quarta-feira, 2 de abril de 2014

Apague o ditador da sua escola!


 Sobre uma lição de Walter Benjamin

. “Costa e Silva, Emílio Médici e tantos outros não podem ser exemplo para as crianças e jovens brasileiros", propõe campanha.

No aniversário de morte do estudante Edson Luís, assassinado pela ditadura, e para marcar a passagem dos 50 anos do Golpe Civil-Militar, o Levante Popular da Juventude lançou a campanha “Apague o ditador da sua escola!” O movimento pretende realizar uma mobilização nacional para modificar os nomes das escolas públicas que homenageiam ditadores. “Costa e Silva, Emílio Médici e tantos outros não podem ser exemplo para as crianças e jovens brasileiros. É hora de mudar essa realidade, por Memória, Verdade e Justiça!” – propõe a campanha que disponibilizou uma petição online em apoio à iniciativa e também uma cartilha para ser utilizada nas escolas.

A campanha do Levante foi inspirada, entre outras coisas, pela decisão do governo do Estado da Bahia que mudou oficialmente o nome do Colégio Estadual Presidente Emílio Garrastazu Médici para Carlos Marighella. A medida foi tomada a partir de uma solicitação de alunos, ex-alunos, professores e pais. O pedido para a substituição do nome ocorreu em dezembro, quando houve uma eleição da qual participaram professores, funcionários, estudantes e pais de alunos do colégio. Marighella foi o mais votado (406 votos ou 69%), seguido do geógrafo baiano Milton Santos (1926-2001), com 128 votos.

A mudança foi publicada no Diário Oficial do Estado (DOE) no último dia 14 de fevereiro. Segundo levantamento preliminar realizado pelo levante, existem em todo país aproximadamente 1.000 escolas municipais, estaduais ou federais identificadas pelo nome dos cinco ditadores que ocuparam o posto de presidente no Brasil entre 1964 e 1985.

Segundo a diretora da escola, Aldair Almeida Dantas, há mais de dez anos havia uma inquietação por parte do corpo de professores, principalmente dos profissionais da área de Ciências Humanas, Filosofia e História, com o nome da escola. “Este ano, porém, decidimos levar esse desejo dos professores à frente. Mas não foi algo de uma hora para outra. Realizamos um longo trabalho de pesquisa junto a toda a comunidade escolar, e percebemos que esse era um desejo comum”, disse ao jornal Estado de São Paulo.

A eleição virou uma aula de história para toda a comunidade. A história de vida de Marighella e Milton Santos foi apresentada aos alunos, por meio de vídeos, exposições, explanações e debates. A escola tem cerca de mil alunos e oferece cursos do ensino fundamental, ensino médio e profissionalizante. O resultado do processo de escolha foi submetido à apreciação da Secretaria de Educação do Estado, que aprovou a iniciativa.

Está aí um belo exemplo a ser seguido. Além do sentido simbólico e do resgate da memória, é uma oportunidade para as comunidades escolares estudarem a história de seu país. Quais foram mesmo os crimes de Médici, que era gaúcho aliás, durante a ditadura? Esse não é um assunto que interessa aos nossos estudantes?


Uma lição de Walter Benjamin

Walter Benjamin: "Também os mortos não estarão seguros diante do inimigo, se ele for vitorioso".


A tese VI das “Teses Sobre o Conceito de História” (1940), de Walter Benjamin, trata da importância de travar batalhas sobre a narrativa do passado. Nela, o autor afirma:

“O dom de atear ao passado a centelha da esperança pertence somente àquele historiador que está perpassado pela convicção de que também os mortos não estarão seguros diante do inimigo, se ele for vitorioso. E esse inimigo não tem cessado de vencer”.

Em certo sentido, os golpistas que rasgaram a Constituição brasileira e o voto popular, duas instituições essenciais da democracia, seguem vitoriosos até hoje, na medida em que não foram julgados pelos crimes cometidos. Entre esses crimes, estão muitos crimes comuns como sequestro, violação, tortura e assassinato. Pior do que isso, sequer na disputa simbólica de atribuição de nomes a espaços públicos eles foram derrotados. As iniciativas que agora começam a surgir com mais força no Brasil, como essa do Levante, são uma tentativa de romper esse bloqueio e, principalmente, de retomar a luta para derrotar esse inimigo que está sempre à espreita em nosso país: o autoritarismo, a violência e o desprezo pela democracia.


Sul 21

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