terça-feira, 15 de setembro de 2015

Luta de classes na Ilha Fiscal


“Empresários ativos na política, pró-Dilma ou não, dão um mês de prazo para governo arrumar as contas”, escreve Vinicius Torres Freire, jornalista, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 13-09-2015.

Eis o artigo.

Há um grupo de empresários ativo na política da crise que "tolera" aumento de impostos mas "encaminha sugestões" de corte de despesas públicas, tem paciência limitada e pragmática com Dilma Rousseff e prefere que a saúde do governo se estabilize, ainda que em nível crítico, até antes de novembro.

Essa é a cara simpática da coisa. Algumas dessas pessoas não acreditam que o governo vá arranjar os mais de R$ 60 bilhões que faltam para que se entregue um projeto de Orçamento com superavit primário de 0,7% do PIB em 2016. A maioria, aliás, nem se ocupa desses detalhes.

Os bons economistas que trabalham para essas pessoas, quase todos com passagens pelo governo, fazem previsões disparatadas de resultado primário, de zero a deficit de 1% do PIB em 2016, diferença de mais de R$ 60 bilhões.

Então qual é a conversa? Sem novidades no front, afora a ideia de que o governo tem um mês, por aí, para arrumar qualquer coisa que ponha ordem na casa.

Todo mundo parece cônscio do calendário da crise: Lula ameaça largar Dilma, em outubro o TCU manda as contas condenadas da presidente ao Congresso e em novembro o PMDB pode pular do barco.

No mais, trata-se de:

1) Manter Joaquim Levy, por ora a âncora de um plano do que, acham, deve ser feito da política econômica. No mínimo, porque ainda não sabem o que viria após Levy ou Dilma-Levy, para nem falar do tumulto da transição e do "povo na rua";

2) Estabilizar a situação, dar "um jeito" no Orçamento de 2016, com cortes sociais "inevitáveis" e contenção de reajustes de salário mínimo e servidores. Tudo de modo a preparar talho mais "estrutural": reforma administrativa, revisão de contratos, Orçamento "base zero" e cadeado de gastos do INSS. Se necessário, algum "sacrifício": até imposto ruim (variantes de CMPF) e, ora vejam, sobre heranças ("não vai render grande coisa").

Essa é uma versão bem organizada do que se diz. Essas pessoas não estão preocupadas com tecnicalidades. Têm "programas" tão informais quanto isso que se aqui se chama de "grupo": são mais uma rede de banqueiros maiores, empresários grandes e consultores. Todos dão palpites discretos ou participam de discussões de assuntos públicos, mas de hábito se mantêm à margem da política.

Pode-se chamá-los, por comodidade, de "Comitê Levy".

Há ao menos um outro "comitê", com muitos industriais, de gente mais envolvida em política, vários próximos do PMDB. Seguram-se para não pedir explicitamente a cabeça de Dilma. Como parte relevante do PMDB, vários têm birra de Levy. Quanto ao destino da presidente, importam-se mais com o "timing" político do que com a economia.

Fazem campanha furiosa contra impostos. Vários sentem saudade do "nacional-empresismo" do desenvolvimentismo dilmiano. Seriam o Comitê Industrialista. Alguém pode chamá-los de Linha Fiesp-Firjan-CNI, mas nesse mundo também há divergências grandes.

Aliás, é difícil ouvir empresário e executivo de qualquer ramo que não queira ver a presidente pelas costas já. Foram contidos graças às declarações públicas de banqueiros maiores pedindo "calma, pessoal" –muitas dessas pessoas temem banqueiros grandes. Mas a paciência parece se esgotar em todas as frentes.

IHU UNISNOS


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