sábado, 16 de julho de 2016

Intolerância e Democracia religiosas no tempo das novas mistificações

Márcia Tiburi

Deus sempre foi usado por pessoas e instituições como uma espécie de verdade que tudo justifica. Barbaridades e maldades foram feitas em nome de Deus.

Violências físicas e simbólicas são até hoje realizadas pelas mais diversas pessoas e religiões em nome de Deus.

Podemos citar exemplos históricos envolvendo intolerância religiosa, algo que se dá sempre em nome de Deus. Judeus, cristãos e muçulmanos de tempos em tempos massacram uns aos outros tendo como base a ideia de que o Deus único no qual creem está mais para o seu lado do que do lado dos outros. A caça às bruxas medieval, a perseguição a ateus e apostatas, não difere muito da contemporânea perseguição às mulheres e à homofobia das quais algumas Igrejas – instituições reconhecidas por sua misoginia – ainda estão cheias. Muitos dos crimes motivados pelo preconceito e pelo ódio tem como base ideias religiosas e obscurantistas sobre supostas verdades acerca da natureza humana e da natureza divina. Deus desde sempre é um tema que, como política e futebol, tem o poder de reunir fanáticos e separar cidadãos. Deus pode ser um perigo.

Para evitar guerras e violências é que se defende um Estado laico, um Estado sem religião oficial e que sustente a democracia religiosa, ou seja, o direito de cada um exercer sua crença respeitando a do outro. Democracia religiosa é algo que só um Deus amoroso pode desejar. Mas nem todo mundo usa um Deus bacana, um Deus do bem, para fazer religião, muita gente quando faz religião nem lembra que um bom Deus possa existir.

Assim é que se usa Deus – que nem imagina o que pode estar sendo feito em seu nome. Podemos dizer que, em nossa época, “Deus” está baratinho, pode ser vendido em qualquer esquina, basta alguém resolver explorá-lo como se explora uma criança na rua ou uma mulher sexualmente. A cafetinagem de Deus sempre foi um bom negócio.

É assim que, no Brasil, as igrejas crescem como nunca. O poder religioso exercido pelas igrejas é poder como outro qualquer: violência, força, dominação, controle para sua própria manutenção. O poder religioso não vem sozinho, ele implica o poder do dinheiro com o qual as três grandes religiões sempre estiveram envolvidas. Riqueza e pobreza defendida por uns e outros em tempos e contextos diversos serve ao poder econômico de poucos, como sempre. Qualquer igreja, de um modo geral, nada mais faz do que administrar a fé no contexto do capitalismo. A fé é usada como Deus é usado. Capitalismo é religião mesmo quando nenhum outro deus além do capital está em jogo, mas sempre que o capital se confunde com Deus, quando Deus é o próprio capital, então esse poder é levado a uma potência indescritível.

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