terça-feira, 14 de junho de 2016

Decisão dos movimentos sociais do campo: não voltaremos a passar fome e comer palma



O desmonte da estrutura de apoio ao semiárido já começou, mas o povo resistirá às mudanças do governo golpista.
 

Najar Tubino
 
Aracaju (SE) – No dia 8 de junho ocorreu uma plenária geral no IV Encontro de Agricultoras e Agricultores Experimentadores com os movimentos sociais do campo. Participaram Willian Clementino, da CONTAG, João Paulo Rodrigues, do MST, Anderson Amaro dos Santos, do MPA, Naidson Batista, da ASA e Veronica Santana, do Movimento das Mulheres Trabalhadoras Rurais do Nordeste. Resumindo: os movimentos sociais não negociarão com o governo golpista, a partir de agora, cada dia será um novo dia de batalha, não aceitarão o desmonte das estruturas criadas pelos governos progressistas, nem na área previdenciária – como o aumento da idade da aposentadoria -, muito menos na área da produção e comercialização, como PAA e PNAE, além das ações desenvolvidas pelo PLANAPO na área da agroecologia e produção orgânica.

 

As posições dos participantes da plenária depois foram reafirmadas na Praça Valadares, onde aconteceu o ato de protesto contra o governo golpista, apoiado por outros movimentos, como a CTB, quilombolas e indígenas.
 

“!- Precisamos sair das comunidades agora e começar a ocupar as ruas, as estradas e os prédios públicos. Essa é a nossa forma de fazer greve, porque seria uma irresponsabilidade com a nossa família e o país deixarmos de produzir alimentos”, disse Willian Clementino.
 

João Paulo Rodrigues acrescentou: “cada dia será um novo dia de batalha. Nós temos que defender as políticas públicas implantadas e lutar por um novo modelo de agricultura, que envolva a luta pela democratização da terra – partilha da terra-, a produção de alimentos saudáveis e a agroecologia”.

 

Soberania alimentar, agroecologia e economia solidária
 

Veronica Santana fez uma análise sobre a participação das mulheres nas mudanças ocorridas no nordeste:
 

“- Quando os golpistas atingiram a presidenta Dilma atingiram todas nós mulheres. A nossa luta é muito antiga. Começou com a briga para que as mulheres participassem das frentes de trabalho da SUDENE no período de seca, dos governos passados. Depois fomos reconhecidas como trabalhadoras rurais registradas. Aprendemos a fazer política como em nenhuma outra região do país. Ninguém faz mais incidência política como as mulheres do nordeste. E todos os movimentos feministas se encontram na Marcha das Margaridas. Nós temos que lutar por três bandeiras: soberania alimentar, agroecologia e economia solidária”.
 

E completou: “a gente não pode mais deixar que a Rede Globo golpista faça o debate na nossa casa, nas nossas comunidades. Nós temos que responder, discutir com nossos vizinhos, temos que ganhar no boca a boca”.
 

O que está em jogo não é a cor do chapéu
 

Willian Clementino também falou sobre a unidade dos movimentos na Frente Brasil Popular, responsável pelo Ato na Praça Valadares:
 

“- Vamos sair daqui e lutar para formar o nosso governo novamente. O que está em jogo agora não é a cor do chapéu, o nome do movimento ou da organização. É a nossa vida. Nós brigamos para conseguir o que temos e não vamos retroceder. Nossa briga com eles é nas ruas”.
 

Naidson Batista, último a falar disse: “a vida dos agricultores e agricultoras experimentadores é um caso de resistência. Eles produzem conhecimento, são sujeitos da sua história. E os golpistas não querem os agricultores e agricultoras como sujeitos da história, querem que continuem como ajudantes de coronéis, como um lixo da sociedade”.
 

O desmonte começou: chamada de ATER cancelada
 

Mas o desmonte da estrutura, além do MDA, que o povo do semiárido quer de volta, assim como outras organizações sociais do campo, já começou. Esta semana o Diário Oficial publicou o cancelamento de uma chamada de ATER – assistência técnica e extensão rural, que beneficiaria 188 mil famílias em 26 estados e o Distrito Federal:
 

“- A chamada tem por objeto a seleção de entidades para prestação de serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural para qualificação de gestão, apoio ao fortalecimento e à inserção de organizações econômicas da agricultura familiar nos mercados institucionais públicos e privados”.
 

Imediatamente 930 cooperativas ou organizações produtivas deixarão de ser apoiadas ou assessoradas na gestão dos seus negócios. O apoio significa a visita de um técnico duas vezes por semana e a cada semestre essas organizações participam de rodadas de negócios para o encontro de oferta e demanda, principalmente para compras públicas da merenda escolar, restaurantes universitários ou para o Programa de Aquisição de Alimentos. Entre os agricultores que deixarão de ser beneficiados estão 42 mil mulheres, 13 mil jovens e 8,5 mil pertencentes a povos e comunidades tradicionais.
 

Avancem, avancem, avancem
 

Na visita que fizemos em Porto da Folha, no sertão sergipano, a 200 km de Aracaju, a comitiva do IV Encontro, cerca de 60 pessoas, almoçou na Associação de Mulheres Resgatando a Sua História. O almoço tinha o seguinte cardápio: frango caipira ao molho, porco caipira frito, dois tipos de arroz, feijão, farofa de feijão de corda, massa, salada de tomate com alface e, de sobremesa, picolé à vontade. Comi dois pratos. Acho que engordei uns três quilos em quatro dias de encontro.
 

Essa é a verdadeira mudança que ocorreu no campo nos últimos 13 anos, claro, junto com capacitação, formação, tecnologia, intercâmbio, troca de experiências e a definição de políticas públicas que dão suporte às ações dos agricultores, agricultoras, camponeses e povos tradicionais.
 

No ato de encerramento na Praça Valadares os índios Cariri Xocó, de Alagoas realizaram uma cerimônia chamada de TORÉ, que foi acompanhada por muitos participantes do evento. O indígena que puxava a reza contava uma história de um pagé, que falava ao povo quando eles estavam sendo atacados na sua aldeia. O pagé dizia o seguinte:
 

“- AVANCEM, AVANCEM,AVANCEM. Não tenham medo”.

 

Carta Maior

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