quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Os clichês nordestinos no cinema nacional


Débora Marx

Já percebeu que pro cinema só existem, praticamente, 3 tipos de nordestinos? Aquele “sabido” que enrola os outros, que carece de honestidade. O "engraçadinho", matuto, que faz piada das desgraças o tempo todo e o "cangaceiro" que sempre quer matar alguém com a peixeira. O mais intrigante é que consumimos essa verdade “oficializada” da região e, não questionamos até quando os filmes vão vomitar seus clichês em nós reforçando essa visão deturpada em todo o país.



Cactos, solo rachado, mandacarus, homens e mulheres pobres, falta d’agua , seca... Esses são só alguns dos inúmeros estereótipos que rondam o nordeste brasileiro no cinema atual. Parece-me, que os diretores, produtores e roteiristas não vêem graça em abordar um nordeste que cresce, se transforma e se inova.

Acontece, que a indústria de cinema atual- me refiro às grandes produtoras- preferem ficar presas ao nordeste miserável e seco cantado por Luiz Gonzaga, à visão de Portinari em suas telas e , até mesmo, às colocações e retratações de Graciliano Ramos. O passado acaba desabando no nosso presente e determinando o nosso futuro. Infelizmente.

Por esta razão, as subjetividades, as possibilidades e as multiplicidades de todo um povo são anuladas em prol de um visão equivocada sobre uma falsa semelhança entre todos os indivíduos.

Dessa forma, as obras cinematográficas levam para o Brasil um olhar ainda pertencente ao passado e reforçam o clichê de um povo miserável, sem instrução, violento e ,essencialmente, pobre . Assim, presenciamos há décadas uma repetição incansável dos mesmos padrões e estereótipos acerca de uma região. Como se independente de haver litoral, brejo e agreste o nordeste continuasse sendo seca em sua totalidade.

Grande percentual dessa visão vem do Movimento Modernista e do Regionalismo que influenciou os cinemanovistas e vendeu essa idéia para o país na década de 20. Vê-se que hoje, vender pobreza, sofrimento, e dor ainda rendem alguns tostões. Afinal, qual seria a graça de mostrar um nordeste que cresce? De mostrar estudantes premiados na área da tecnologia e da computação? De falar de pessoas instruídas, letradas e que fazem a diferença em suas áreas de atuação? Não, não, não... Nordeste bom é nordeste onde o povo passa fome! Onde as mulheres ficam a bordar suas toalhinhas em casa e os homens ainda andam de jumento - senhores roteiristas, as indústrias automobilísticas chegaram aqui faz tempo! Desenrolem pelo menos um celtinha para os protagonistas-.

Já percebeu que pro cinema só exitem, praticamente, 3 tipos de nordestinos? Aquele “sabido” que enrola os outros, que carece de honestidade. O "engraçadinho", matuto, que faz piada das desgraças o tempo todo e o "cangaceiro" que sempre quer matar alguém com a peixeira. O mais intrigante é que consumimos essa verdade “oficializada” da região e, não questionamos até quando os filmes vão vomitar seus clichês em nós reforçando essa visão deturpada em todo o país.

Como diz Durval Muniz, grande estudioso da área, esse discurso sobre nós “é uma voz arrogante que se dá o direito de dizer o que é o outro em poucas palavras, o estereótipo nasce de uma caracterização grosseira e indiscriminada do grupo estranho”.

No fim, sabemos a importância de cada artista, que em sua área, falou do nordeste e expôs uma realidade da época, que retratou o então homem sofredor sertanejo... Sabemos que de fato essa situação existiu, talvez ainda exista (dada as reais proporções). O que queremos não é desvalidar as obras passadas, mas questionar até quando só haverá isso para se mostrar de uma região tão rica culturalmente. Até quando?


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