sábado, 27 de setembro de 2014

O recado dos atleticanos aos torcedores racistas


José Antonio Lima

A torcida do Atlético-MG deu na noite de quinta-feira 25 um raro alento a quem busca traços de civilidade no futebol, e um recado aos torcedores racistas. Antes da partida entre o Galo e o Santos, pelo Campeonato Brasileiro, os atleticanos aplaudiram e gritaram o nome de Aranha, o goleiro adversário.


A atitude da torcida do clube mineiro tem embutida em si uma mensagem fundamental: quando se trata de racismo, há muito mais “em jogo” do que os eventos unicamente esportivos. Ao denunciar as injúrias racistas que sofreu por parte de torcedores do Grêmio, Aranha não buscava benefício esportivo, mas dignidade e civilidade.


Ficou claro na semana passada que a torcida do Grêmio não entendeu do que se tratava aquele episódio. Como escreveu o atleticano Idelber Avelar, o segundo jogo entre Grêmio e Santos em Porto Alegre era uma oportunidade única, histórica, mas milhares de gremistas falharam miseravelmente. Ao vaiar Aranha, os torcedores do segundo jogo nada mais estavam fazendo do que referendando o crime cometido na partida anterior.


Depois das vaias, e das críticas, muitos gremistas inventaram toda sorte de desculpas para a atitude de seus colegas tricolores: Aranha não aceitou desculpas, Aranha não aceitou ser homenageado pelo Grêmio, Aranha generalizou os gremistas… Em meio ao chorume racista que acompanhava algumas dessas justificativas, e que, como já dito, nega ao negro até mesmo o direito de se sentir ofendido, esses torcedores tinham uma impressão em comum: o Grêmio está acima de tudo.


Não está, nunca estará. O amor pelo Grêmio ou por qualquer outro clube não pode suplantar a busca por uma sociedade civilizada. Quem luta contra o racismo deve ser apoiado, e não hostilizado. Assumir esse papel é tão difícil que Gil, zagueiro do Corinthians, desistiu de processar o torcedor são-paulino que o chamou de macaco após uma brincadeira com Alexandre Pato. “Fica muito vulnerável isso daí. Não é o meu caso que vai fazer isso acabar no futebol. Prefiro não falar mais, não vou levar isso adiante, caso encerrado. Acredito que não vai mudar muita coisa”, disse. A fala de Gil é a resignação diante da força brutal do racismo e de seus defensores e negadores.


Os estádios não são centro de barbáries, nos quais é permitido ser irracional e criminoso. Como microcosmo da vida, o futebol atrai seus aspectos positivos e negativos. Que a pressão para a evolução da sociedade continue adentrando também as arquibancadas.


Esportefino Carta Capital

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