terça-feira, 15 de setembro de 2015

O problema do Brasil não é a despesa, é a receita. E o poder


Fernando Brito
O economista André Perfeito, da Gradual Investimentos, é dos poucos que usa os números da economia como elemento de raciocínio com mais peso que a simples repetição do mantra “corta-corta” do neoliberalismo.
É elaborado por ele e publicado em seu facebook o gráfico aí de cima, com a sua avaliação do que ele mostra: ” Vemos na ponta que o que caiu foi a receita, não foi a despesa que subiu. Em tempo: a despesa não cresceu segundo sua tendência. Isto sugere que o ajuste vai ser no fim do dia no aumento de impostos.”


O trabalho de Perfeito tem várias constatações que “batem de frente” com o “diagnóstico” supérfluo que fazem de nossa economia e, sobretudo, de nossas contas públicas.


Não houve “explosão” de despesas públicas, ao contrário. Nem por “excesso” de programas sociais, nem por “gigantismo” de programas de investimento público.


O insuspeito economista Mansueto de Almeida – integrante da equipe de Aécio Neves na campanha eleitoral do ano passado (sim, a campanha eleitoral foi no ano passado, nem parece, não é?) – apresenta, em seu blog, um resumo bem esclarecedor sobre como se distribuem as despesas de custeio da União, excluídas as transferências constitucionais obrigatórias, com dados acumulados de janeiro a maio deste ano: dos R$ 312 bilhões gastos, “R$ 268,66 bilhões (88,88%) são despesas de cinco funções sociais: assistência social (LOAS, Bolsa Família e Serviço Social de Proteção Básica); Previdência (pública e INSS); Saúde, Trabalho (seguro desemprego e abono salarial); e Educação”. Somando-se subsídios à atividade econômica, desoneração das folhas de pagamento (redução de impostos, portanto) e pagamento de sentenças judiciais, chega-se a 94,3% dos gastos.


É claro que em todos estes setores se pode fazer economia, racionalizações e mesmo cortes.


Mas o gráfico elaborado por André Perfeito mostra que isso, embora deva ser feito, é gota d´água.


Pior: além de um certo ponto, é veneno, porque faz cair a atividade econômica e, com ela, a receita de impostos.


E, da capo, a mesma trágica sinfonia.



É por isso que ceder além de um certo ponto nas exigências – que são políticas, não econômicas – de cortes pesados nas despesas públicas não é uma concessão, é um suicídio.




Conviver com deficit, ao contrário do que se apregoa, não é mortal e é assim que o mundo está vivendo, com muito maior expressão do que o 0,5% do PIB que está sendo apresentado aqui como a “morte do Brasil”.


Hoje, ainda, o site de dados econômicos The International Spectator publica no twitter os dados do deficit ou superávit de países selecionados. Você confere ao lado a turma “gente boa” que tem deficits muito maiores.


Pode-se procurar em toda a imprensa mundial e não se encontrará – senão em relação à Grécia, antes do acordo com a UE e o FMI – nenhuma gritaria exigindo zero déficit ou o “queremos superavit” que campeia aqui.


Pela simples razão do que o que se busca aqui não é a recuperação da economia, mas recuperar o poder.


Sem voto, claro.


Tijolaço

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