haver conseguido nada ou contentando-se com a satisfação parcial de suas reivindicações. Todo operário (...) percebe a diferença existente entre um compromisso imposto por condições objetivas (...) que nada diminui (...) a disposição de continuar a luta dos operários que o assumiram - e um compromisso de traidores ...".
 

• Na política, onde as coisas são mais complexas, nem sempre é fácil estabelecer quais são os compromissos justos e necessários e quais são os compromissos que acarretam prejuízos para o desenvolvimento do processo revolucionário.
 

• Por isso é necessário a existência de uma organização partidária com quadros experimentados que "além dos conhecimentos e da experiência", tenham "sagacidade para resolver bem e rapidamente as questões políticas complexas".
 

• Ao contrário do que imaginam os esquerdistas "a história do bolchevismo, antes e depois da Revolução de Outubro, está cheia de casos de manobras, de acordos e compromissos com outros partidos, inclusive os partidos burgueses."
 

• A conclusão a que chega Lênin é de que não se deve "renunciar de antemão a qualquer manobra, explorar os antagonismo de interesses (...) que dividem nossos inimigos, renunciar a acordos e compromissos com possíveis aliados (ainda que provisórios, inconsistentes, vacilantes, condicionais)". Esta foi a lição ensinada pela revolução russa e sistematizada pela 3ª Internacional sob a direção de Lênin.
 

• Para refletir: No Brasil estas lições extraídas da revolução russa permitiram aos comunistas estabelecerem alianças, ainda que provisórias, com setores da burguesia durante o movimento de oposição a ditadura militar até 1985. Foi graças a existência deste ampla frente democrática, apoiada por uma amplo movimento de massas, que se conseguiu derrotar a ditadura militar no colégio eleitoral. A existência desta frente possibilitou a realização da grande campanha das diretas já! Quais outros exemplos de políticas amplas de alianças na história recente do país?
 

Capítulo X - Algumas conclusões

 

• Lênin defende que os comunista devam estar preparados para utilizar todas as formas de lutas, as legais e as ilegais. "Em política é ainda menos fácil saber de antemão que método de luta será aplicável e vantajoso para nós, nessas ou naquelas circunstâncias futuras. Sem dominar todos os meios de luta poderemos correr o risco de sofrer uma derrota fragorosa (...) Se dominamos todos os meios de luta, nossa vitória estará garantida".
 

• Continua o autor: "Os revolucionários inexperientes imaginam freqüentemente que os meios legais de luta são oportunistas (...) e que os processos ilegais são revolucionários. Mas isso não é justo (...) os revolucionários que não sabem combinar as formas ilegais de luta com todas as formas legais são péssimos revolucionários"

PCdoB


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