segunda-feira, 20 de abril de 2015

Luta de Classes ganha a cena política através do PL das Terceirizações


Ana Maria Prestes * 

O primeiro trimestre de 2015 foi marcado por um ambiente político e social tenso e conflagrado. O terceiro turno eleitoral parecia ter se instalado à revelia da posse presidencial e do início dos trabalhos do novo governo.
 

Partidos de oposição, grande mídia e, até então, ilustres desconhecidas organizações da sociedade civil articularam uma ofensiva nas ruas, nas redes e na imprensa que parecia bastante vigorosa e pujante. Um cenário, no entanto, em que as principais contradições postas à mesa denunciavam certa esquizofrenia política. A forjada contradição entre os “pró” e “contra” corrupção era estéril.

  Eis que ao final deste primeiro trimestre dá entrada na cena política a mãe de todas as contradições: Capital x Trabalho. Entrou como um divisor de águas, como uma organizadora da confusão, dando nomes aos bois e revelando que o principal esvaziamento da base de apoio ao governo tem razões materiais e objetivas, para além das políticas. Dona contradição maior, que também atende pelo nome “luta de classes é o motor da história” chegou quando o capital cobrou sua fatura aos políticos recém-eleitos. Para chegar ao “paraíso” do parlamento, negociaram direitos trabalhistas e sociais dos eleitores. Agora retribuem à altura.
 

Foi o início da votação de um projeto que regulamenta a terceirização da força de trabalho por empresas, e as relações trabalhistas dela decorrentes, que fez o mundo político recordar que vivemos sob a égide de um sistema dividido por interesses de classe. Uma vez aprovado, sancionado e transformado em lei, o PL 4330 poderá provocar um aumento do risco de acidentes de trabalho, uma redução nos salários, no número de postos de trabalho e aumento das horas trabalhadas, além de uma maior dificuldade para fazer valer a responsabilidade dos empregadores perante os trabalhadores. Entre as mulheres este impacto pode ser ainda maior, uma vez que configuram maioria entre terceirizados e recebem somente 80% do salário dos homens, segundo dados da pesquisadora da Unicamp Juliane Furno em recente artigo no site Brasil Debate.
 

A investida contra os trabalhadores desnudou a oposição e o oportunismo das pretensas bandeiras anticorrupção. Estas sim difusas e de fácil convocação para mobilizações. Faz sentido para grande quantidade de pessoas ir às ruas para protestar contra a corrupção. Mas quando o sujeito percebe que sua ação política pode estar servindo para legitimar um projeto que desvaloriza e precariza o seu trabalho, de seus vizinhos, filhos, amigos, irmãos, o “sentido” deixa de fazer sentido. Não existe ação política que não esteja imbuída de sentido. Mesmo que ele demore a ser revelado. Cabe à esquerda consciente e comprometida com os trabalhadores recolocar o embate político no eixo e retomar seu espaço nas ruas.

* Ana Maria Prestes é Doutora em Ciência Política pela UFMG. Membro do Comitê Central do PCdoB.

Vermelho


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