sábado, 25 de março de 2017

95 anos nesta noite. Sob o peso da Revolução Proletária

Renato Dias

Partidão foi fundado no dia 25 de março de 1922, por nove trabalhadores, sendo oito ex-anarquistas

Comunistas deflagraram putsh militar de novembro de 1935, foram derrotados e amargaram 10 anos de repressão

Sigla recusou-se a adotar estratégia de luta armada contra ditadura de 1964, mas teve 10 membros do CC desaparecidos

Estratégia, hoje, da legenda é formar uma frente com PSol e PSTU, preparar greve geral e derrotar reformas liberais

25 de março de 1922, Niterói, Rio de Janeiro. Nove trabalhadores fundam o Partido Comunista do Brasil, o PCB. Integravam a relação: Astrojildo Pereira, Cristiano Cordeiro, João da Costa Pimenta, José Elias da Silva, Joaquim Barbosa, Luís Peres, Hermogêneo da Silva, Abílio de Neguete e Manoel Cendón. Oito haviam sido carimbados, no passado, pelo anarcossindicalismo, uma corrente da luta de classes que se contrapõe ao marxismo. O Partidão, como era chamado na década de 1960, século 20, chega aos 95 anos de história sob uma das mais graves crises econômicas, políticas e institucionais do Brasil Republicano. É o que informa a secretária-política, uma espécie de presidente, da legenda da foice e do martelo em Goiás, a professora do IFG e mestre em Educação, Marta Jane, uma mulher cult, bela e radical.



– O PCB quer construir, com PSTU e PSol, uma frente de esquerda para arrancar o futuro.



Os comunistas classificam a deposição de Dilma Rousseff, em 2016, como golpe. Mais: atacam as medidas ultraliberais adotadas por Michel Temer [PMDB-SP]. O pacote de concessões e de privatizações, que pode incluir até o Aeroporto Internacional de Goiânia, é a entrega do patrimônio público para bolsos privados, denuncia. A líder da legenda, que integra o Comitê Central [CC], diz que o congelamento dos gastos públicos por 20 anos pode desmontar o Estado Nacional. As áreas de Saúde, Educação, Habitação e Bem-Estar Social serão atingidas, desabafa. A Reforma do Ensino Médio ameaça o futuro da Educação no Brasil, atira. É um retrocesso sem precedentes, fuzila. A docente teme também a aprovação, no Congresso Nacional, com o aval do palácio do Planalto e do TSE, da Reforma Política, ainda em 2017.



– A Reforma Política pode extinguir partidos de esquerda como PCB, PSTU, PSol e PCO, ao retirar o Fundo Partidário e o tempo para propaganda em Rádio e TV, assim como a sua representação parlamentar. Um dano enorme à já frágil e recente democracia brasileira.



Sair às ruas



Sair às ruas e deflagrar uma greve geral nacional para impedir a aprovação da reforma da Previdência. É o que ela propõe. As medidas do governo federal elevarão o tempo de contribuição para a Previdência Social para 49 anos e a idade mínima, para homens e mulheres, para a aposentadoria, para 65 anos. O benefício não deve acompanhar os reajustes do salário mínimo. Levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE] aponta que existem regiões no Brasil, como a Nordeste e a Norte, em que a expectativa média de vida não atinge a idade mínima para a obtenção da aposentadoria integral, relata ao Diário da Manhã. Trabalhadores podem morrer sem conseguir aposentar-se, acredita. A estratégia neoliberal é transferir a Previdência para o mercado privado, metralha a ‘enfant terrible’.



– Fora, Temer; greve geral nacional; todos às ruas, já!



Além da reforma da Previdência, Marta Jane afirma que Michel Temer e a sua base parlamentar querem desonerar o capital, a folha de pagamento, e retirar direitos históricos dos trabalhadores, amparados pela CLT, como direito de greve, décimo terceiro salário, 1/3 de férias, férias, FGTS, multa por demissão sem justa causa, folga de fim de semana remunerada. Não podemos admitir, insiste. É voltar ao passado, desabafa. Nem Fernando Henrique Cardoso [PSDB-SP], o ‘Príncipe da Privataria’, como definiu-o Elio Gaspari, ousou em ir tão longe na destruição do projeto nacional-estatista. O Partido Comunista Brasileiro exorciza a abertura da economia e a permissão para que empresas multinacionais explorem o Pré-Sal, commoditie que financiaria o futuro do Brasil nas áreas de Educação e Saúde, com receitas vinculadas, diz.



– O partido está instalado em todo o Brasil e atua no movimento sindical como Corrente Unidade Classista.



Histórico



Pesquisadora, Marta Jane afirma que, em 1935, existia pulsação real nas lutas de classes no Brasil. Apesar disso, o ‘Cavaleiro da Esperança’ Luiz Carlos Prestes, um revolucionário entre dois mundos, como conceitua-o o historiador Daniel Aarão Reis Filho, teria realizado uma avaliação do cenário político e militar precipitada ao deflagrar o putsch – com o suporte da Terceira Internacional, o Komintern –, explica ela. Preso em 1936, o secretário-geral nacional do PCB ficou atrás das grades até abril de 1945. Já Olga Benario, sua mulher, uma judia comunista alemã, acabou deportada, com o referendo do Supremo Tribunal Federal [STF], no mesmo ano, para a Alemanha. Sob a hegemonia do nacional-socialista Adolf Hitler, que detonou a Segunda Guerra Mundial e exterminou mais de seis milhões de judeus.



– Entre eles, Olga Benario…



Legalizado, em 1946, o PCB, como Partido Comunista Brasileiro, não como Partido Comunista do Brasil, elegeu um senador da República, Luiz Carlos Prestes, e dezesseis deputados federais. Na lista, Jorge Amado, o carbonário baiano filho de um italiano com uma negra da etnia haussá Carlos Marighella, além de João Amazonas, um ‘baixinho combativo’. A festa dos comunistas não durou muito. Eurico Gaspar Dutra cassa o registro legal da sigla e o PCB cai, mais uma vez, na clandestinidade. O PCB, em 1964, dá sustentação ao projeto nacional-reformista de João Belchior Marques Goulart, que anunciara, em 13 de março, em comício para 300 mil trabalhadores, as Reformas da Base. Fardados e civis o depuseram em primeiro de abril daquele ano trágico. Registro: com o apoio dos Estados Unidos da América [EUA].



PCdoB



– Antes, em 1962, o PCB sofreu uma dissidência. Um grupo liderado por João Amazonas, Diógenes Arruda, Pedro Pomar e Ângelo Arroyo cria o PCdoB, Partido Comunista do Brasil, que no ano de 1972, incorporaria a AP, Ação Popular, e deflagraria a Guerrilha do Araguaia.



A professora Marta Jane confidencia que o PCB recusou a estratégia de luta armada para derrotar a ditadura civil e militar e construir o socialismo no Brasil. O caminho seria formulado sobretudo por ALN [Ação Libertadora Nacional, de Carlos Marighella e Carlos Eugênio Sarmento Coelho da Paz]; VPR [Vanguarda Popular Revolucionária, de Onofre Pinto e Carlos Lamarca]; VAR-Palmares [Vanguarda Armada Revolucionária – Palmares, de Carlos Franklin da Paixão Araújo, Antônio Roberto Espinosa e Dilma Vana Rousseff], além do MR-8 [Movimento Revolucionário Oito de Outubro, liderado por Franklin Martins, Daniel Aarão Reis Filho, Vladimir Palmeira, Vera Magalhães e Samuel Aarão Reis]. Apesar disso, 10 membros do seu Comitê Central, órgão máximo deliberativo da sigla, foram mortos e desaparecidos em 1974 e 1975



– Crimes de lesa-humanidade!



Com a Anistia, em 1979, Luiz Carlos Prestes retorna ao Brasil. Giocondo Dias se torna o novo secretário-geral. O PCB começou a trilhar para o reformismo, avalia Marta Jane. Os comunistas apoiam a conciliação pelo alto e a instalação do Colégio Eleitoral, que referenda Tancredo Neves. Com a morte de Tancredo Neves, o Brasil acorda com José Ribamar Sarney, dorme com a inflação e elege Fernando Collor de Mello, em 1989. O candidato dos comunistas naquele pleito era Roberto Freire, atual ministro da Cultura do ‘golpista’ Michel Temer, ataca ela. Roberto freire extingue o PCB, em 1992, funda o PPS, uma legenda de direita, hoje, dispara. Os comunistas reconstroem o PCB e dão, a partir de 2005, uma guinada revolucionária e socialista ao partido, analisa a professora do IFG. A luta, hoje, é também pela revolução e o socialismo, diz



– Como na Rússia de 1917, que em 2017, completa aniversário de 100 anos…



“Antes, em 1962, o PCB sofreu uma dissidência. Um grupo liderado por João Amazonas, Diógenes Arruda, Pedro Pomar e Ângelo Arroyo cria o PCdoB, Partido Comunista do Brasil”



Marta Jane , Professora do IFG

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