terça-feira, 31 de março de 2015

O PT arranjou inimigos quando dizia a verdade


Reflexões sobre o paradoxo petista

Juremir Machado 

Nunca morri de amores pelo PT. Os marxistas não gostam de anarquistas. Essa sempre foi a leitura que fiz da situação. A bem da verdade, nunca morri de amores por partido algum. A minha tarefa na vida, porém, é trazer contradições e paradoxos à tona. A direita gosta de mim quando me vê como antipetista, mas me detesta quando imagina em mim inclinações esquerdistas e até petistas. Todo partido que se mete em ilícitos deve ser condenado. Nesse sentido, pelo mensalão e pelo petrolão, o PT merece apanhar. Os antipetistas não gostam, contudo, que se fale que o PT não está sozinho. Veem nisso uma manobra para aliviar o petismo. Essa reação revela um sintoma: a corrupção não é o problema maior para quem assim se manifesta, mas o próprio PT. O antipetista, mais do que tudo, combate a corrupção do PT. Deve ter razões para isso. Razões ideológicas.

O paradoxo do PT é que, apesar de tudo que se roubou (alguns dos seus militantes foram condenado pelo mensalão), parece mais odiado por outra coisa: por ter dito, quando surgiu, que os outros roubavam. O problema não seria roubar, mas ter apontado o dedo, na sua origem, para os outros acusando-os de ladroagem. A prova disso é que, volta e meia, alguém fala assim: “O problema do PT é a sua arrogância. Quem não se lembra do tempo em que eles se apresentavam como campeões da ética e da moral?” Esse tempo passado incomoda: foi dessa forma que o PT entrou no clube dos poderosos. E ninguém gosta de ser acusado nem de ter seus negócios atrapalhados. A crítica a esse passado moralista do PT denuncia uma falsidade pretérita, uma hipocrisia evidente e, subliminarmente, um aborrecimento. Fica implícito que se o PT não tivesse apontado o dedo em riste para os outros no passado os seus desmandos de hoje não pareceriam assim tão graves.

O PT arranjou inimigos quando dizia a verdade. Não é odiado por ter-se tornado igual aos que o odeiam, mas por ter, um dia, ousado dizer que era diferente e botado o dedo na face cândida dos oponentes, com os quais, na maioria, se aliaria depois. O pecado do PT está na mitologia da sua fundação. A narrativa fundadora foi eficaz para ganhar adesões e promover uma diferença, mas deixou marcas que não se apagam. Como poderiam os donos do poder perdoar um partido de intelectuais e sindicalistas que entrou em cena de dedo em riste zombando da corrupção da elite, elegeu um operário semianalfabeto presidente da República, investiu em políticas sociais, botou mais gente nas universidades que os doutores que o precederam e, no maior cinismo, meteu, como os demais, a mão na coisa pública? Insisto: a corrupção é horrenda.

Para alguns, no entanto, só choca a corrupção petista. Isso não pode ser atenuante para o PT.

Ninguém me convence, contudo, de que a corrupção é o que está mobilizando o antipetismo. Trata-se de um justo pretexto.

O principal é outra coisa: o velho ressentimento contra o petismo primitivo. O PT incomoda menos por roubar do que por ter dito que os outros roubavam. A única saída é colocar os ladrões de todos os partidos na mesma cadeia para quem acertem suas contas e o Brasil toque em frente. A vingança maligna dos ofendidos é fazer de quem disse que os outros roubavam o maior ladrão de todos os tempos. O rótulo está colando. Os lacerdinhas sonham com a volta do Antigo Regime: corrupção sem denúncia. A mídia não se interessa por roubalheira de direita. Se o PT estiver neutralizado, a vida será tranquila.

Não quero assustar os lacerdinhas, mas sou obrigado a avisar: cuidado com o PSOL.

Correio do Povo


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