sábado, 25 de junho de 2016

Crimes que compensam


Wanderley Guilherme dos Santos

A sociedade brasileira pagará inflacionado preço político, econômico e jurídico pela obsessão da equipe da Lava Jato. Foi solta Nelma Kodama, criminosa, reincidente em atentados contra o patrimônio público e contra as finanças do Estado. Esperta, tanto quanto seu ex-marido, Alberto Youssef, só por conveniência os procuradores curitibanos afirmam que devolveu os valores ilicitamente depositados no exterior. O que a libertou não foi a devolução, mas a delação de quem já está na lista negra da Lava Jato. Na realidade, lista branca, pois brancos são Paulo Roberto Costa, Pedro Barusco, Jorge Zelada, Nestor Cerveró, Renato Duque e outros do mesmo time. Alguns, libertados antes da talentosa Kodama, desfrutam a tranquilidade de sítios em regiões serranas; outros, de tornozeleira e copo de uísque, curtem os crimes à beira de piscinas. Proibidos de se ausentarem dos sítios e das piscinas, que fantástica pena!
 


O tempo dirá se os condenados o foram, todos, por justa causa, mas não deveria haver contemplação com predadores. E, em parte, está havendo, via sub-reptícia sentença de meia inocência/meia culpa da real organização que deglutiu a Petrobrás. Enquanto os procuradores e a Polícia Federal desperdiçam dinheiro, tempo e mão de obra na desesperada busca de provas identificando Lula, Dilma e associados como cabeças e estado maior da corrupção, vão liberando para novas aventuras os titulares das falcatruas efetivamente apuradas e sentenciadas até agora. Está na página da Lava Jato: Alberto Youssef, Pedro Barusco, Paulo Roberto Costa, Jorge Zelada, Nestor Cerveró e Renato Duque, com seus subordinados atravessadores, Baiano, Ceará e codinomes similares, foram os organizadores, operadores e beneficiários das tramoias. A esses se junta uma população variável de executivos das empreiteiras, ora da Odebrecht, ora da OAS, ora da Camargo Correia, e por aí vai, conforme o objeto da trapaça – sonda, navio, afretamento, etc. Os bandidos profissionais são constantes. Alberto Youssef, em particular, é um privilegiado larápio: roubara antes, foi preso, foi solto, favorecido por escaninhos da legislação brasileira, reinaugurou, com novos sócios e em escala espetacular, a empresa criminosa, preso outra vez, e outra vez a ponto de ser solto, mimo proporcionado pelo instituto da delação premiada.
 

Está concentrada em parlamentares do PMDB e em verdadeiro batalhão de próceres do PP, a ser enriquecida com as delações de Sergio Machado e Pedro Correa, a conexão política de Alberto Youssef e associados. Um ou outro do PTB, e a grande estrela petista, João Vaccari. Na sentença de Vaccari o juiz Sergio Moro elabora sua teoria gnoseológica do comprometimento de todos os membros do Partido dos Trabalhadores, por ação ou omissão: receptador e distribuidor das propinas, Vaccari teria garantido financiamento ao “projeto de poder” do PT, de que todos os petistas se aproveitaram, conscientemente. Só que, depois de dois anos de sucessivos anúncios de sólidos indícios da participação dos políticos petistas na rede corrupta, os valentes procuradores e policiais federais só encontraram figuras carimbadas: Youssef, Costa, Barusco, Duque, e o Andre Vargas que, em voo solo, extorquiu publicidade da Caixa Econômica para empresa familiar. Ah, sim, além dos milhões e milhões de dólares de Youssef e companhia, soltos, deram com um sítio em Atibaia, alegadamente de Lula, com benfeitorias providenciadas pela OAS.
 

Em meio às piruetas midiáticas para justificar futura prisão do ex-presidente, e desviada a atenção dos telespectadores para buscas hiperbólicas, logo esquecidas, a Lava Jato libertou a quadrilha comprovadamente responsável pelo assalto à Petrobrás. Todos com tornozeleiras, evidentemente. Tirante o incômodo no pé, o crime compensa.


Segunda Opinião

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